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sábado, 18 de maio de 2019

mulheres sem nome




"Em um segundo ouvimos as armas. Atiraram nas leiteiras. Algumas balas atingiram o campo e mandaram lufadas de areia para os ares, mas outras atingiram as mulheres, derrubando-as no chão, derramando o leite no gramado. Uma vaca gritou ao cair, e o pop pop pop das balas perfurou os latões de metal cheios de leite. Os refugiados nos campos largaram as batatas e se dispersaram, mas as balas os encontraram enquanto corriam. Eu me abaixei quando os dois últimos aviões voaram novamente por cima de nós, deixando o campo lá embaixo coberto com corpos de homens, mulheres e vacas. Os animais que ainda podiam correr davam pulos para lá e para cá, como se estivessem meio malucos."


Assistindo a um programa que debatia o pós-humanismo, ouvi uma expressão, até fora do contexto do tema principal, que me marcou: "a maldade não tem limites, a bondade, sim."

Pois é exatamente assim que nos sentimos ao ler relatos de guerra e de estados autoritários de uma forma geral. "Mulheres sem nome", da norte-americana Martha Hall Kelly, mistura ficção com personagens reais, que vivenciaram os atos da segunda guerra mundial.

Caroline Ferriday é ex-atriz e socialite norte-americana que trabalha voluntariamente no consulado francês em Nova York. Sua missão consiste em arrecadar doações para órfãos na França. Acompanha de perto o desenrolar do conflito. Em Lublin, na Polônia, temos Kasia Kuzmerick, que vive uma vida tranquila com sua família e amigos até o avanço das tropas de Hitler em seu país. Ligada à resistência, é capturada e mantida prisioneira em Ravensbrück, campo de concentração exclusivo para mulheres. Foi para lá que a judia alemã Olga Benário, esposa do brasileiro Luís Carlos Prestes, foi enviada.

E é neste campo que trabalha a terceira personagem principal, Herta Oberheuser, médica que vai atuar a favor dos experimentos nazistas. Caroline e Herta de fato existiram. Já Kasia foi inspirada em sobreviventes de 
Ravensbrück. Cada capítulo é narrado por uma delas, nos dando uma boa visão desse período a partir de pessoas de classes, ideologias e nacionalidades distintas. Os tópicos de Kasia são os mais pesados. A começar pelo trecho em destaque no início deste post, que mostra a chegada dos nazistas. Como prisioneira, ela passou e presenciou várias torturas. Talvez um dos mais dolorosos foi ver a filha de apenas alguns meses de sua professora ser tirada de seus braços a força. Sabe-se lá o que fizeram com a criança. Mais tarde a mãe morreu sucumbida pelos maus-tratos e tristeza. Infelizmente, isso não é ficção. Situações assim aconteceram. Kasia também foi, junto com sua irmã e outras prisioneiras, selecionada para experimentos médicos, as coelhas de Ravensbrück. Passaram por procedimentos cirúrgicos para que fossem inseridos os mais variados objetos em suas pernas. A ideia era testar se a sulfonamida, espécie de antibiótico, tinha efeito em ferimentos graves, a fim de ajudar os soldados do Reich.

As sequelas ficaram para sempre nas moças que conseguiram sobreviver. Anos mais tarde, elas tiveram a ajuda de Caroline que, dos Estados Unidos, conseguiu fundos para que as prisioneiras tivessem o tratamento adequado. Herta foi uma das médicas que participou dos experimentos. No romance ela é retratada de forma fria e destinada a servir aos interesses da nação. Em alguns momentos, até chega a sentir alguma comoção, mas o sentimento é logo substituído pela ambição em se destacar. Foi julgada e condenada a prisão. Passado algum tempo, foi solta e conseguiu abrir uma clínica médica. Felizmente, foi reconhecida e teve seu título cassado. Tudo isso é verídico. Claro que as histórias ganharam aspectos romanceados, como a vida de Caroline, que teve até um namorado francês. V
ale muito a leitura. Principalmente para quem tem interesse em conhecer o que de fato aconteceu durante a segunda guerra mundial ou para quem ainda acredita que se matou pouco naquela época.
"Canções tristes não são tão tristes quando temos alguém que nos ama."