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domingo, 10 de dezembro de 2023

antes que o café esfrie



"O presente não tinha mudado - mas essas duas pessoas tinham. Tanto Hirai quanto Kohtake voltaram para o presente de coração mudado, prontas para seguir em frente."

Comecei a ler este livro sem expectativas. Aliás, faz tempo que o vi aqui e ali, mas sem chamar muita atenção a ponto de comprá-lo. Mas eis que começou a aparecer com frequência (olha o que é uma boa distribuição). Gosto de café quente e resolvi entrar, mesmo que num romance, nesta cafetaria escondida em Tóquio, cenário da história criada por Toshikazu Kawaguchi, originalmente uma peça de teatro.

Lá, podemos voltar ao passado e reencontrar pessoas com as quais temos questões pendentes. Mas não é tão simples assim. Há várias regras que precisam ser entendidas e aceitas. A principal delas é que somente é possível encontrar quem já esteve naquele café. Outra importante: independentemente do que se fale ou faça nessa viagem ao tempo, o presente não será alterado. Há vários fatores que farão com que ele permaneça exatamente igual. Ou seja, se voltarmos para encontrar alguém que já morreu, não adianta dizer para a pessoa ficar em casa para evitar um acidente de carro. O destino fará com que ela morra de qualquer jeito. A pessoa também só pode voltar ao passado ao se sentar em determinada cadeira. O problema é que lá está uma mulher vestida de branco lendo, bem concentrada, seu livro. E ela só se levanta de lá uma vez por dia. Logo, descobrimos que é um fantasma, mais uma curiosidade deste local mágico. Enfim, a viagem começa quando o café é servido ao viajante e só dura até que ele esfrie. Portanto, o tempo é curto e precisa ser aproveitado da melhor forma possível.

Esses são os principais requisitos. E logo conhecemos pessoas que se encaixam super bem nessas regras. A primeira é uma moça que acabou de levar um fora do namorado. Ela quer voltar exatamente para o momento em que tiveram a conversa final, na expectativa de dizer coisas que ficaram presas em sua garganta. Temos ainda a enfermeira que quer voltar ao passado para falar com o marido que hoje tem Alzheimer e não a reconhece mais. Outra a sentar-se naquela cadeira é uma frequentadora do café, que deixou escapar a chance de atender ao pedido de sua única irmã, morta num acidente de carro. Por fim, conhecemos a proprietária do café que também resolve viajar no tempo para encontrar a filha que talvez jamais chegue a conhecer. O bacana do livro é que parecem vários contos interligados pelo café mágico.

Logo de cara, nossa atenção é atraída pelos personagens, muitas vezes caricatos, que frequentam o Funiculà Funiculà, nome do café. Temos Naguro, o proprietário; Kazu, sua prima enigmática - a única apta a servir o café que permite a tal viagem; Key, esposa de Naguro; a mulher de vestido branco, que mais tarde descobrimos ser a mãe de Kazu, além dos clientes habituais da cafeteria.

Vou seguir com o volume dois, pois realmente me empolguei com as histórias, apesar de ser repetitivo - especialmente em relação às regras, como se estivéssemos chegando na história junto com a pessoa disposta a viajar no tempo. É tudo bem previsível, ainda assim, gostoso de ler. Literatura fantástica que mostra a importância das relações. Até o próximo post.

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