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sábado, 30 de dezembro de 2023

holidays romance


"Mesmo que não saia exatamente como planejado, o destino tem uma maneira de resolver as coisas no final."


Para fechar o ano, como costumo fazer, escolhi um romance que traz o clima das festas de fim de ano, especialmente o Natal. Esse foi o mote de "Holidays Romance", chick-lit da irlandesa Catherine Walsh. A história é leve e previsível, com alguns momentos divertidos, mas não tanto quanto outras narrativas irlandesas do mesmo estilo, como a série da família Walsh de Marian Keyes, sua conterrânea. A coincidência do sobrenome da autora de "Holidays Romance" me fez lembrar da série de Keyes, que a cada livro traz um personagem. E nossa Walsh aqui fez o mesmo. Vi que já há outro volume com a história dos irmãos dos protagonistas.

O romance, porém, é um pouco cansativo. Entendo que poderia ser reduzido pela metade, pois é bem repetitivo em muitos momentos. Vale destacar que é estável. Quando digo estável, quero dizer que não há reviravoltas ou vilões. O que temos é a vida simples, sem grandes complicações, seguindo as narrativas que vemos em filmes natalinos. Claro, há dúvidas e dilemas, mas o foco é em duas pessoas que querem apenas passar as festas de fim de ano com suas famílias na Irlanda. Andrew e Molly moram em Chicago; ela é advogada em um grande escritório, mora em um apartamento bacana, mas está sobrecarregada e questionando sua carreira. Ele é um fotógrafo que sonhava em trabalhar para a National Geographic, mas mudou seus planos para ganhar mais dinheiro com eventos sociais.

Eles se conhecem através de uma amiga de Molly, que namora Andrew, mas planeja terminar. Molly fica revoltada com o descaso da amiga. Coincidentemente, eles se encontram no avião rumo à Irlanda, bem no momento em que a amiga está ligando para contar seus planos de terminar o namoro. Molly, impulsivamente, tira o telefone das mãos dele, e assim surge uma amizade de voo. Dez anos depois, eles continuam combinando de se encontrar no aeroporto para ir juntos à Irlanda. Acompanhamos cada um desses momentos, alternando com o presente, quando uma tempestade os impede de entrar no décimo voo. Eles decidem embarcar em uma odisséia de escalas para desviar da tempestade e alcançar seu destino. Claro que se apaixonam, descobrindo que sempre tiveram sentimentos além da amizade. A jornada passa pela Argentina, Inglaterra e País de Gales, algo impensável do ponto de vista racional, mas que faz todo o sentido no contexto do Natal e da família de ambos. Há momentos divertidos aqui e ali, mas o livro não é inesquecível, como "Melancia" foi para mim. Mas, confesso, deu um quentinho lá no fundo do coração.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

antes que o café esfrie 3




E assim, sem parar, cheguei ao terceiro volume, que, particularmente, foi o melhor e mais bonito, emocionalmente falando. Não estamos mais no Funiculà Funiculà, cenário dos dois primeiros volumes. Agora estamos no Donna Donna, em Hokkaido, estabelecimento da mãe de Nagare, localizado precisamente aos pés do Monte Hakodate.


Imaginei algo assim para a bela vista descrita do café: 


"O outono chegou à grande janela do Donna Donna, de onde se avistam um céu azulzinho e o Porto de Hakodate. As folhagens, que se exibem em diferentes tons de vermelho, conferem um toque de romantismo ao ambiente interno do café."


Yukari Tokita é a mãe de Nagare, pessoa bastante excêntrica. Ela guarda um enigma em torno de si, sabendo conectar pessoas, independentemente do momento em que estejam. Ela se mudou para os Estados Unidos para ajudar um rapaz e pediu ao filho que desse uma olhada no seu café. E com ele vieram Kazu e sua filha, agora com sete anos, ou seja, apta a servir o café que leva as pessoas para o passado e o futuro. Ah, algo importante que eu não mencionei antes é que a pessoa só pode viajar no tempo uma única vez, portanto, é preciso muita prudência na escolha do momento certo. Contudo, conforme lemos as histórias, o momento é que nos escolhe.

Todas as histórias são entrecortadas com o bate-papo que ocorre no café, principalmente em torno de um livro que os personagens fixos estão lendo. Quando digo "fixo", quero dizer Nagare; Kazu; sua filha Sachi, que acaba de completar sete anos; Saki, médica frequentadora do local; Nakano, universitária que também está sempre por lá, e Reiji, que trabalha meio período no local, mas sonha em ser um comediante famoso.

Juntos, e muitas vezes puxados pela menina, que se mostra uma leitora assídua, eles respondem às 100 perguntas sobre o que fariam se o mundo acabasse amanhã. São perguntas simples e até bobas, mas que servem de base para as viagens que acontecerão.

A primeira traz a jovem que quer voltar ao passado para conhecer os pais que morreram quando ela ainda era pequena. Ela os culpa por todas as dificuldades que passou na vida, mudando de casa em casa e de família em família, sem nunca ter tido carinho e afeto.

Temos ainda o famoso comediante que volta ao passado para reencontrar a esposa que morreu. Ela, que sempre apoiou sua carreira, adoraria saber que agora ele está consagrado na profissão. Contudo, a intenção do homem é nunca retornar dessa viagem. Caberá aos personagens ajudarem a mudar sua opinião.

Em outro momento, uma mulher surge no café procurando pela irmã que lá trabalhou em alguns períodos. Ocorre que ela morreu e custa muito para a outra aceitar a perda. Neste caso, teremos uma visita do passado para consertar as coisas.

Reiji também volta ao passado (bem) recente para reencontrar Nakano. E esta, senhoras e senhores, é a parte mais triste e bonita da série até agora. Há um filme baseado no café produzido no Japão. Em breve, teremos outras versões pelo mundo. Sei que já temos o quinto volume. Mas decidi parar por aqui. E digo que valeu muito a experiência.

"O verão em Hakodate é breve. Quando se imagina que as folhas das árvores já começaram a cair, o Monte Hakodate, num piscar de olhos, se tinge de vermelho outonal como se ardesse em chamas."


Trechos

"Eis o que penso. A morte jamais deveria causar infelicidade. O destino de todos nós é morrer um dia. A razão deste meu pensamento é simples: se a morte de uma pessoa for motivo de infelicidade, isso significa que nós, seres humanos, nascemos para ser infelizes. Muito pelo contrário, isto está longe de ser verdade. As pessoas sempre nascem para ser felizes. Sempre."

"Dizem que é bom a gente oferecer o que se tem de mais precioso a alguém que está se esforçando para realizar seus sonhos. Porque haverá com certeza momentos em que essa pessoa se sentirá sem forças para prosseguir. Será difícil, doloroso e ela terá que colocar numa balança seus sonhos e a realidade, e fazer uma escolha. Nesse momento, a pessoa que recebeu esse presente tão valioso vai se convencer de que ela pode se empenhar um pouco mais. Porque ela perceberá que no final das contas não está sozinha. Ganhará ainda mais coragem por saber que há alguém torcendo por ela."

"Dentre as muitas paisagens, a Ladeira Daisan é um dos famosos pontos turísticos devido à beleza de seu pavimento de pedras e ao exotismo das muitas tonalidades de vermelho das folhagens dos freixos ladeando o caminho imprimindo à paisagem ares de país estrangeiro."

"O mais difícil é viver sem mentir", escreveu Fiodor Dostoiévski. Mente-se por diversas razões. Para parecer melhor do que se é ou com o intuito de ludibriar. Certas mentiras ferem, outras salvam. Na maioria dos casos, no entanto, quem mente se arrepende."

sábado, 23 de dezembro de 2023

antes que o café esfrie 2



"Ver a alegria estampada no rosto da outra pessoa. Essa é a emoção natural de quem oferece um presente. O tempo passa rápido quando se escolhe algo com a intenção de alegrar a outra pessoa, imaginando sua reação ao recebê-lo."

E cheguei no segundo volume da série japonesa "Antes que o café esfrie". Aqui reencontramos Nagare e Kazu. Kei, a esposa de Nagare, já não está mais presente. Mas conhecemos a filha do casal, Miki, de sete anos. Outros clientes habituais do café são apresentados, como Kyoko, que passou a frequentar o estabelecimento por conta da sua mãe, que também é professora de Kazu, mas que está doente e acaba morrendo. Aliás, a história dela é tema de um dos capítulos. Lembrando que cada capítulo diz respeito a uma viagem ao tempo. Claro que no meio de tudo isso, conhecemos um pouco mais sobre os personagens principais, sempre presentes na cafeteria.

E assim ficamos sabendo que apenas as mulheres da família Tokida são aptas a servir o café. Mas isso somente até engravidarem. E quando dão à luz uma menina, o "poder" é automaticamente transferido para a nova garota quando ela completar sete anos. Exatamente o que acontece lá pelas tantas, já que Kazu engravida, perdendo seus poderes.

Voltando aos personagens viajantes, começamos com um homem que mentiu para a filha. Na verdade, ela não é sua filha, e sim de seu amigo, que morreu junto com a esposa em um acidente. Mas agora chegou o momento de esclarecer a situação e ele não sabe exatamente como agir, por isso, decide voltar ao passado para rever o amigo e pedir conselhos. Na sequência, o irmão de Kyoko surge no café, após a morte da mãe, para se despedir, já que diversas circunstâncias (e fracassos da vida) o impediram de participar, inclusive, do funeral.

Em outro momento, um homem surge na cadeira vindo direto do passado. Ele quer se encontrar com a namorada. Ao que tudo indica, ele morrerá e quer se certificar de que ela seguirá a vida feliz. Vale dizer que ele é amigo de outra pessoa que usou a mesma cadeira no volume um. Aliás, nesse sentido, o livro é bem prolixo, resumindo todas as histórias anteriores aqui. E, claro, nem preciso dizer das regras, relembradas a todo momento. Um pouco chato isso, devo dizer.

Por fim, temos um detetive aposentado que traz um presente para sua esposa. No entanto, faz anos que ela morreu sem que ele tivesse tido a oportunidade de lhe dar um presente de aniversário. O remorso o acompanhou durante todo este tempo, até que resolve, finalmente, viajar para resolver o mal entendido, mesmo sabendo que seja lá o que fale ou faça no passado, não poderá mudar o fato de que ela morreu em um assalto. 

Em paralelo a estas histórias, também acompanhamos o dilema de Kazu, que serviu café para a mulher de branco, Kaname, sua mãe. Ela deixou o café esfriar e não retornou da viagem, ficando condenada a passar os dias sentada na cadeira. Como distração ou seja lá o que for, ela sempre está lendo um livro. O MESMO LIVRO. Até que um dia Kazu resolve dar outro romance para ela. Depois disso, sempre está a buscar livros que a mãe, mesmo sendo um fantasma, possa gostar. Aliás, esta mulher também é bem caricata. Sempre mal humorada, quando encontra alguém na sua cadeira, grita: "Sai daí!", além de ter o poder de fazer o intruso congelar. Contudo, lá pelas tantas, descobrimos que ela não era bem assim. Ainda é um mistério o que de fato aconteceu com ela, por que vai ao banheiro uma vez por dia, o que acontece quando surge alguém do futuro na cadeira. Temos muitas coisas para descobrir. Vou para o terceiro volume, do que percebi ser uma série. Até lá.

domingo, 10 de dezembro de 2023

antes que o café esfrie



"O presente não tinha mudado - mas essas duas pessoas tinham. Tanto Hirai quanto Kohtake voltaram para o presente de coração mudado, prontas para seguir em frente."

Comecei a ler este livro sem expectativas. Aliás, faz tempo que o vi aqui e ali, mas sem chamar muita atenção a ponto de comprá-lo. Mas eis que começou a aparecer com frequência (olha o que é uma boa distribuição). Gosto de café quente e resolvi entrar, mesmo que num romance, nesta cafetaria escondida em Tóquio, cenário da história criada por Toshikazu Kawaguchi, originalmente uma peça de teatro.

Lá, podemos voltar ao passado e reencontrar pessoas com as quais temos questões pendentes. Mas não é tão simples assim. Há várias regras que precisam ser entendidas e aceitas. A principal delas é que somente é possível encontrar quem já esteve naquele café. Outra importante: independentemente do que se fale ou faça nessa viagem ao tempo, o presente não será alterado. Há vários fatores que farão com que ele permaneça exatamente igual. Ou seja, se voltarmos para encontrar alguém que já morreu, não adianta dizer para a pessoa ficar em casa para evitar um acidente de carro. O destino fará com que ela morra de qualquer jeito. A pessoa também só pode voltar ao passado ao se sentar em determinada cadeira. O problema é que lá está uma mulher vestida de branco lendo, bem concentrada, seu livro. E ela só se levanta de lá uma vez por dia. Logo, descobrimos que é um fantasma, mais uma curiosidade deste local mágico. Enfim, a viagem começa quando o café é servido ao viajante e só dura até que ele esfrie. Portanto, o tempo é curto e precisa ser aproveitado da melhor forma possível.

Esses são os principais requisitos. E logo conhecemos pessoas que se encaixam super bem nessas regras. A primeira é uma moça que acabou de levar um fora do namorado. Ela quer voltar exatamente para o momento em que tiveram a conversa final, na expectativa de dizer coisas que ficaram presas em sua garganta. Temos ainda a enfermeira que quer voltar ao passado para falar com o marido que hoje tem Alzheimer e não a reconhece mais. Outra a sentar-se naquela cadeira é uma frequentadora do café, que deixou escapar a chance de atender ao pedido de sua única irmã, morta num acidente de carro. Por fim, conhecemos a proprietária do café que também resolve viajar no tempo para encontrar a filha que talvez jamais chegue a conhecer. O bacana do livro é que parecem vários contos interligados pelo café mágico.

Logo de cara, nossa atenção é atraída pelos personagens, muitas vezes caricatos, que frequentam o Funiculà Funiculà, nome do café. Temos Naguro, o proprietário; Kazu, sua prima enigmática - a única apta a servir o café que permite a tal viagem; Key, esposa de Naguro; a mulher de vestido branco, que mais tarde descobrimos ser a mãe de Kazu, além dos clientes habituais da cafeteria.

Vou seguir com o volume dois, pois realmente me empolguei com as histórias, apesar de ser repetitivo - especialmente em relação às regras, como se estivéssemos chegando na história junto com a pessoa disposta a viajar no tempo. É tudo bem previsível, ainda assim, gostoso de ler. Literatura fantástica que mostra a importância das relações. Até o próximo post.