O paradoxo na relação dos animais com os seres humanos
No prefácio à primeira edição do seu livro “Libertação Animal”, em 1975, o filósofo australiano Peter Singer chama a atenção para a "tirania de animais humanos sobre animais não-humanos". Para ele, "a dor e o sofrimento dessa prática são apenas comparáveis aos que resultaram de séculos de violência de seres humanos brancos sobre seres humanos negros. A luta contra ela é tão importante quanto qualquer uma das disputas morais e sociais que vêm sendo travadas em anos recentes." Trata-se de uma afirmação que abre uma série de discussões entre aqueles que veem os animais como seres que têm sentimentos, e que por isso merecem ser respeitados, e os que creem que os bichos são seres inferiores e que devem servir ao homem. No meio do debate, temos quem defende os animais; mas somente até a próxima refeição.
Com efeito, condenamos a tortura de alguns animais. Cachorros, gatos, cavalos e animais selvagens, quando vítimas de maus-tratos, podem virar notícia. A sociedade ocidental repudia o hábito de coreanos de comer carne canina. Touradas, rodeios e farra do boi são alvos fáceis de protestos que atraem a atenção dos veículos de comunicação.
Por outro lado, os animais nunca estiveram tão presos às necessidades dos seres humanos. Matéria de capa sobre vegetarianismo, publicada em abril de 2002, na revista Superinteressante da editora Abril, traz a vaca como um ser onipresente. O texto elenca todos os produtos oriundos desse animal morto. São materiais de couro, seda, filmes fotográficos e até extintores de incêndio, que trazem substâncias retiradas dos pés dos bois. Seu sangue também é sugado e transformado em tintura, e sua gordura pode ter como fim o pneu do carro que os defensores utilizam para ir às manifestações. Enfim, de acordo com a matéria é praticamente impossível, mesmo para os vegetarianos, viver sem digerir ou utilizar restos mortais dos bichos, em especial dos bovinos.
O tema estimulou Singer, que se debruça sobre questões éticas, a escrever o manifesto “Libertação Animal”. Lá, ele analisa, filosoficamente, esse paradoxo e propõe um movimento que coloque fim no preconceito do ser humano em relação às outras espécies. O principal argumento é que os animais não existem para servir aos homens. A superioridade que o ser humano pensa ter em relação aos outros seres é definida pelo autor como especismo, termo que compara ao racismo - preconceito aos indivíduos de outras raças - e ao sexismo - a discriminação sexual com as mulheres. Os animais devem ter os mesmos direitos concedidos aos seres humanos, uma vez que também sentem dor - física e psicológica. A crueldade com os animais não pode ser eticamente justificada, o que se constitui numa boa razão para reverter as práticas que as perpetuam. Pensamento que tem raiz no utilitarismo, do qual Singer é seguidor: proporcionar prazer, evitar a dor.
A manifestação teve grande repercussão no mundo inteiro. O livro chegou ao Brasil em 2004, pela editora Lugano. Ganhou outra versão em 2010 pela WMF Martins Fontes, com novo prefácio e alguns acréscimos.
Em trinta e seis anos de proliferação dos seus argumentos em prol dos animais, é possível enumerar conquistas dos quais ativistas se orgulham, mas que ainda estão longe da utopia de Peter Singer, que é a total independência dos bichos.
“Eu adoro animais”, ela começou.
“Eu adoro animais”, ela começou.
“Tenho um cachorro e dois gatos, e eles se dão às mil maravilhas. Conhecem a Sra. Scott? Ela dirige um pequeno hospital para animais de estimação doentes...”
e continuou a falar sem parar. Parou enquanto o chá era servido, pegou um sanduíche de presunto e perguntou-nos que animais de estimação tínhamos.
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