A versão que li. Com a capa do filme de 2005 |
"Sem pensar muito bem de homens ou do matrimônio,
o casamento sempre fora seu objetivo."
Eu estava na livraria esperando para ser atendida e, aleatoriamente, peguei um livro. Era uma edição de bolso de “Orgulho e preconceito”, de Jane Austen. Eu tenho todos os seus livros, mas nunca os li. E olhe que até na casa dela eu já fui. Há treze anos, em abril de 2004. Era um bonito dia de primavera na Inglaterra. Lembro ainda hoje de ficar observando a mesinha em que ela escrevia. Saí de lá com duas de suas obras, que envelheceram na estante. Até o dia em que tive que ficar esperando na livraria. Bem, lá mesmo, em pé, comecei a ler o romance. Ri muito logo no começo. Voltei para casa e imediatamente baixei a versão para o e-reader. Na atual fase da minha vida, é mais fácil ler com esses dispositivos. Enfim, intercalei a leitura do meu original, em inglês, com a tradução muito mal feita que estava disponível gratuitamente na Amazon.
Minha edição em inglês |
A história se passa na Inglaterra do século XVIII e descreve a sociedade rural do período de regência britânica. Tem final bem previsível, mas o que vale é a forma com que é contada. Tudo sob o ponto de vista de Elizabeth, a segunda de cinco filhas de um casal que vive no campo, próximo a Londres. Logo nas primeiras linhas vemos o desespero da mãe que tenta casar suas meninas. E um grande partido acaba de chegar na vizinhança. A mulher fica toda empolgada e implora ao marido que vá se apresentar, já com o intuito de transformá-lo em genro. Este trecho é hilário. Depois de lê-lo você não vai resistir. O rapaz, Mr. Bingley, chega com duas irmãs e um amigo, Mr. Darcy. A partir daí, tudo gira em torno de dias ociosos das moças, bailes e diálogos sobre relacionamentos amorosos. Divagações sobre o interesse ou não dos rapazes nelas. Enfim, algo atemporal se pensarmos bem. A diferença é que naquela época a comunicação era mais difícil. Levava alguns dias até terem a resposta para suas dúvidas por meio de cartas ou mensageiros. Jane nos apresenta a uma sociedade burguesa que só pensa em casar. Este é o objetivo de todas as diversões que as pessoas têm: bailes, viagens, passeios, apresentações à corte. O engraçado (ou não considerando que isso acontecia naquela época) é que bastavam algumas horas para se decidir quem seria o cônjuge. Claro que cabia à mulher o papel de esperar o pedido. Grande angústia que a autora, ironicamente, faz questão de ressaltar. Até Elizabeth, que tende a não concordar com os arranjos matrimoniais, tem lá suas expectativas com Mr. Darcy, relacionamento que vai da intolerância ao inesperado amor. Por causa de tanto papo fútil em torno de ‘ele me ama ou não’, a leitura torna-se maçante em alguns momentos. Mas superamos e encontramos até uma rebelde, a Kitty, irmã mais nova de Elizabeth. A única que não esperou por um pedido para ir atrás de quem desejava. Se acertou ou não, esse é o risco de ousar. Bem melhor que ficar em casa esperando um convite que pode nunca aparecer. Quero mais Jane Austen.