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domingo, 23 de outubro de 2022

a vida do espírito


Logo na introdução de "A vida do espírito", Hannah Arendt afirma que deixou um lugar relativamente seguro na teoria política para entrar na filosofia e abordar o "pensar''. O estopim para esse interesse, já manifestado, de certa forma, em outras obras como "Origens do totalitarismo" na qual abordou a questão moral, foi o julgamento de Otto Adolf Eichmann em Jerusalém. Oficial nazista responsável pela logística da Solução Final, nome dado ao plano nazista de extermínio de judeus, Eichmann foi capturado na Argentina em 1960, após passar anos sob identidades falsas. Ele foi acusado de crime contra o povo judeu, contra a humanidade e crimes de guerra, dentre outros, durante o período que serviu ao regime nazista, sobretudo na Segunda Guerra Mundial. Após julgado, foi considerado culpado e enforcado em 1962.

Hannah Arendt se apresentou ao jornal The New Yorker para cobrir o julgamento, grande evento que resultou na sua política do pensamento, criada a partir da questão do mal e do que ela chamou de banalidade do mal. Segundo a autora, temos a ideia que o mal é algo demoníaco, representado por satã, ou mesmo pelo anjo decaído Lúcifer. Há ainda o mal causado pela inveja, como o que fez Caim matar Abel, no livro Gênesis da Bíblia. Cita ainda Herman Melville que considerou o mal como uma depravação com relação à natureza. Todos exemplos que não deixam dúvida sobre o sujeito cruel.

Mas o que ela viu no tribunal israelense foi algo totalmente diferente. Ali, isolado dentro de uma redoma de vidro à prova de balas, estava alguém que não tinha essas características. Era um agente bastante comum, medíocre até, e não monstruoso. Com isso, há o choque e a quebra do estereótipo que tinha em torno do mal, e que lhe trouxe a ideia de que as atrocidades das quais aquele homem tinha participado haviam sido causadas por conta da sua incapacidade de pensar. Ela justifica: Eichmann estava inserido em um sistema formado por ritos, sequências, ou seja, que funcionava a partir de regras que precisavam ser cumpridas. Quando temos um padrão de procedimento, independentemente do que vamos fazer, nossa capacidade de reflexão se apaga. E foi isso o que aconteceu com o tal agente. Ele estava tão preso à sua rotina de obediência que sequer refletiu sobre seus atos, o que é explicado de forma precisa no trecho a seguir:
"Clichês, frases feitas, adesão a códigos de expressão e conduta convencionais e padronizados têm a função socialmente reconhecida de proteger-nos da realidade, ou seja, da exigência de atenção do pensamento feita por todos os fatos e acontecimentos em virtude de sua mera existência. Se respondêssemos todo o tempo a essa exigência, logo estaríamos exaustos. Eichmann se distinguia do comum dos homens unicamente porque ele, como ficava evidente, nunca havia tomado conhecimento de tal exigência." (Arendt, 2022:25)
Foi essa irreflexão - algo comum na nossa vida cotidiana - que motivou Arendt a escrever a "Vida do Espírito'', obra que, embora inacabada, nos dá a esperança de que é possível, sim, mudar o status quo do mundo. Ela entende a vida espiritual (a vida da mente) como três atividades que estão interligadas: pensar, querer e julgar (cujo conceito ela não chegou a concluir). O pensar faz a distinção entre os significados da vida. O querer é algo novo e o julgar é a decisão que tomamos nessas situações.
"Somos do mundo, e não apenas estamos nele; também somos aparências, pela circunstância de que chegamos e partimos, aparecemos e desaparecemos; e embora vindos de lugar nenhum, chegamos bem equipados para lidar com o que nos aparece e para tomar parte no jogo do mundo. Tais características não se desvanecem quando nos engajamos em atividades espirituais, quando fechamos os olhos do corpo, usando a metáfora platônica, para abrir os olhos do espírito." (Arendt, 2022:47)
Vale lembrar que foi muito criticada por conta do artigo que escreveu sobre o julgamento de Eichmann. Comunidades judaicas a acusaram de ser condescendente com o agente nazista. Mais que isso, de ela, uma judia refugiada, ter ido contra seu próprio povo ao citar em seu texto que alguns judeus também corroboraram com o inimigo. No filme "Hannah Arendt - Ideias Que Chocaram o Mundo (2012)", de Margarethe von Trotta, acompanhamos uma cena na qual a filósofa responde aos ataques durante uma palestra. Ela não o estava perdoando. Seu papel ao cobrir o evento, argumenta, era entender os motivos que levaram Eichmann a estar dentro daquele sistema sem em nenhum momento questioná-lo. Entender é diferente de perdoar. Nada do que escreveu foi em defesa dele, sua intenção foi conciliar a mediocridade daquele homem com seus atos abomináveis. O que lhe chamou a atenção foi que a todo momento em seu julgamento, ele se dizia inocente. "Inocente, no sentido da acusação". Em outras palavras, sua defesa parte do fato de que era somente um funcionário exemplar. Havia o plano traçado e cabia a ele administrar as estratégias para que o objetivo - eliminar os judeus - fosse cumprido. Diante do estatuto jurídico em vigor, ele não havia feito nada de errado.
"Ele cumpria o seu dever, como repetiu insistentemente à polícia e à corte; ele não só obedecia ordens, ele também obedecia à lei." (Arendt, 1999:152)
Quais eram suas escolhas? Qual era o seu juízo em relação às suas ações e aos impactos que elas tinham na humanidade? Para Arendt, ele sequer cogitou isso. Estamos diante de um fenômeno político inédito do século XX, que pode ser traduzido como o grande colapso moral. Eichmann é criminoso. Incapaz de julgar e pensar, ele personifica essa problemática da experiência humana, o modo com que nos relacionamos, reagimos, escolhemos e julgamos. Arendt associa essas questões com a capacidade mental (ou a falta dela) que temos para lidar com a complexidade do mundo real, que a todo momento traz situações novas que nos desafiam.
"Ele se lembrava perfeitamente de que só ficava com a consciência pesada quando não fazia aquilo que lhe ordenavam - embarcar milhões de homens, mulheres e crianças para morte, com grande aplicação e o mais meticuloso cuidado." (Arendt, 1999: 37)
Contudo, em "Eichmann em Jerusalém. Um relato sobre a banalidade do mal", Arendt descreve o réu como alguém que, embora nunca tenha se destacado na escola ou no trabalho, tinha grandes ambições. Ele queria fazer parte da história. Inclusive, ela diz em determinado momento que se ele pudesse viver tudo novamente, certamente teria feito as mesmas escolhas. Afinal, foi a obediência que lhe deu a chance de ascender em um sistema que o tirou da insignificância que sempre teve perante à família e à sociedade.
"O que Eichmann deixou de dizer ao juiz presidente durante seu interrogatório foi que ele havia sido um jovem ambicioso que não aguentava mais o emprego de vendedor viajante antes mesmo de a Companhia de Óleo a Vácuo não aguentá-lo mais. De uma vida rotineira, sem significado ou consequência, o vento o tinha soprado para a História, pelo que ele entendia, ou seja, para dentro de um Movimento sempre em marcha e no qual alguém como ele - já fracassado aos olhos de sua classe social, de sua família e, portanto, aos seus próprios olhos também - podia começar de novo e ainda construir uma carreira." (Arendt, 1999:45)
O alerta aqui, a partir do que vivenciou Arendt, é que seguimos o caminho da obediência e da inércia diante de problemas sociais.

Lembram da obediência de Eichmann e suas consequências? Obviamente, aqui não estamos falando das atrocidades cometidas pelo movimento do qual ele fez parte. Mas não podemos desconsiderar as milhares de mortes que ainda ocorrem por conta da nossa incapacidade de pensar.

Como encontrar lugar no mundo, dentro do nosso cotidiano, para as nossas atividades mentais ou as nossas atividades do espírito, uma vez que a todo momento nos deparamos com o modo artificial de ver as coisas, o que nos afasta do olhar político? Primeiramente, precisamos esclarecer o que é o pensamento, somente assim seremos capazes de diferenciar a atividade que somos capazes (ciência, lógica, ordem) da vida espiritual que torna possível lidar com assuntos humanos mais complexos.

O pensamento não lida com a verdade, mas com significados. E é a partir do significado que lidamos melhor com os assuntos humanos, já que a vida não se reduz à lógica de causa e efeito. Arendt vai tomar emprestado de Sócrates o conceito dois-em-um: quando pensamos, estamos a sós com nós, afastados da experiência. Importante diferenciar o estar só da solidão. São situações distintas.
"Chegamos à conclusão de que apenas as pessoas inspiradas pelo eros socrático, o amor da sabedoria, da beleza e da justiça, são capazes de pensamento e dignas de confiança. Em outras palavras, chegamos às "naturezas nobres" de Platão, as poucas a respeito das quais se pode dizer que "não fazem o mal voluntariamente". No entanto, nem mesmo em seu caso é verdadeira a conclusão implícita e perigosa de que "todo mundo quer fazer o bem". (A triste verdade é que na maioria dos casos o mal é praticado por pessoas que jamais se dedicaram a fazer o bem ou o mal.)" (Arendt, 2022: 238)
Estar só é o diálogo que temos com nós mesmos, a auto investigação que permite considerar situações e tomar decisões. Já a solidão é estar sozinho, não ter contato nem consigo mesmo. As massas, tão importantes para o totalitarismo, são compostas de indivíduos solitários, e é exatamente aí que reside a banalidade do mal. São pessoas que estão mais preocupadas com a produtividade na sociedade de consumo e a ascensão profissional (Eichmann) que com a efetiva participação na vida pública, espaço que pede um olhar para o todo e para o bem comum, e não somente para a bolha da qual fazem parte. A individualidade típica do neoliberalismo, regida por interesses econômicos (renda e lucro) é o melhor exemplo atual da solidão descrita por Arendt.
"Se o pensamento - o dois-em-um do diálogo sem som - realiza a diferença inerente à nossa identidade, tal como é dada a consciência, resultando, assim, na consciência moral como seu derivado, então o juízo, o derivado do efeito liberador do pensamento, realiza o próprio pensamento, tornando-o manifesto no mundo das aparências, onde eu nunca estou só e estou sempre muito ocupado para poder pensar. A manifestação do vento do pensamento não é o conhecimento, é a habilidade de distinguir o certo do errado, o belo do feio. E isso, nos raros momentos em que as cartas estão postas sobre a mesa, pode sem dúvida prevenir catástrofes, ao menos para o eu." (Arendt, 2022: 250)
Ainda sobre as atividades do espírito, temos a vontade ou o querer começar algo novo. Trata-se da faculdade mental em que lidamos com liberdade, e isso é um problema para a filosofia. Se somos livres para fazer o que queremos, podemos fazer o que não devemos. Já para Arendt, apesar de perigosa, ela carrega algo primordial: o recomeço. Nela podem estar as soluções para os problemas que nos assombram.

O juízo é a atividade mais desafiadora e a que mais lida com o mundo das aparências. Para dar conta de sua teoria, Arendt vai investigar a terceira crítica de Kant, que trata da capacidade de julgar e como ela está conectada com a questão da moral. Para ela, a grande preocupação dos intelectuais será lidar com o mal, encarando suas possibilidades e compreendendo sua ameaça, que por não ser perceptível é ainda mais perigosa, como vemos no discurso sedutor das big techs. Importante ressaltar que sua proposição sobre a moral se dá durante a crise catastrófica a partir da ascensão do totalitarismo. É algo inédito e o questionamento feito é como podemos julgar quando não temos critérios para isso. Sua tese é que somente o pensamento pode ser capaz de evitar o mal. Diferentemente dos demais pensadores que colocam a moral como a relação do sujeito com o outro, Arendt vai dizer que, na verdade, trata-se da relação do sujeito com ele mesmo. E isso faz do pensar a atividade mais importante, que preside as demais.
"Uma vez que a pluralidade é uma das condições existenciais básicas da vida humana na Terra - de modo que inter homines esse, estar entre homens, era, para os romanos, o sinal de estar vivo, ciente da realidade do mundo e doeu, e inter homines esse desinere, deixar de estar entre os homens, um sinônimo para morrer -, estar sozinho e estabelecer um relacionamento consigo mesmo são a característica mais marcante da vida do espírito. Só podemos dizer que o espírito tem sua vida própria à medida que ele efetiva esse relacionamento no qual, existencialmente falando, a pluralidade é reduzida a dualidade já implícita no fato e da palavra "consciências" ou syneidenai - conhecer comigo mesmo." (Arendt, 2022:109)


A democracia está se afundando nas fake news


A era moderna nos coloca diante de uma perplexidade. Ao mesmo tempo em que temos o extraordinário desenvolvimento tecnológico, capaz de nos levar para outras dimensões - a ida à Lua é a primeira vez que realmente podemos nos olhar, literalmente, de fora - somos levados por uma lógica perversa de manipulação. Foi o que aconteceu com Eichmann que, de certo modo, estava aprisionado dentro de uma lógica administrativa. Para o totalitarismo, o que prevalece é a construção de problemas fictícios, daí o apelo das mentiras, do negacionismo. Inclusive, as fake news, outra ameaça das tecnologias digitais, podem ser a superfície de um problema ainda mais grave, e que pode colocar em xeque a própria democracia. Servem para nos distrair das coisas que realmente nos controlam, como os ricos fundos financeiros que incentivam todo esse esquema de dados. De certo modo, sempre existiram. O que temos hoje é sua rápida proliferação com total apoio das grandes empresas de tecnologia. A lógica é simples, quanto mais cliques, mais monetização. E sabemos que o ódio é muito mais atrativo que o amor, atraindo mais visualizações.

A noção da banalidade do mal está relacionada com os temores do século 20, consequência da crise da Razão Iluminista. Houve o momento em que se acreditou que a Razão iria nos emancipar, mas o que vimos foi o uso da tecnologia para destruir vidas.
 
Sim, o mundo é horrível e permitiu que as pessoas fizessem coisas terríveis, inimagináveis, como o antissemeitismo, o imperialismo e o totalitarismo. Porém, e aqui Arendt é enfática, não podemos nos alienar. Precisamos buscar a reconciliação, afinal essa é nossa casa. Se isso não for feito, o resultado é que vamos deixar de nos responsabilizar pelo futuro, pelas crianças, pela natureza. Não podemos deixar o horror nos silenciar. Politicamente, há situações em que não podemos reagir. Mas, no mínimo, podemos dizer que não compactuamos com determinado comportamento. Afinal, "estar vivo significa viver em um mundo que precedeu à própria chegada e que sobreviverá à partida". Resta saber o que queremos deixar por aqui.


Bibliografia


ARENDT, H. A vida do espírito. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2022.

ARENDT, H. Eichmann em Jerusalém. Um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

a pequena ilha da escócia



"Não está exatamente feliz, porém acha que não está triste, 
pois todo mundo é assim, não é?"


Sempre compro meus chick-lits de acordo com lugares que gostaria de estar. Foi assim com "A pequena ilha da Escócia", da escocesa Jenny Colgan. Logo na abertura do romance, ela comenta sobre os motivos que a levaram a escrever algo que mostrasse seu país. Apesar de ter viajado para vários lugares do mundo - muitos dos quais retratados em seus livros - Colgan pouco conhecia da sua própria terra natal, até retornar à Escócia após anos vivendo fora. Por ter nascido e crescido no sul, ainda não conhecia as Terras Altas e as ilhas ao norte, o que se propôs a fazer, encantando-se loucamente com tudo o que viu. Ela cita alguns lugares: Lewis, Harris, Bute, Órcades e Shetland.

Foi assim que criou a encantadora Mure, ilha fictícia bem ao norte da Escócia. Curiosa que sou, logo fui buscar as referências que a autora havia dado e não tenho dúvidas que trata-se de Shetland. Até pesquisei como chegar lá. Vontade de ir não falta.

"Mure é um lugar fictício, mas espero que transmita a essência e a atmosfera daquelas ilhas incríveis bem ao norte, que são tão estranhas, lindas e maravilhosas para mim - embora, claro, para as pessoas de pronúncia musical quem moram lá sejam apenas lar".

Shetland, uma das ilhas escocesa que inspirou a criação de Mure.
Imagino Flora percorrendo o caminho de areia

Fiquei me imaginando num lugar tão distante, tão frio, tão aconchegante e tão encantador. Ela tem tudo o que imagino para minhas férias. Só não aprovei a forma com que tratam e transportam as ovelhas, que viajam de lá para cá conforme os interesses comerciais envolvidos. Este não é o tema central do livro, mas me chamou a atenção.

"Ovelhas e vacas eram o principal interesse da família: ovelhas eram bichinhos robustos não muito bons de comer, mas que produziam lã resistente e macia que ia para tecelagens das outras ilhas e do continente, criando malhas, cobertores e tartãs de alta qualidade, e as vacas eram ótimas produtoras de leite."

Há ainda um cachorro, Bramble, que toda vez que seguia a protagonista pelas montanhas me deixava com o coração na mão. E se ele se perder? E se não voltar? E se se machucar? Claro que ele se machucou. Mas adianto que fica bem.

"O cachorro não a esquecera. Ele estava feliz além da conta por vê-la, pulando sem parar, fazendo um pouco de xixi no chão e dando o melhor de si para envolvê-la em sua alegria."

A história gira em torno de Flora Mackenzie, que saiu da pequena ilha para morar e trabalhar em Londres num grande escritório de advocacia. Lá, passa despercebida pelo board e nutre uma paixão platônica pelo chefe imediato, o Joel. Arrogante, mulherengo e ambicioso, o advogado nunca notou a moça, até o dia em que um importante cliente chega e pede que seu caso seja tratado diretamente por ela. Motivo: precisa de alguém que entenda a população de Mure e que o ajude a impedir que turbinas eólicas sejam colocadas na frente do hotel que pretende abrir.

A partir daí, a vida meio que sem sentido de Flora muda completamente. Primeiro, suas pernas ficam bambas ao ser vista pelo chefe. Depois, fica transtornada com o fato de que terá que retornar para casa. Algo que ainda não sabemos a fez sair de lá e, aparentemente, ser odiada pelos moradores da ilha.

Contudo, ela não tem outra alternativa a não ser atender a demanda da qual foi encarregada. E lá se vai. Voo de Londres até Inverness e um avião pequeno até sua ilha. Claro que todas a reconhecem, surgem questionamentos, silêncio do pai. Logo descobrimos que sua mãe morreu há pouco tempo e que ainda há muita dor e mal entendidos. Mas nada que justifique o temor dela em voltar. Exagero da autora. Aos poucos, vai se adaptando, reencontra o gosto pela culinária a partir do livro de receitas da mãe e vai (re)conquistando todos. Como parte do job que recebeu, tem que abrir um negócio para ajudar o cliente. Obviamente a escolha é por um café: Delícias de Verão, que faz sucesso com suas tortas, bolos, pães. Joel também vai para Mure e, apesar de inicialmente sentir-se totalmente descolado com seu terno caro, logo vai cedendo à beleza local. Aqui vale ressaltar que a região é muito bem descrita. A história começa no verão com seus dias permanentes lá no norte e termina com a aurora boreal e início do outono. Se há clichês? Todos possíveis, mas valeu pela viagem. Mure, me aguarde ;-)

domingo, 16 de outubro de 2022

o apartamento de paris



"Aprendi que observar é a arma mais poderosa."


Eu esperava bem mais deste livro de Lucy Foley, autora inglesa de suspense. Talvez mais mistérios e final surpreendente. O fato é que é um thriller fraco, fraco. A história se passa em um prédio chique de Paris onde vive o jornalista Ben, irmão da nossa protagonista, Jess. Ambos britânicos. Ele já está na França há algum tempo. Ela parte para lá após perder o emprego na esperança de encontrar abrigo no apartamento de Ben, que não fica muito feliz com a notícia de sua chegada. Ao surgir na porta do edifício, Jess já estranha. A sofisticação do lugar não é algo que parece combinar com o irmão. Além disso, ele simplesmente desapareceu, deixando carteira e tudo mais.

Para piorar, os vizinhos e a zeladora são bastante hostis. Temos uma garota meio gótica perdida em seus próprios pensamentos, um fundador de startups fracassado (mas de família rica), um casal que parece viver de aparências e outro casal mais novo que acaba de se separar. A zeladora parece um fantasma. Lá pelas tantas, descobrimos que todos estão extremamente conectados. Achei bem sinistro.

O fato é que ninguém colabora com a menina, que conforme os dias passam vai ficando cada vez mais desesperada com o sumiço do irmão. Ao contrário, parecem fazer de tudo para que ela não consiga atingir seu objetivo. Enfim, Jess terá que lidar com eles e passa a contar com a ajuda do editor de Ben, a quem ele havia prometido um grande furo de reportagem. Talvez esteja aí a charada. E a polícia? Também comprometida com o pessoal do prédio, ao que parece. E é isso até o final, que não tem nada demais. Há a tentativa superficial de abordar o tráfico de mulheres para prostituição, mas está longe de contribuir com qualquer discussão. Podem pular a leitura.