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sábado, 19 de maio de 2012

15 motivos para ler e ter chatô

1 Assis Chateaubriand foi dono de quase cem jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão. Formou-se em Direito e chegou a destacar-se como advogado, representando grandes empresários de sua época. Mas gostava mesmo é de escrever, especular e testar a todo o momento sua influência.

2 Ele foi um apaixonado pelo ofício. Mesmo após a trombose no cérebro, continuou a trabalhar. Sem os movimentos do corpo e sem poder falar, utilizava como tradutora de seus murmúrios sua fiel enfermeira Emília. Conseguiu, ainda, uma máquina adaptada que permitia que ele continuasse a escrever seus artigos e a alfinetar os desafetos com apenas um dedo, o único que ainda respondia a seus comandos.

3 A leitura de “Chatô, o Rei do Brasil”, sua biografia escrita por Fernando Morais, é obrigatória para os profissionais de comunicação e por todos que querem conhecer um pouco mais a história do Brasil.

4 É uma aula sobre o jornalismo no País. Mostra os primeiros diários, as primeiras emissoras de rádio e a PRF-3-TV Tupi, ou simplesmente TV Tupi, que inaugurou a televisão na América Latina.

5 Querer é poder, sim. Assis Chateaubriand sempre acreditou que seria o rei da comunicação. Em 1924, aos 32 anos, realizou seu sonho de ter um jornal. Para isso, não mediu esforços e lábia para conquistar adeptos ao seu projeto. Banqueiros, industriais, políticos, todos foram procurados e rederam-se às investidas do jornalista. Outra passagem que ilustra essa sua característica foi durante a coroação da rainha britânica. Ficou indignado por não ter conversado com a soberana. O aborrecimento levou-o a utilizar toda a sua obstinação para ser embaixador do Brasil no Reino Unido, apenas pelo capricho de ter alguns minutos com Elizabeth II. Apesar de tudo, é fácil não julgar seus artifícios na formação de seu império: chantagens veladas, dívidas ignoradas, matérias pagas, notícias inventadas ou capangas para assustar quem o contrariasse. Já diziam, "como resistir àquele homenzinho elétrico?"

6 O início da publicidade no Brasil é retratado no livro. "Familiarizado com a imprensa estrangeira, Chateaubriand sabia que para dar lucros um jornal deveria ter anunciantes." Na década de 20, não havia meia dúzia de agências de publicidade no Brasil. Mas, pessoalmente, tentava convencer os amigos a investirem na tal propaganda, tão na moda lá fora. Anos depois, criou com o publicitário Rodolfo Lima Martesen a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

7 Há toda a linha do tempo da revista O Cruzeiro, que rapidamente tornou-se a mais importante do Brasil. "A publicidade do primeiro número prenunciava tempos de vacas muito gordas para Chateaubriand. Quase metade das 64 páginas estava repleta de anúncios (...) No miolo, impressos em sofisticado papel cuchê e ilustrados por fotografias em abundância, artigos, reportagens e contos traziam, sob o título, um inexplicável e preciso registro: o tempo necessário para o leitor ler cada um deles. Por exemplo, a leitura da entrevista exclusiva com o presidente de Portugal, Oscar Carmona (feita por Rocha Martins, 'nosso colaborador em Lisboa') iria demandar treze minutos e vinte segundos."

8 Lá estão os primeiros passos de Guimarães Rosa, Tancredo Neves, Otto Maria Carpeaux, Millôr Fernandes, Araci de Almeida, Dorival Caymmi, Paulo Gracindo, Hebe Camargo, Lolita Rodrigues, Carlos Lacerda etc. etc. etc.

9 Fernando Morais transformou a biografia em um romance envolvente e agradável de ler. Melhor: o protagonista sempre tem alguma novidade e missão que vão deixar os leitores ansiosos pelas próximas páginas. Sem contar que era uma figura cômica. Algumas passagens rendem boas gargalhadas, como a inquietação que o levou a criar a palavra "furunfar".

10 Oportunidade para conhecer os bastidores das alianças políticas do Brasil das décadas de 10 a 60 e os movimentos que desencadearam em golpes militares, ditaduras e nas restrições à liberdade de expressão da imprensa. E, de uma forma ou outra, sempre havia “o dedo” de Chateaubriand.

11 As informações sobre sua infância e adolescência são extremamente interessantes. De um garoto tímido, raquítico, gago, transformou-se numa personalidade respeitada em todo o País e até no estrangeiro. Mas há ressalvas, como muito bem definiu um industrial que conviveu com ele: "Chateau é respeitado, mas com o tipo de respeito engendrado pelo medo e não pela afeição." Aliás, o nome Chateaubriand não veio da família paraibana, mas da admiração do avô paterno pelo poeta e pensador francês François René Chateaubriand.

12 Todos os grandes homens e mulheres leram muito. E não foi diferente com ele. Logo cedo, tomou gosto pela leitura e tornou-se autoditada, apesar da alfabetização tardia. Lia Goethe, Nietzsche, Schiller no original, em alemão.

13 Somente os fracos se acomodam. Saiu do primeiro emprego, numa loja de tecido, com o seguinte comentário ao amigo que trabalhava com ele: "ser prudente é antes de tudo ser medíocre. Vamos passar o resto da vida com os cotovelos plantados nesse balcão, cortando pano. Se você quer dedicar sua vida a ser o homem da tesourinha, eu não tenho vocação para isso. Vou-me embora amanhã mesmo." Na verdade, estava de olho nas portas do outro lado da rua: a redação e as oficinas do Jornal Pequeno, diário fundado no século 19, em Recife.

14 Chateaubriand imaginou uma grande galeria de artes. Os italianos Lina Bo e Pietro Maria Bardi foram os escolhidos para concretizar o projeto. Com a recessão da Europa após a segunda guerra mundial, os saíram comprando quadros das famílias falidas. Era o início do Museu de Artes de São Paulo, o Masp, batizado com o nome do jornalista após sua morte.

15 Para agradar as pessoas basta homenageá-las. Com essa ideia, criou a campanha para arrecadar aviões a fim de formar pilotos no Brasil. As doações eram feitas pelas empresas. Sempre com festa, discursos e matérias no dia seguinte. Também criou e saiu distribuindo a Ordem do Jagunço, condecoração que até Churchill recebeu. Será que é muito diferente do que acontece hoje?


 

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