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quinta-feira, 21 de junho de 2012

mudam-se os tempos

Gosto muito de comprar livros. Embora não consiga ler todos os títulos que adquiro, sempre dou uma passada pela estante para, aleatoriamente, abrir um deles e ler algum trecho que possa acalmar o corpo e o espírito. Ou que sirva de inspiração, apenas.

E foi assim que reencontrei os sonetos de Camões no livro “Lírica, Redondilhas e Sonetos”, da Biblioteca da Folha. Li com atenção, sobretudo, aquele que fala sobre mudança e que confirma meus sentimentos. Aliás, os livros têm essa obrigação: falar o que queremos e precisamos ouvir.

Estava a pensar sobre mudanças. Ao rever alguém depois de uma década sem contato, o que eu gostaria de dizer? Que pouco mudou na minha trajetória? Ou que houve uma reviravolta e que hoje sou outra pessoa? Nem pouco nem tanto, talvez. Mas, com certeza, ficaria feliz ao surpreender meu interlocutor com novidades, a começar pelos cabelos. Dizia o poeta português: “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Até mesmo a mudança muda, ele enfatiza. Penso que fugir do novo é entregar-se ao marasmo do destino. Como bem destacou o também poeta e dramaturgo russo Vladimir Maiakovski, “melhor morrer de vodca que de tédio.”

Vou pensar, mais um pouco, no tema e no que mudou na minha vida nos últimos dez anos. Quem sabe não tenha muito a contar. Assim, espero.

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
     Muda-se o ser, muda-se a confiança;
     Todo o mundo é composto de mudança,
     Tomando sempre novas qualidades.
 Continuamente vemos novidades,
     Diferentes em tudo da esperança;
     Do mal ficam as mágoas na lembrança.
     E do bem, se algum houve, as saudades.
 O tempo cobre o chão de verde manto,
     Que já coberto foi de neve fria,
     E em mim converte em choro o doce canto.
 E, afora este mudar-se cada dia,
     Outra mudança faz de mor espanto,
     Que não se muda já como soía."
Mude

Vídeo que vi em 2003. Até as imagens dele mudaram. Confesso preferir a versão anterior. Pois é, nem sempre as mudanças agradam ;-)

segunda-feira, 18 de junho de 2012

outono

Após o compromisso que me fez sair de casa mais cedo que de costume, entrei no café da Aliança Francesa. Pedi um chá de laranja com especiarias e madeleines de Proust, que nada mais são que bolinhos com traços de limão. Sentei-me junto à janela e, assim como o autor francês, fui levada a uma sucessão de pensamentos involuntários.

Na verdade, a parada, antes de entrar na empresa em que trabalho, foi um pretexto para a leitura de mais um capítulo de “A Casa das Orquídeas”, de Lucinda Riley. Depois escrevo mais sobre ele. Mas passei por um trecho que me deixou com vontade de continuar lá por mais tempo.

Primeiro porque a combinação do chá com as madeleines estava muito boa. Segundo, e principalmente, porque a manhã estava bem agradável. Céu azul, leves raios de sol e um friozinho convidativo. Clima típico do outono. Cenário perfeito para uma boa leitura. E, de certa forma, parecido com a passagem do romance em minhas mãos.

Lá duas personagens estão na varanda de um castelo a desfrutar do fim da tarde de um verão inglês (que aqui vou comparar ao nosso outono). Tomam vinho rose francês e planejam o próximo dia: “Depois vamos passear pelos jardins e eu vou lhe mostrar a estufa. Pode pegar o livro que quiser na biblioteca. Há uma casa de verão protegida atrás do caramanchão das rosas, à esquerda do jardim murado, onde costumo me sentar para ler.”

Pronto. Bastou ler isso para eu ficar assim. A devanear. Calmamente, olho para a rua e vejo pessoas subindo a calçada apressadas. Os carros disparam buzinas impacientes e o congestionamento de metas se instala. Mas não sou influenciada por esse motim. Será que não estou no lugar certo e nem na hora certa? Tomo o último gole de chá e guardo a madeleine que sobrou. Quem sabe não precise dela mais tarde, quando a quimera se for.

Fez parte dos devaneios

quinta-feira, 7 de junho de 2012

bonsai

O que esperar de um livro que começa assim: “no final ela morre e ele fica sozinho”?

Pois esperem muito. “Bonsai”, do chileno Alejandro Zambra, eleito pela revista britânica Granta um dos 22 melhores jovens escritores hispano-americados, é para ser lido sem intervalos. Com um pé na poesia, seu texto passa por nossos olhos e vai direto para a alma. Difícil evitar comparações com nossa experiência em alguns momentos. Difícil não imaginar exatamente as cenas que ele descreve. Difícil não se deixar envolver pelos personagens.

O livro é pequeno, quase um conto. Não há travessões ou aspas para os diálogos. As conversas surgem e se confundem com os pensamentos, como já fazia Saramago. Claro que com outro estilo e outra proposta. “Bonsai” conta o começo, o meio e o fim de um caso de amor. Ou melhor, conta mais ou menos fim, mais ou menos o começo e muito do meio, que foram os momentos mais intensos e repletos de leituras na cama. Julio e Emília nutriam esse hábito intelectual: buscavam nos livros a inspiração para aquecer o romance e a noite.

Mas um conto do argentino Macedônio Fernández vai afetá-los profundamente. Não fica evidente o que acontece depois, assim como todo o resto parece ficar no ar. A vida não é assim, afinal? A dúvida sempre nos persegue e nos instiga a usar ainda mais a imaginação. Já dizia Nietzsche em “Além do Bem e do Mal”: “toda credibilidade, toda boa consciência, toda evidência de verdade vêm apenas dos sentidos.” Fiquemos, então, com os sentidos para fantasiar as coisas que não foram ditas pelo narrador onisciente, porém, omisso.

Emília disse a uma amiga que criticava o casal: “qual o sentido de ficar com alguém se essa pessoa não muda a sua vida?” Eu digo: “qual o sentido de um livro se ele não muda a nossa vida?” E o bonsai? Bem, possivelmente seja a miniatura das intenções em movimento.

“Leram 'O livro de Monelle', de Marcel Schwob, e 'O pavilhão dourado', de Yukio Mishima, que foram razoáveis fontes de inspiração erótica para eles. Mas logo as leituras se diversificaram a olhos vistos: leram 'Um homem que dorme' e 'As coisas', de Perec, vários contos de Onetti e de Raymond Carver, poemas de Ted Hughes, de Tomas Tranströmer, de Armando Uribe e de Kurt Folch. Até fragmentos de Nietzsche e de Émile Cioran eles leram.”


terça-feira, 5 de junho de 2012

a elegância do ouriço

Por que muitas vezes camuflamos nossos sentimentos e vontades? Apenas para parecermos diferentes ou para nos sentirmos protegidos? Essas questões, acrescidas de reflexões filosóficas e sociológicas, são os ingredientes de "A Elegância do Ouriço", da francesa Muriel Barbery.

Duas narradoras, as personagens principais, se intercalam nessa bela obra: a concierge (porteira com funções de zeladora) viúva de cinquenta e quatro anos Renée Michel e a rica menina Paloma Jesse, de apenas doze. Ambas moram num sofisticado bairro de Paris e tentam ser o que não são.

Com a certeza de que é inferior aos demais, Renée se disfarça de porteira comum e estereotipada. Mas ela tem um segredo que partilha apenas com o gato Leon e com os leitores: a paixão pela literatura e pelo cinema. Diante dos moradores não passa de uma mulher despreocupada com a própria aparência e que conjuga erroneamente os verbos. Fora do expediente, lê os russos, analisa os filósofos franceses, assiste a filmes japoneses e tem um bicho de estimação com o primeiro nome de Tolstoi. "Ser pobre, feia e além do mais inteligente condena, em nossas sociedades, a percursos sombrios e sem ilusões, aos quais é melhor se habituar cedo."

Já Paloma nasceu rica e prefere ocultar seus desejos por meio do olhar vago. Seu confidente é apenas o diário. Possui um repertório literário e filosófico incomum para uma criança. Mas esconde esse lado. Num ambiente rico, ser superdotado significa ter que mostrar isso a todo o momento por meio de exposições típicas da alta sociedade. Melancólica, planeja o suicídio. "Tenho de dar duro para parecer mais idiota do que sou. Mas de certa forma isso não impede que eu morra de tédio: não preciso passar o tempo todo aprendendo e compreendendo, uso o tempo para imitar o estudo, as respostas, os modos de agir, as preocupações e os pequenos erros dos bons alunos comuns."

Pelas observações irônicas e psicológicas das duas, conhecemos os moradores, as empregadas domésticas e os visitantes do prédio. Mas é o novo habitante, o elegante japonês Kakuro, que vai movimentar o ambiente. É justamente esse estrangeiro que vai descobrir as verdadeiras intenções e gostos de Renée e Paloma. Ele foi o único a realmente vê-las.

Quantas pessoas nos são invisíveis por que não conseguimos enxergar além do que acreditamos ser o mais importante? Muito perde aquele que não percebe a graciosidade e a perspicácia que há por trás dos espinhos de um ouriço.



quinta-feira, 31 de maio de 2012

nina e billy

Eles são irmãos. Mas não poderiam ser mais diferentes. Ela é toda delicada, educada e gosta de passar horas no colo das pessoas.

Ele já é arisco, impaciente, pula de um lado para o outro e não é muito chegado a carinhos. Mas também não gosta de nos ver agradando a irmã. Seu ciúme não permite. Atenção só para ele. Desde que não seja agarrado, porque esperneia e rosna.

Billy descansando

Nina é mais velha e é do meu tio. Como dizem, é uma “mocinha”. Não importa quem chegue, ela faz festa. Toda pequenina, vem rebolando ao nosso encontro. Quando não está tosada, parece uma bolinha de pelo bege rolando pelo quintal. Adora brincar com garrafas vazias.


Nina com seu "brinquedo" favorito

O Billy era da minha prima. Mas acabou ficando amigo do Pirulito e por lá ficou. Aliás, eles se entendem muito bem e é contagiante vê-los a brincar e a correr pelo quintal. O Pirulito é quatro vezes maior que ele. Mas esse não é motivo suficiente para assustá-lo. “Como faz para pedir?” Esse é o código para ganhar petiscos. É fácil, basta sentar e aguardar. E os dois fazem isso sem hesitar.


Brincadeira de cachorro

A Nina não precisa desse passo. É tão dócil que ninguém resiste em dar o que ela quer.

Venha aqui

Recentemente, Billy e Pirulito tiveram um desentendimento. Dizem que a inquietude do Billy acabou com a paciência do Pirulito. Espero que seja apenas uma briga passageira.

E que os três continuem juntos por muitos e muitos anos.

sábado, 19 de maio de 2012

15 motivos para ler e ter chatô

1 Assis Chateaubriand foi dono de quase cem jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão. Formou-se em Direito e chegou a destacar-se como advogado, representando grandes empresários de sua época. Mas gostava mesmo é de escrever, especular e testar a todo o momento sua influência.

2 Ele foi um apaixonado pelo ofício. Mesmo após a trombose no cérebro, continuou a trabalhar. Sem os movimentos do corpo e sem poder falar, utilizava como tradutora de seus murmúrios sua fiel enfermeira Emília. Conseguiu, ainda, uma máquina adaptada que permitia que ele continuasse a escrever seus artigos e a alfinetar os desafetos com apenas um dedo, o único que ainda respondia a seus comandos.

3 A leitura de “Chatô, o Rei do Brasil”, sua biografia escrita por Fernando Morais, é obrigatória para os profissionais de comunicação e por todos que querem conhecer um pouco mais a história do Brasil.

4 É uma aula sobre o jornalismo no País. Mostra os primeiros diários, as primeiras emissoras de rádio e a PRF-3-TV Tupi, ou simplesmente TV Tupi, que inaugurou a televisão na América Latina.

5 Querer é poder, sim. Assis Chateaubriand sempre acreditou que seria o rei da comunicação. Em 1924, aos 32 anos, realizou seu sonho de ter um jornal. Para isso, não mediu esforços e lábia para conquistar adeptos ao seu projeto. Banqueiros, industriais, políticos, todos foram procurados e rederam-se às investidas do jornalista. Outra passagem que ilustra essa sua característica foi durante a coroação da rainha britânica. Ficou indignado por não ter conversado com a soberana. O aborrecimento levou-o a utilizar toda a sua obstinação para ser embaixador do Brasil no Reino Unido, apenas pelo capricho de ter alguns minutos com Elizabeth II. Apesar de tudo, é fácil não julgar seus artifícios na formação de seu império: chantagens veladas, dívidas ignoradas, matérias pagas, notícias inventadas ou capangas para assustar quem o contrariasse. Já diziam, "como resistir àquele homenzinho elétrico?"

6 O início da publicidade no Brasil é retratado no livro. "Familiarizado com a imprensa estrangeira, Chateaubriand sabia que para dar lucros um jornal deveria ter anunciantes." Na década de 20, não havia meia dúzia de agências de publicidade no Brasil. Mas, pessoalmente, tentava convencer os amigos a investirem na tal propaganda, tão na moda lá fora. Anos depois, criou com o publicitário Rodolfo Lima Martesen a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

7 Há toda a linha do tempo da revista O Cruzeiro, que rapidamente tornou-se a mais importante do Brasil. "A publicidade do primeiro número prenunciava tempos de vacas muito gordas para Chateaubriand. Quase metade das 64 páginas estava repleta de anúncios (...) No miolo, impressos em sofisticado papel cuchê e ilustrados por fotografias em abundância, artigos, reportagens e contos traziam, sob o título, um inexplicável e preciso registro: o tempo necessário para o leitor ler cada um deles. Por exemplo, a leitura da entrevista exclusiva com o presidente de Portugal, Oscar Carmona (feita por Rocha Martins, 'nosso colaborador em Lisboa') iria demandar treze minutos e vinte segundos."

8 Lá estão os primeiros passos de Guimarães Rosa, Tancredo Neves, Otto Maria Carpeaux, Millôr Fernandes, Araci de Almeida, Dorival Caymmi, Paulo Gracindo, Hebe Camargo, Lolita Rodrigues, Carlos Lacerda etc. etc. etc.

9 Fernando Morais transformou a biografia em um romance envolvente e agradável de ler. Melhor: o protagonista sempre tem alguma novidade e missão que vão deixar os leitores ansiosos pelas próximas páginas. Sem contar que era uma figura cômica. Algumas passagens rendem boas gargalhadas, como a inquietação que o levou a criar a palavra "furunfar".

10 Oportunidade para conhecer os bastidores das alianças políticas do Brasil das décadas de 10 a 60 e os movimentos que desencadearam em golpes militares, ditaduras e nas restrições à liberdade de expressão da imprensa. E, de uma forma ou outra, sempre havia “o dedo” de Chateaubriand.

11 As informações sobre sua infância e adolescência são extremamente interessantes. De um garoto tímido, raquítico, gago, transformou-se numa personalidade respeitada em todo o País e até no estrangeiro. Mas há ressalvas, como muito bem definiu um industrial que conviveu com ele: "Chateau é respeitado, mas com o tipo de respeito engendrado pelo medo e não pela afeição." Aliás, o nome Chateaubriand não veio da família paraibana, mas da admiração do avô paterno pelo poeta e pensador francês François René Chateaubriand.

12 Todos os grandes homens e mulheres leram muito. E não foi diferente com ele. Logo cedo, tomou gosto pela leitura e tornou-se autoditada, apesar da alfabetização tardia. Lia Goethe, Nietzsche, Schiller no original, em alemão.

13 Somente os fracos se acomodam. Saiu do primeiro emprego, numa loja de tecido, com o seguinte comentário ao amigo que trabalhava com ele: "ser prudente é antes de tudo ser medíocre. Vamos passar o resto da vida com os cotovelos plantados nesse balcão, cortando pano. Se você quer dedicar sua vida a ser o homem da tesourinha, eu não tenho vocação para isso. Vou-me embora amanhã mesmo." Na verdade, estava de olho nas portas do outro lado da rua: a redação e as oficinas do Jornal Pequeno, diário fundado no século 19, em Recife.

14 Chateaubriand imaginou uma grande galeria de artes. Os italianos Lina Bo e Pietro Maria Bardi foram os escolhidos para concretizar o projeto. Com a recessão da Europa após a segunda guerra mundial, os saíram comprando quadros das famílias falidas. Era o início do Museu de Artes de São Paulo, o Masp, batizado com o nome do jornalista após sua morte.

15 Para agradar as pessoas basta homenageá-las. Com essa ideia, criou a campanha para arrecadar aviões a fim de formar pilotos no Brasil. As doações eram feitas pelas empresas. Sempre com festa, discursos e matérias no dia seguinte. Também criou e saiu distribuindo a Ordem do Jagunço, condecoração que até Churchill recebeu. Será que é muito diferente do que acontece hoje?


 

quinta-feira, 17 de maio de 2012

nuvem de palavras

Olhem a nuvem de palavras do Livros e Motivos formada no site www.wordle.net. Destaque para as palavras dos últimos posts ;-)


pirulito que bate bate

“Não sei o que está acontecendo com este cachorro, mas ele está derretendo. Vai sumir desse jeito.” Com essas palavras, minha mãe alertava sobre a pele do cachorro recém-adotado.

De fato, o bichinho, que tinha no máximo dois meses, estava com sarnas pelo corpo inteiro. E a pele soltava-se quando passávamos os remédios.

Foi encontrado na rua. Estava todo encolhido e muito fraco. Nem chorava, como costumam fazer os filhotes deixados sozinhos.

Daí o veterinário receitou cálcio.

E ele cresceu. Foi apelidado de Pirulito, que tornou-se seu nome oficial.


Cresceu.


Cresceu mais um pouco.


E hoje cá está. Bem grande. Sempre que quer atenção, olha com cara de “coitado”.


Também é forte. Não há quem consiga passear com ele na rua. A última tentativa da minha mãe terminou com ela sendo arrastada por quase um quarteirão. Detalhe: sentada, já que não conseguiu ficar em pé. “Tive vontade de soltá-lo. Cachorro tonto”, brinca ao lembrar-se da cena.

Engraçado que ele sabe quando tem que ser cuidadoso. Prova disso é a forma com que trata os cachorros menores, quase que os acariciando com sua pata e focinho enormes. Delicadeza ausente no trato com os maiores.

 
Está sempre sorrindo (sim, os cachorros sorriem) e disposto a brincar. Não fica magoado por ficar tanto tempo sozinho em seu canto, sem nossa presença. Aliás, sempre faz festa quando nos vê.


Canto para ele: “Pirulito que bate bate. Pirulito que já bateu. Quem gosta de mim é ele. Quem gosta dele sou eu.” Ele adora. E fica dando voltas e voltas em torno das minhas pernas.

Então, não é fácil ser feliz?

quarta-feira, 16 de maio de 2012

a luz da ioga

 

Conhecida como invertida sobre a cabeça, essa é a posição mais importante da ioga. Chama-se Salamba Sirshasana. Salamba significa apoiado. Sirsha, cabeça. Sua prática constante rejuvenesce a capacidade de raciocínio, pois faz fluir o sangue, tido como mais puro e saudável, pelas células cerebrais. Mas é só uma parte mínima dos benefícios que a ioga pode nos proporcionar.

Essa informação está na edição concisa de “A Luz da Ioga”, de B. K. S. Iyengar. A primeira edição do livro, em sua versão completa, é de 1965. 

Apesar de trabalharmos o corpo durante as posturas, é importante ressaltar que ioga não é exercício físico. O objetivo é maior. A palavra ioga tem origem sânscrita e significa união. Ou seja, é a harmonia completa do ser humano com o seu “eu” interior e o seu “eu” divino, a fim de se obter o domínio do corpo e da mente. Por isso, transcende a atividade física.

Iyengar nos explica os oito estágios da ioga:

Controlam as paixões e emoções do iogue:
1. Yama: mandamentos morais universais
2. Niyama: autopurificação pela disciplina

Conservam o corpo saudável, em sintonia com a natureza:
3. Asana: postura

Regulam a respiração e, por consequência, controlam a mente:
4. Pranaiama: controle rítmico da respiração
5. Pratiahara: remoção e emancipação da mente do domínio dos sentidos e de objetos exteriores

Levam a pessoa a lugares mais íntimos da alma:
6. Dharana: concentração
7. Dhyana: meditação
8. Samadhi: estado de supraconsciência alcançado através da meditação profunda

O livro concentra-se, sobretudo, nos asanas, que são as posturas. De forma direta e didática, traz sugestões, advertências, melhores horários e locais para uma prática saudável e mais condizente com os preceitos da ioga, além de dicas sobre higiene e alimentação. E para cada postura mostra técnicas, grau de dificuldade e efeitos que ela nos oferece. Tanto no corpo como na mente. Aliás, Iyengar é hoje o nome de um estilo que o próprio autor criou, a fim de mostrar que a ioga é para todos. Desconsidere certos exageros na introdução, principalmente no que se refere ao desapego total, e aproveite a leitura. Namastê.

Algumas dicas e mensagens:

"Como um alpinista que não consegue atingir o cume da montanha por falta de vigor, uma pessoa que não consiga superar sua incapacidade de se concentrar é incapaz de atingir a realidade."

"O caráter é moldado pelo tipo de comida que comemos, e pelo modo como nos alimentamos. Os homens são as únicas criaturas que comem quando não estão com fome, geralmente vivendo para comer e não comendo para viver."

"Nenhuma tensão forte deve ser sentida nos músculos faciais, orelhas e olhos, ou nos músculos respiratórios, durante a prática."

"O método certo de executar as asanas traz leveza e ótima disposição tanto para o corpo para a mente e uma sensação de união do corpo, da mente e da alma."

segunda-feira, 14 de maio de 2012

guia das especiarias

Esta dica é para quem gosta de temperar o cotidiano. O “Guia das Especiarias” traz a origem das especiarias. Aliás, das ervas e das especiarias. Embora haja controvérsias, o livro começa apontando a diferença entre as duas: “as ervas seriam plantas anuais, bianuais ou vivazes semeadas com utilidade tanto prática como culinária, enquanto as especiarias seriam plantas lenhosas semeadas.”

Assim, o manjericão, a manjerona são exemplos de ervas, enquanto o alecrim e o tomilho, especiarias. Mas esse é o tipo de definição dispensável quando estamos diante de “poções” que dão mais sabor aos alimentos e, consequentemente, à vida.

A data exata do início de sua utilização é tão antiga quanto a história da humanidade. Há, inclusive, anotações com receitas medicinais gravadas em barro ou papiro. Alguns exemplos são as placas de barro sumérias da Mesopotâmia quatro anos antes de Cristo e uma compilação manuscrita da China com propriedades medicinais das plantas, datada de 2.700 a.C. Seguem-se ainda experiências dos egípcios, gregos e romanos.

Já o primeiro registro culinário é de um século depois de Cristo. Lá estavam receitas com ingredientes que até hoje fazem parte de nossos pratos, como orégano, mostarda, coentro, gengibre e pimenta. Aliás, a pimenta é a rainha das especiarias, ou ervas, tanto faz. Sua procura em Roma era tão grande que chegou ser utilizada como pagamento e até forma tributação. Não por menos, tornou-se o alvo de lutas e conquistas por novas terras. Vale lembrar que foram as pimentas que levaram Portugal e Espanha a enviarem seus melhores navegadores pelos mares a caminho da Índia.

Para cada especiaria, o livro apresenta fotos, seus vários nomes, localização, história, características, floração, componentes, propriedades, aplicação na culinária e na saúde. E aí? Que tal incrementar seu jantar?

Trechos

Manjericão: "A erva muito venerada na Índia pelas suas propriedades fortificantes, está radicada nos países mediterrâneos há séculos. Na antiguidade apreciava-se o seu aroma suave e as formas de pequenas folhas ornamentaram um e outro jardim da nobreza romana."

Alecrim: "Entrelaçado em coroas e composto em raminhos, o alecrim era utilizado como decoração para a noiva e para o casamento, espantava maus espíritos e prometia ser uma proteção efetiva contra a peste. O alecrim era igualmente considerado o símbolo da vida e devido ao cheiro aromático as pessoas acreditavam que fortalecia a memória e mantinha a juventude."

Pimenta: "A pimenta é única entre as especiarias, visto os seus frutos serem comercializados em quatro cores: conforme o tratamento resultam em grãos pretos, brancos, verdes e vermelhos. Na sua Índia natal a pimenta já era mencionada no segundo milênio a.C. e indiano é também o nome de origem para a pimenta: pipali. Com as conquistas de Alexandre, o Grande, e as novas rotas de comércio assim criadas, a pimenta chegou finalmente à Europa, onde passado pouco tempo gozou de enorme popularidade e mostrou ser um artigo de comércio extremamente importante."


Enquanto isso, em casa: primeiras mudas de pimenta