Páginas

quarta-feira, 24 de abril de 2024

os sete saberes necessários à educação do futuro


O  papel das escolas e da educação na formação de indivíduos

Em 2010, Edgar Morin esteve no Brasil para a Conferência Internacional sobre os Sete Saberes Necessários à Educação do Presente, realizada em Fortaleza, no Ceará. Naquela ocasião, o sociólogo francês explorou o que ele chamou de buracos negros que podem prejudicar a formação dos cidadãos.

Morin argumenta que "a humanidade precisa de mentes mais abertas, escutas mais sensíveis, pessoas responsáveis e comprometidas com a transformação de si e do mundo". E isso só será possível se superarmos barreiras como egocentrismo, hiperespecialização e falta de empatia, entre outros desafios. Apesar dos obstáculos, ele propõe caminhos que envolvem principalmente a escola e a aceitação de nossa conexão com a natureza.

Ele destaca: "Um dos principais pontos é o homem aceitar que ele faz parte da natureza. Esse resgate torna-se necessário, sobretudo diante de uma cultura cada vez mais segmentada e dicotômica, que separa o que é razão e emoção, o que é humano e o que é natureza."

"É fundamental", Morin continua, "a construção de um conhecimento de natureza transdisciplinar, envolvendo as relações indivíduo↔sociedade↔natureza. Esta é a condição fundamental para a construção de um futuro viável para as gerações presentes e futuras."

O livro é dividido em sete capítulos, cada um dedicado a um saber proposto por Morin como sendo essencial, mas que ainda permanecem ignorados. E eu faço um adendo: mesmo depois de 14 anos, ainda não avançamos muito.

Capítulo I: As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão


"A educação deve mostrar que não há conhecimento que não esteja, em algum grau, ameaçado pelo erro e pela ilusão. A teoria da informação mostra que existe o risco do erro sob o efeito de perturbações aleatórias ou de ruídos (noise) em qualquer transmissão de informação, ou em qualquer comunicação de mensagem."

Edgar Morin aborda as fraquezas do conhecimento humano, destacando sua constante ameaça pelo erro e pela ilusão. Discute como a percepção humana é fundamentalmente uma reconstrução cerebral de estímulos externos, propensa a falhas significativas. Uma das causas é a mentira que contamos a nós mesmos, que ele chama de self-deception. Nossas mentes tendem a selecionar e até alterar memórias para se ajustarem a uma autoimagem favorável, evidenciando o potencial humano para a criação de falsas lembranças ou o esquecimento seletivo de experiências desfavoráveis. Isso, argumenta, é um mecanismo de defesa psicológico, mas que perpetua erros. Evidentemente, a importância da imaginação nesse processo de conhecimento não é descartada, já que contempla nossos sonhos e ideias.

"A importância da fantasia e do imaginário no ser humano é inimaginável; dado que as vias de entrada e de saída do sistema neurocerebral, que colocam o organismo em conexão com o mundo exterior, representam apenas 2% do conjunto, enquanto 98% se referem ao funcionamento interno, constitui-se um mundo psíquico relativamente independente, em que fermentam necessidades, sonhos, desejos, ideias, imagens, fantasias, e este mundo infiltra-se em nossa visão, ou concepção, do mundo exterior. Cada mente é dotada também de potencial de mentira para si próprio (self-deception), que é fonte permanente de erros e ilusões. O egocentrismo, a necessidade de autojustificativa e a tendência a projetar sobre o outro a causa do mal fazem que cada um minta para si próprio, sem detectar esta mentira, da qual, contudo, é o autor."

O autor também traz os paradigmas científicos, criticando a racionalidade fechada, que se alimenta de si mesma e se converte em racionalização, uma das maiores fontes de equívocos. Em contrapartida, defende a racionalidade aberta e autocrítica, capaz de reconhecer e ajustar suas próprias limitações. Em outras palavras, ele defende a escuta ativa, inclusive sobre teorias que vão de encontro ao que acreditamos, pois somente assim podemos ampliar o conhecimento, contribuindo efetivamente para o que ele chama de educação do futuro, mais empática, mais democrática. Impossível não lembrar aqui do que nos diz Paulo Freire ao falar sobre educação progressista, em "Pedagogia da esperança": "O papel do educador ou da educadora progressista, que não pode nem deve se omitir, ao propor sua 'leitura do mundo', é salientar que há outras 'leituras de mundo', diferentes da sua e às vezes antagônicas a ela."

"A racionalização é fechada, a racionalidade é aberta. A racionalização nutre-se das mesmas fontes que a racionalidade, mas constitui uma das fontes mais poderosas de erros e ilusões. Dessa maneira, uma doutrina que obedece a um modelo mecanicista e determinista para considerar o mundo não é racional, mas racionalizadora."

"O racionalismo que ignora os seres, a subjetividade, a afetividade e a vida é irracional. A racionalidade deve reconhecer a parte de afeto, de amor e de arrependimento. A verdadeira racionalidade conhece os limites da lógica, do determinismo e do mecanicismo; sabe que a mente humana não poderia ser onisciente, que a realidade comporta mistério. Negocia com a irracionalidade, o obscuro, o irracionalizável. É não só crítica, mas autocrítica. Reconhece-se a verdadeira racionalidade pela capacidade de identificar suas insuficiências."

Os paradigmas dominantes, embora esclarecedores, também podem ser cegantes, ocultando a verdade sob camadas de pré-concepções culturalmente reforçadas. Ele exemplifica com o "paradigma cartesiano" de separação entre sujeito e objeto, mostrando como essa divisão fundamental pode tanto iluminar quanto obscurecer nossa compreensão do mundo.

Além disso, aborda o conformismo cognitivo a partir do imprinting cultural (termo proposto por Konrad Lorenz, naturalista austríaco que estudou o comportamento dos animais), ou seja, nascemos e já somos levados a uma sequência de vida preestabelecida, por exemplo, ir para a escola, arrumar um bom emprego, casar e ter filhos. Sem querer, já estamos repetindo padrões e deixando que a transformação nos escape, muito por conta de julgamentos. E nessa linha, é importante avaliar como os mitos e ideias, componentes da noosfera, voltaram-se sobre nós, "invadindo-nos com emoção, amor, raiva, êxtase e fúria. Os humanos possuídos são capazes de morrer ou de matar por um deus, por uma ideia."

O sociólogo finaliza o capítulo chamando uma reforma no pensamento que abrace a complexidade, a incerteza e a interdisciplinaridade como essenciais para a verdadeira compreensão e para a preparação dos indivíduos para os desafios de um mundo globalizado e interconectado. Precisamos estar preparados para o inesperado e, assim, quando o novo chegar, sermos capazes de rever nossos conceitos.

Capítulo II: Os princípios do conhecimento pertinente


O acesso e a organização das informações são desafios significativos para a sociedade contemporânea. Morin nos incita a perceber e a conceber o mundo de maneira integrada, considerando o contexto global, o multidimensional e o complexo. Inspirado pelo princípio do cientista francês do século XVII Blaise Pascal, ele ressalta que "é impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, tampouco conhecer o todo sem conhecer particularmente as partes", destacando a interdependência inescapável entre todos os elementos.

A realidade complexa, descrita como "complexus" (o que foi tecido junto), ocorre quando diferentes componentes, essenciais à totalidade, como o "econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o mitológico" estão intrinsecamente ligados. Esse entrelaçamento desafia nossa era global, tornando imperativa a reforma do pensamento. A especialização excessiva, embora tenha avançado o conhecimento em áreas específicas, contribuiu para a fragmentação da compreensão global, enfraquecendo a responsabilidade e a solidariedade.

O principal ponto é que o não entendimento do global acaba distanciando as pessoas da responsabilidade com o todo, ou seja, não avaliamos o impacto de nossas ações isoladas no planeta. Um bom exemplo é quando compramos uma bebida em garrafa de plástico. Mesmo que tenhamos a 'boa consciência' de descartá-la corretamente, não sabemos ao certo o que será feito dela. O resultado é que o oceano está cheio desse tipo de resíduo, com vários animais padecendo.

"O enfraquecimento da percepção do global conduz ao enfraquecimento da responsabilidade (cada qual tende a ser responsável apenas por sua tarefa especializada), assim como ao enfraquecimento da solidariedade (cada qual não mais sente os vínculos com seus concidadãos)."

"Desse modo, as realidades globais e complexas fragmentam-se", Morin lamenta a separação do conhecimento humano em disciplinas isoladas, que, ao invés de unir, isolam as dimensões da vida humana em compartimentos.

"Efetuaram-se progressos gigantescos nos conhecimentos no âmbito das especializações disciplinares, durante o século XX, porém estes progressos estão dispersos, desunidos, devido justamente à especialização, que, muitas vezes, fragmenta os contextos, a globalidade e as complexidades."

O capítulo critica a especialização fechada que impede a visão global e essencial dos problemas, tornando os especialistas incapazes de interpretar crises e prever suas consequências. Somente um pensamento que seja capaz de integrar, ao invés de dividir, permitirá a coexistência na complexidade do mundo moderno.

Capítulo III: Ensinar a condição humana


"A educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na condição humana. Estamos na era planetária; uma aventura comum conduz os seres humanos, onde quer que se encontrem. Estes devem reconhecer-se em sua humanidade comum e, ao mesmo tempo, reconhecer a diversidade cultural inerente a tudo que é humano. Conhecer o humano é, antes de tudo, situá-lo no universo, e não separá-lo dele."

Neste capítulo, que eu considero um dos mais significativos, Edgar Morin destaca a importância de entender o ser humano em sua totalidade, integrado ao cosmos e à biosfera terrestre. Precisamos reconhecer que somos ao mesmo tempo parte do universo e seres com uma cultura e consciência próprias. Segundo ele, "o homem somente se realiza plenamente como ser humano pela cultura e na cultura". Mas isso não faz com que a humanidade seja isolada da natureza. Pelo contrário, estamos enraizados tanto no cosmos físico quanto na esfera viva. "O humano é um ser, a um só tempo, plenamente biológico e plenamente cultural, que traz em si a unidualidade originária."

Morin explica que a hominização, processo evolutivo de milhões de anos, ilustra como a animalidade e a humanidade são inseparáveis na formação da condição humana. "Como seres vivos deste planeta, dependemos vitalmente da biosfera terrestre; devemos reconhecer nossa identidade terrena física e biológica."

Por meio de avanços em várias disciplinas científicas, como cosmologia, ecologia e biologia, obtemos novas perspectivas sobre nosso lugar no universo. No entanto, esses conhecimentos frequentemente permanecem fragmentados, o que mantém a humanidade "esquartejada" em diferentes aspectos de entendimento. Somos seres que combinam racionalidade com pulsões, sapiência com loucura, trabalho com ludicidade, e realidade com imaginação. A educação do futuro, portanto, deve dar conta do reconhecimento dessa condição complexa e contraditória, preparando-nos para navegar pela vida com uma compreensão profunda de nossa unidade com o mundo natural e nossa distinção cultural e cognitiva.

"Devemos reconhecer nosso duplo enraizamento no cosmos físico e na esfera viva", argumenta, destacando a importância de entender nossa conexão essencial tanto com o universo físico quanto com a vida na Terra. O principal dano ao separar o humano da natureza são as consequências ambientais que enfrentamos, sobretudo quando nos colocamos acima da flora e da fauna. Em especial, os animais sofrem diariamente por entendermos que somos superiores, que somente nós sentimos dor. Observamos isso nos matadouros e nas consequências ambientais decorrentes da produção de carne, onde a vida animal é frequentemente desvalorizada. Essa percepção de separação entre humanidade e natureza é criticada profundamente por pensadores como o brasileiro Ailton Krenak, que em sua obra "Ideias para adiar o fim do mundo" reflete: "Fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade. Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza."

Esta visão integral reforça a urgência de uma educação que promova a consciência de nossa interdependência com todo o sistema vivo, impulsionando-nos a agir de maneira mais responsável e conectada com todo o ecossistema.

Capítulo IV: Ensinar a identidade terrena


No Capítulo IV, Morin continua a abordar a necessidade de uma nova consciência global na educação, reconhecendo que somos cidadãos de um planeta interconectado. Ele cita o cientista russo Vladimir Vernadsky (pioneiro em considerar a biosfera como um sistema dinâmico e essencialmente interligado) para destacar essa conscientização: “Pela primeira vez, o homem compreendeu realmente que é um habitante do planeta e, talvez, deva pensar ou agir sob novo aspecto, não somente sob o de indivíduo, família ou gênero, Estado ou grupo de Estados, mas também sob o aspecto planetário.” Esta perspectiva exige um pensamento que integre a diversidade e a unidade da condição humana, desafiando a educação a promover uma identidade que seja ao mesmo tempo local e global.

"A diáspora da humanidade não produziu nenhuma cisão genética: pigmeus, negros, amarelos, índios, brancos vêm da mesma espécie, possuem os mesmos caracteres fundamentais de humanidade", ou seja, apesar das vastas diferenças culturais, todos os humanos compartilham uma essência comum. Morin adverte sobre os perigos contemporâneos, como a ameaça nuclear e a crise ecológica, que exigem uma resposta coletiva e uma responsabilidade compartilhada. Cabe à educação conscientizar sobre como nossas ações afetam o planeta e a necessidade de agir de maneira que preserve a Terra para as futuras gerações.

"Por isso, é necessário aprender a `estar aqui` no planeta. Aprender a estar aqui significa: aprender a viver, a dividir, a comunicar, a comungar; é o que se aprende somente nas culturas singulares — e por meio delas. Precisamos doravante aprender a ser, a viver, a dividir e a comunicar como humanos do planeta Terra, não mais somente pertencer a uma cultura, mas também ser terrenos. Devemos dedicar-nos não só a dominar, mas a condicionar, a melhorar, a compreender."

Capítulo V: Enfrentar as incertezas


A incerteza surge como uma característica fundamental do nosso tempo, questionando a crença no progresso como algo linear e inevitável. "A tomada de consciência da incerteza histórica acontece hoje com a destruição do mito do progresso. O progresso é certamente possível, mas é incerto." Esta reflexão leva à compreensão de que as mudanças e os desenvolvimentos podem gerar tanto oportunidades quanto desafios.

Morin introduz o conceito de "ecologia da ação", que descreve como as ações humanas interagem com o ambiente de formas complexas e muitas vezes inesperadas, frequentemente com consequências não intencionadas. Ele argumenta que, diante da complexidade e da interdependência das questões globais, as estratégias devem ser flexíveis e adaptativas, capazes de mudar em resposta a novas informações e condições. Não adianta ir com planos fechados, preconcebidos achando que tudo seguirá do jeito que pensamos.

"A ecologia da ação é, em suma, levar em consideração a complexidade que ela supõe, ou seja, o aleatório, o acaso, a iniciativa, a decisão, o inesperado, o imprevisto, a consciência de derivas e transformações."

"Um princípio de incerteza cérebro-mental", menciona Morin, reflete a natureza falível da cognição humana, onde até mesmo nossa percepção e entendimento estão sujeitos a erro e revisão. Este reconhecimento deve nos levar a abordar os problemas globais com humildade e disposição para reavaliar e ajustar nossas ações.

Capítulo VI: Ensinar a compreensão


Neste capítulo, Morin destaca a distinção entre a mera transmissão de informações e a verdadeira compreensão. Ele observa que, embora as ferramentas modernas de comunicação facilitem o compartilhamento de informações, elas não garantem a compreensão mútua.

"Lembremo-nos de que nenhuma técnica de comunicação, do telefone à internet, traz por si mesma a compreensão. A compreensão não pode ser quantificada. Educar para compreender a matemática ou uma disciplina determinada é uma coisa; educar para a compreensão humana é outra. Nela se encontra a missão propriamente espiritual da educação: ensinar a compreensão entre as pessoas como condição e garantia da solidariedade intelectual e moral da humanidade."

O teórico reflete ainda sobre como a proximidade pode intensificar mal-entendidos: "quanto mais próximos estamos, menos compreendemos, já que a proximidade pode alimentar mal-entendidos, ciúmes, agressividade, mesmo nos meios aparentemente mais evoluídos intelectualmente."

A compreensão verdadeira envolve uma apreciação mais profunda das complexidades humanas e das diferenças culturais. "Compreender significa intelectualmente apreender em conjunto, com-prehendere, abraçar junto (o texto e seu contexto, as partes e o todo, o múltiplo e o uno)". A compreensão entre as pessoas é essencial para a solidariedade intelectual e moral da humanidade, e deve ser uma prioridade educacional por meio de uma abordagem que valorize o diálogo e a empatia, permitindo que as pessoas não apenas compartilhem informações, mas também criem laços baseados no respeito mútuo e na compreensão intercultural. Mais uma vez não há como não lembrar de Paulo Freire e seu legado. Vale citar, bell hooks, norte-americana que se inspira em sua teoria e que, em "Ensinando a transgredir", diz que ensinar não é apenas passar adiante uma informação, o conhecimento, mas contribuir e participar, de fato, do crescimento intelectual e espiritual dos alunos. E reconhecer que todos influenciam e contribuem com a dinâmica da sala de aula. "Quando levamos nossa paixão à sala de aula, nossas paixões coletivas se juntam e frequentemente acontece uma reação emocional, que pode ser muito forte", afirma a professora e escritora.

É importante reforçar que "comunicação não garante a compreensão. A informação, se for bem transmitida e compreendida, traz inteligibilidade, condição primeira necessária, mas não suficiente, para a compreensão." Morin identifica duas formas de compreensão: intelectual (objetiva) e humana (intersubjetiva). A compreensão intelectual exige clareza e explicação, tratando o tema como um objeto a ser elucidado por métodos objetivos. Já a compreensão humana intersubjetiva provavelmente envolve uma abordagem mais empática, considerando as perspectivas e experiências dos outros. Em essência, uma comunicação eficaz demanda não apenas a transmissão clara da informação (inteligibilidade), mas também a adoção de estratégias que garantam o entendimento tanto no nível intelectual quanto no humano. E isso só é possível ouvindo, dialogando e acolhendo.

Capítulo VII: A ética do gênero humano


Edgar Morin aborda a necessidade de uma ética global que responda aos desafios colocados pela interdependência mundial. Ele argumenta que, em um mundo cada vez mais conectado, as ações de indivíduos e nações têm implicações que transcendem fronteiras nacionais e culturais, exigindo uma nova compreensão de responsabilidade e solidariedade.

A democracia, em resposta à complexidade crescente da sociedade global, não deve ser vista simplesmente como a soberania do povo, mas como um sistema que integra a autolimitação, o respeito pelos direitos individuais e a proteção da vida privada. "A democracia comporta, ao mesmo tempo, a autolimitação do poder do Estado pela separação dos poderes, a garantia dos direitos individuais e a proteção da vida privada", descreve ele, apontando para a necessidade de equilibrar diversos interesses e perspectivas.

A ideia de uma "Pátria" evoluiu de uma noção biológica para uma concepção ética e política, na qual a humanidade é vista como uma comunidade de destino que deve cooperar para enfrentar desafios comuns, como as crises ecológicas e sociais. Este sentimento de pertencimento a uma comunidade global deve ser acompanhado por um compromisso com a preservação e a melhoria das condições de vida em todo o planeta.

"A Humanidade deixou de constituir uma noção apenas biológica e deve ser, ao mesmo tempo, plenamente reconhecida em sua inclusão indissociável na biosfera; a Humanidade deixou de constituir uma noção sem raízes: está enraizada em uma `Pátria`, a Terra, e a Terra é uma Pátria em perigo."

Finalmente, Morin conclama por uma ética que transcenda diferenças culturais e nacionais e fomente uma responsabilidade coletiva. Ele sugere que, em vez de impor uma visão única de moralidade, devemos buscar um diálogo que permita uma variedade de perspectivas éticas, contribuindo para uma compreensão mais rica e inclusiva do que significa ser humano em um mundo interconectado.