Páginas

domingo, 3 de novembro de 2019

a filha perdida



“Um pedido satisfeito torna ainda mais
insuportável a falta não confessada.”


A filha perdida”, de Elena Ferrante, é uma leitura rápida que traz o fluxo de pensamento de uma professora de 48 anos. Após anos cuidando das filhas, ela se vê, de certa forma, livre para tocar sua própria vida. As meninas, já crescidas, foram morar com o pai em outro país e ela voltou a lecionar e fazer coisas que ficaram para trás em sua lista de prioridades. Dentre elas, tirar férias. E é durante o período de recesso que sua mente mostra não estar tão boa.

Leda arruma as malas e vai para o litoral sul da Itália. Lá, enquanto fica em um canto tranquilo da praia, continua trabalhando, lendo seus livros e corrigindo trabalhos. Até que uma família lhe chama a atenção. Primeiramente, percebeu a jovem mãe e sua filha de cerca de dois ou três anos. Gosta de olhar para as duas e ver como são unidas, relacionamento que ela não teve com sua mãe e suas filhas. De certa forma, isso a atrai ao mesmo tempo que lhe traz lembranças amargas. 

O conjunto de sentimentos acaba fazendo com que a família, que logo se mostra enorme, barulhenta e confusa, seja uma obsessão em seus passeios diários. Chega a ser patética. E tudo piora quando a bebê desaparece, deixando todos enlouquecidos, inclusive Leda, que também participa das buscas. Porém, num impulso doentio, Leda ‘rapta’ a boneca da garota. É como se quisesse recuperar, com isso, sua infância. Talvez daí venha o título do romance. Em paralelo, ela tenta se aproximar do salva-vidas da praia, mas descobre que é apaixonado pela jovem mãe. Ou seja, nada fácil para nossa problemática protagonista. A ideia que fica é o arrependimento pelos sonhos que abandonamos e relacionamentos que negligenciamos. Leitura sensacional. Só larguei o livro no fim.

“As coisas mais difíceis de falar são as que nós mesmos não conseguimos entender.”