"A consequência da história única é esta: ela rouba a dignidade das pessoas. Torna difícil o reconhecimento da nossa humanidade em comum. Enfatiza como somos diferentes, e não como somos parecidos."
Quando começou a escrever, ainda criança, suas histórias sempre traziam personagens loiros e de olhos azuis. Pois assim eram (e ainda são em sua maioria) os 'contos de fada'.
"A história única cria estereótipos, e o problema com os estereótipos não é que sejam mentira, mas que são incompletos. Eles fazem com que uma história se torne única."
Sua narrativa parte, sobretudo, de experiências próprias. Ela vem de uma família de classe média na Nigéria. Ainda jovem, foi visitar o vilarejo da empregada da casa e se espantou ao ver que eles viviam bem, felizes e que faziam belos artesanatos. Em sua cabeça, recheada do que seus pais contavam sobre o modo de vida da moça, achava improvável encontrar lá nada além da miséria. Equívoco.
"Não havia me ocorrido que alguém naquela família pudesse fazer alguma coisa. Eu só tinha ouvido falar sobre como eram pobres, então ficou impossível para mim vê-los como qualquer coisa além de pobres. A pobreza era minha história única deles."
Ela mesma passou por situação parecida quando foi estudar nos Estados Unidos. Diz que as pessoas sentiam pena dela antes mesmo de a conhecer. Era comum que a questionassem sobre seu inglês fluente (poucos sabem que este é o idioma oficial da Nigéria) e também para que ela mostrasse como são as músicas tribais, mesmo quando sua cantora favorita fosse Mariah Carey. Sua primeira colega de quarto acreditava, por exemplo, que ela nunca tinha visto um fogão.
"Sua postura preestabelecida em relação a mim, como africana, era uma espécie de pena condescendente e bem intencionada. Minha colega de quarto tinha uma história única da África: uma história de catástrofe. Naquela história única não havia possibilidade de africanos serem parecidos com ela de nenhuma maneira; não havia possibilidade de qualquer sentimento mais complexo que pena; não havia possibilidade de uma conexão entre dois seres humanos iguais."
Muito desta visão, para Chimamanda, vem da literatura ocidental, que sempre colocou os africanos como "seres exóticos". Ela cita como exemplo trecho do relato de John Lok, mercador britânico.
"Após se referir aos africanos negros como 'animais que não têm casa', ele escreveu: 'também é um povo sem cabeça, com a boca e os olhos no peito. Rio toda vez que leio isso. É preciso admirar a imaginação de John Lok. Mas o importante sobre o que ele escreveu é que representa o início de uma tradição de contar histórias no Ocidente: uma tradição da África subsaariana como um lugar negativo, de diferenças, de escuridão, de pessoas que, nas palavras do maravilhoso poeta Rudyard Kipling, são 'metade demônio, metade criança'."
E esta visão não escapou nem aos seus professores universitários, que diziam que seus textos não eram "autenticamente africanos", já que os personagens dirigiam carros e não passavam fome.
Seria muita hipocrisia dizer que nunca estivemos diante de algo semelhante. Tanto de um lado, como de outro. E é justamente isso que alimenta o racismo, a discriminação e as ideias de valores que não condizem com a realidade. Chimamanda atribui a resistência de se buscar outras fontes ao poder. Damos por certo o que ouvimos das pessoas que consideramos autoridade. A passividade com que aceitamos informações nos impede de irmos além do que está sendo dito. Que tal mudarmos isso? Podemos começar com as histórias dos que estão mais próximos de nós ;-)
"O poder é a habilidade não apenas de contar a história de outra pessoa, mas de fazer que ela seja a sua história definitiva."
"A história única cria estereótipos, e o problema com os estereótipos não é que sejam mentira, mas que são incompletos. Eles fazem com que uma história se torne a única história."