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terça-feira, 27 de setembro de 2011

um dia

“E assim Emma Morley voltou para casa sob a luz daquele final de tarde, deixando uma trilha de desilusão no caminho. O dia estava esfriando, ela tremia e sentia algo no ar, um inesperado arrepio de ansiedade percorrendo a espinha, tão intenso que a fez parar por um momento. Medo do futuro, pensou.”

15 de julho é o dia em que Emma e Dexter ficaram juntos pela primeira vez. A partir deste gancho, o autor retoma vários outros 15 de julho numa história entre duas pessoas que dura quase vinte anos. Ora juntos, ora separados, eles nunca perdem o contato e a lembrança daquela noite, logo após a formatura. Era uma época de planos, ideologias, sonhos e resistência a tudo que não estivesse de acordo com o que vislumbravam. Ela, salvar o mundo por meio de gestos e palavras. Ele, viajar, curtir a vida e ter uma carreira bem sucedida e rica.

Os anos passam. Metas são revistas por conta das adversidades que não foram contabilizadas durante a universidade. Por vezes, a vida mostra-se tensa, impertinente, embriagada, cheia de traições, de votos nulos e de empregos medíocres. Mas há os momentos felizes, agarrados e guardados para serem utilizados quando as incertezas viessem.

Ainda assim, a felicidade do outro é muito difícil de ser digerida, fica engasgada e tudo o que se consegue dizer é um soluçante “fico feliz por você”. Um desses momentos é quando Dexter anuncia o casamento com outra mulher. Ou quando Emma consegue, enfim, realizar parte de seu sonho de ser escritora. Por que não ficam sinceramente contentes com o sucesso do amigo, da amiga? Porque o dia 15 de julho de 1988 ainda está presente, com todo o seu envolvimento e mentiras inocentes. Simplesmente porque essa felicidade não está sendo compartilhada pelos dois, simultaneamente. Porque eles não estão, de fato, juntos.

Mas e se um dia pudessem ficar com o grande amor de suas vidas? Os êxitos seriam comuns e a existência melhor? É disso que trata “Um Dia”, best seller de David Nicholls, que já virou filme.
Ao começar a leitura, lembrei-me de outro best seller que também fala de desencontros amorosos, o “Querido John”, de Nicholas Sparks. Mas ao contrário de “Querido John”, que traz um amor adocicado e declarado, “Um Dia” expressa a paixão velada, encoberta pelo sentimento de amizade, por sucessivas frustrações e questionamentos em torno de “e se um dia eu pudesse ser melhor?” A leitura, rápida e convincente, nos suga para um final com o qual não queremos nos deparar. E não basta mais que um dia para mostrar que tudo pode se transformar completamente. Contudo, sem apagar o que realmente nos importa, quem realmente importa. 

“O futuro se estendia à sua frente, uma sucessão de dias vazios, cada uma mais desanimador e compreensível que o outro. Como iria preencher todos eles?” Em e Dex. Dex e Em.

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