Acabei de ler "Ame o que é seu", de Emily Giffin. Um romance sobre romance açucarado. Rápido e fácil de ler. Assim como deve ser todo chick-lit. Sou fã desse gênero desde "Melancia", de Marian Keyes. Dizem que toda leitura tem seu momento. Pode ser que se eu não estivesse passando por uma situação parecida com a da protagonista do livro, o efeito chick-lit não tivesse caído no meu gosto.
Enfim, desde então não resisto a uma capa bonita e aos dilemas de mulheres tidas como modernas e independentes apresentados nesses best-sellers, como casar ou ser independente? Ter filhos ou angariar uma promoção no trabalho? Questões que eu já havia sugerido num texto sobre Comprometida, de Elizabeth Gilbert.
"Ame o que é seu" traz as inúmeras dúvidas femininas logo na contracapa: "Sempre que houver escolha, haverá dúvida." A fotógrafa Ellen está na casa dos trinta e tem o que a maioria das mulheres nesta idade sonha em ter: marido bonito, bem sucedido e apaixonado, apartamento descolado, reconhecimento profissional, uma amiga leal e a perspectiva de muitas coisas boas pela frente.
Só que um reencontro casual com um ex-grande amor, num cruzamento movimentado de Nova York, faz com que ela se pergunte se não estaria acomodada com a sua "situação". Ora, do que ela está reclamando? Por ter se casado e deixado outras preferências de lado? Ou por não ter tentando, mais uma vez, ficar com Leo, que a abandonou há oito anos e em quem não para de pensar após o fatídico esbarrão?
Ouvindo antigas trilhas sonoras e tomando um café com creme, ela relembra a intensidade do relacionamento que tinham e como terminou, sem ela entender direito o porquê. Relembra, ainda, a depressão após levar o fora e como conheceu Andy, o seu marido. Importante ressaltar: todo chick-lit traz a dor de ter sido abandonada e apresenta, seja de forma detalhada, como em Melancia, ou num rápido flashback, o ritual pós-rompimento: desleixo na aparência, baldes de sorvetes sempre à mão, vontade imensa de ficar trancada no quarto e, finalmente, um novo amor. Sabe aquela máxima “amor com amor se cura”? Pois ela se aplica perfeitamente a esses livros.
Seguem os dilemas de Ellen: atender ou não as ligações de Leo? Aceitar ou não as propostas de trabalho que ele oferece? Dizer ou não ao Andy o que está acontecendo? Mudar ou não para uma mansão em Atlanta, cidade natal do marido? Abandonar o que parecia ser uma vida perfeita? Tudo é questão de escolha. E tudo pode ser diferente dependendo da opção assinalada. Em determinados momentos, podemos ficar com raiva da garota que parece ter tirado a sorte grande e que está prestes a dispensá-la. Mas nada muito profundo, assim como também não é profunda a leitura. Bom passatempo para refletirmos de maneira fugaz sobre nossas próprias paranóias.
"A palavra acomodação ecoa na minha cabeça, ferindo o meu coração e me enchendo de incertezas. É uma palavra que venho evitando por meses, mesmo nos pensamentos mais íntimos. Mas de repente eu não posso mais evitá-la. De certa forma, ela é o cerne sombrio de toda a questão, o medo de ter me acostumado ao Andy. De que eu deveria ter resistido a esse tipo de amor. De que eu deveria ter acreditado que o Leo um dia voltaria para mim."