"Ainda não percebeu, dr. Kumar, que o caminho errado às vezes pode acabar se revelando o certo?"
Fazia tempo que eu não lia um romance indiano. Houve uma época em que devorava um atrás do outro. São histórias cativantes, sensíveis e que me permitem viajar por esta cultura que tanto admiro. Cheguei a elencar alguns títulos no post "A Índia é bem mais perto do que parece", de 2012. Ainda terei meu momento ao vivo neste país. Mas enquanto este dia não chega, viajei para Ajar (Utta Pradesh), Jaipur (Rajastão) e Shimla (Himachal Pradesh) com "A pintora de henna", primeiro livro da trilogia de Jaipur, da escritora Alka Joshi. Ela nasceu na Índia e aos nove anos se mudou com a família para os Estados Unidos. Mas são suas origens que estão estampadas em seu texto, muito pela inspiração da mãe, que foi quem a incentivou a escrever. Aliás, este é seu livro de estreia e a adaptação já está em produção pela Netflix.
A história começa em 1955, oito anos após a independência da Índia. Curioso falar em independência para uma das nações mais antigas do mundo. Mas, infelizmente, houve o colonialismo e todas as suas consequências. E isto está presente no livro. O pai da protagonista era um professor e ativista político que perdeu tudo lutando contra os ingleses, sonhando com o dia em que seu país voltasse a ser livre. Embora não seja o mote principal da obra, os rastros de sua jornada ficam cravados nas duas filhas, que carregam suas dores. Marcas que Lakshmi transformou em arte por meio do seu trabalho com henna. Ela é uma das artistas mais requisitadas de Jaipur para pintar os corpos das mulheres da alta sociedade, além de ser também uma espécie de curandeira. Está em ascensão e seu objetivo com o trabalho é terminar sua casa e chamar seus pais para virem morar com ela. Há muitos anos, com apenas 17 anos, ela os deixou em Ajar, fugindo do marido abusivo e que não escolheu. Infelizmente, quando está prestes a ter seu próprio lar, recebe a visita do ex e da irmã que até então não conhecia, e por quem passa a ser responsável. Claro que a vida dela não é fácil, cheia de nuances, meia-verdades e extremo cuidado com o que fala. E Radha, com seu jeito espontâneo e espírito rebelde, vem bagunçar um pouco as estruturas. Em sua jornada, ela conta com a ajuda de Malik, um garoto de sete ou oito anos, que é seu ajudante e principal apoio, além de um personagem cativante, assim como outros que surgem em seu caminho, como Samir, Kanta e Kumar. Shimla, na base do Himalaia, é outro cenário dessa aventura. Já comprei os outros dois volumes e, em breve, volto aqui para contar como a história termina.
"Primeiro, o pandit fez um altar para o Senhor Ganesh. De tempos em tempos, ele consultava um livro de encantamentos muito manuseado, embora parecesse saber as palavras de cor. — “A presa que ele segura representa serviço; o aguilhão nos impulsiona por nosso caminho; a corda nos lembra daquilo que nos prende; aos seus protegidos ele concede todas as dádivas.”
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