Está bem frio em São Paulo, para meu deleite, já que sou adepta às temperaturas mais baixas. Coisa rara, pois o inverno está cada vez mais escasso neste lado do Equador.
Quando deu cinco da tarde, resolvi dar uma caminhada. Eu estava inquieta porque parecia que não estava aproveitando o dia que tanto aprecio. Caminhei até a livraria mais próxima, curtindo o ar melancólico da cidade, especialmente da avenida Paulista, que se preparava para fechar.
Quando digo fechar, quero dizer que as pessoas já estavam se recolhendo, ambulantes desmontando suas bancas, muitas lojas fechadas e todos encapuzados.
Chamou a minha atenção a quantidade de patinetes disponíveis para os transeuntes. Lamentei não estar com meu celular para alugar um e seguir pela ciclovia, sentindo o vento no rosto.
Cheguei à livraria, onde sempre fico bem. É um ambiente aconchegante, instigante e cheio de possibilidades. Acho que nunca vou ler todos os livros que tenho e, ainda assim, estou o tempo todo em busca de novos títulos.
Hoje me dei muito bem. Logo na primeira ilha de livros, me deparei com vários que, não fossem o preço, o espaço e a decisão de evitar a compra de livros físicos, eu teria levado todos.
Estava ali "Mitz", de Sigrid Nunes, escritora norte-americana que escreveu "O amigo", romance que li recentemente e que trata do luto vivido por uma professora e por um cachorro. O livro que estava na minha frente romanceia a história de um sagui que viveu com Virginia Woolf e seu marido. Ao seu lado estava "O que você está enfrentando", da mesma autora, que inspirou o filme de Almodóvar. Outro animal na capa, desta vez, um gato que, pela contracapa, estava em um abrigo. Preciso muito ler esses livros.
Um pouco mais adiante, me deparei com "A trama das árvores", do romancista norte-americano Richard Powers. Já gostei da premissa, que traz vários personagens que se interligam por conta das árvores. Lembrei muito de quando tivemos que tomar a decisão sobre uma árvore plantada na calçada da casa dos meus pais. Eu era adolescente quando meu pai a trouxe. Mas ela cresceu tanto que começou a invadir a casa do vizinho e precisou ser transferida. Num ímpeto de arrependimento, minha irmã e eu fomos atrás dela, após descobrirmos o local para onde poderia ter sido levada. Tem um texto da Renata aqui no blog sobre isso. Enfim, entrou para minha lista.
Estamos, neste momento, tendo uma avalanche de livros sul-coreanos, muitos dentro do que se chama leitura de cura. Já li vários e entendo que beiram a autoajuda, mas são muito melhores. Porém, se leu um, leu todos. Mas sabe quando queremos mais? Pois bem, eles nos conquistam pela capa, e não tem problema nenhum. Já anotei "A loja de cartas de Seul", de Baek Seung-yeon, que estava lá me chamando. Mas não só de literatura de cura vivem os sul-coreanos. Há romances intensos, como os de Han Kang.
Nessa mesma ilha, encontrei "Sem despedida", que fala de um pássaro que fica só após sua tutora ser hospitalizada. Confesso que estou curiosa para ver essa relação, muito porque lugar de pássaro não é dentro de casa, em uma gaiola. A capa mostra o aprisionamento. Da autora, li "A vegetariana", que fala do devir-vegetal. Espetacular.
Só para constar, gostei muito da capa de "O bom mal", coletânea de contos de Samanta Schweblin, que traz um coelho a contemplar o céu, como que pedindo ajuda. Não deixei na lista porque folheei e me pareceu prosa poética, e tenho certa resistência a esse tipo de narrativa. Posso estar enganada, todavia.
Deparei-me ainda com "Orbital", romance de Samantha Harvey que une astronautas dos Estados Unidos, Rússia, Itália, Japão e Reino Unido em uma missão no espaço. A cada órbita, o livro promete uma reflexão. Gostei.
Outro que também me pareceu ter ligação com meu trabalho foi "Os urubus não esquecem", do professor da USP Pedro Cesarino. Trata de uma mãe indígena que busca pelo filho desaparecido. Curiosamente, a capa traz uma canoa, que esteve presente em um sonho que tive esta noite. Nada acontece por acaso.
E, para finalizar, coloquei na lista de desejos um suspense: "A luz entre as frestas – Inspetor Gamache, Livro 9", de Louise Penny. Passei boa parte da minha adolescência lendo as peripécias de Poirot, de Agatha Christie. Ainda não conhecia o detetive Gamache. Minha dúvida é se posso começar pelo livro 9, que anotei justamente porque se passa no frio, no Canadá, e também na época de Natal. Sim, já estou pensando no que vou ler em novembro e dezembro.
E assim terminei meu dia, cheia de livros, animais e vontade de andar de patinete.
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