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quarta-feira, 21 de agosto de 2024

a perfumista de paris



"​​Estou de volta a Agra, e o calor é opressivo. É como se o sol estivesse nos castigando por alguma ofensa de que só ele tem conhecimento. Sofremos em silêncio, esperando por seu indulto."

Que livro lindo, maravilhoso. Daqueles que nos fazem sonhar e realmente sentir todos os aromas presentes no texto. Saí sabendo um pouco mais sobre a indústria do perfume e sobre Agra, na Índia. Também foi muito gostoso revisitar alguns lugares em Paris onde estive. Sem contar a trilha sonora de jazz. Até reuni as músicas citadas em uma playlist no Spotify. Aliás, estou ouvindo enquanto escrevo este texto.

O livro fecha a trilogia Jaipur, da indiana Alka Joshi. No primeiro, "A pintora de henna", acompanhamos a trajetória de Lakshmi, que, com apenas 17 anos, foge de um casamento abusivo e de sua aldeia natal, chegando a ser considerada a melhor artista de henna de Jaipur. No segundo, "O guardião de segredos de Jaipur", temos uma passagem de tempo, e o foco é em Malik, o garotinho que ajuda Lakshmi em seu trabalho e que se tornou praticamente um filho. Agora, depois de mais alguns anos, temos a jornada de Radha, a irmã de Lakshmi. Elas só se conhecem depois da morte dos pais, quando Radha tinha apenas catorze anos. Sua vida não foi nada fácil, pois era conhecida como a menina do mau agouro, afinal, a irmã fugiu no ano em que ela nasceu. E, depois, muitas coisas ruins aconteceram com sua família. Radha também foge da aldeia e das fofoqueiras que a acusavam de tudo que dava errado por lá.

Anos mais tarde, está em Paris, casada com um francês, mãe de duas garotinhas e prestes a se tornar uma grande perfumista. Mas há problemas em todas as esferas. O marido, que ela conheceu enquanto ainda estava na Índia, não aceita seu trabalho, exigindo que ela passe mais tempo com a família; ela começa a receber queixas da escola da filha mais velha, que está agredindo as coleguinhas, e, no trabalho, sente que alguém a está boicotando.

Felizmente, surge a oportunidade de trabalhar em um grande projeto que homenageará a obra Olympia (1863), de Édouard Manet. Sua missão é reproduzir a fragrância que traduz a essência da mulher retratada na pintura, e que, de certa forma, também a representa. Essa busca a levará à Índia, especificamente até Agra, onde encontrará o aroma que faltava para sua criação. Laços do passado, que ela sempre fez questão de cortar, serão reatados, junto com uma tormenta de sentimentos. Ela também precisará de coragem e muita determinação para as decisões que terão que ser tomadas.

Tudo é contado de forma inebriante, colocando o leitor – pelo menos eu me senti assim – dentro da história. Vale cada página. Não queria mais sair do livro.


"Fecho os olhos, pensando em Olympia. Em como ela foi indecifrável. O único ingrediente que estava faltando para mim: água, chuva, névoa. O próprio véu que torna difícil vê-la com clareza. É por isso que ela nunca foi valorizada, que foi mal compreendida. No olho de minha mente, estou misturando as notas de topo, notas de corpo e notas de fundo que isolei. E então acrescento esse novo — para mim — precioso ingrediente: mitti attar. O cheiro da chuva."

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