“Gosto de um dia como hoje, desse céu de chumbo. Gosto da severidade e imobilidade do mundo sob esse frio.”
Se tem uma lição que tirei de “Jane Eyre” foi: nem sempre a razão é o melhor caminho. Eu já me deixei levar pela razão e hoje me arrependo. E foi o que aconteceu com Jane Eyre em determinado trecho de sua vida. O livro é escrito em primeira pessoa, como se fosse um diálogo entre ela e o leitor, ao qual ela sempre se dirige. Pensando melhor, ela não se arrepende por ter feito usado a razão, apenas se deixou guardou a emoção para outro momento. Tal atitude foi necessária para reafirmar seus propósitos e postura.
Escrito por Charlotte Brontë em 1847, é uma autobiografia ficcional que conta a trajetória de Jane desde que tinha dez anos. O escrito também tem um pé no feminismo, pois evidencia o papel forte da mulher e sua capacidade de tomar decisões e de agir por conta própria, sem se deixar levar pelas opiniões masculinas. Isso numa época em que a submissão feminina era esperada. Tudo que Jane faz, desde pequena, é para mostrar que ela precisa ser respeitada.
Sua história é triste. Ficou órfã cedo e foi morar com o irmão da mãe. Mas seu tio também morre e ela acaba ficando sob os cuidados da esposa, que nunca aceitou a menina em sua casa. Seu estilo desafiador, atiça ainda mais a ira da tia. Ela é ainda alvo frequente das maldades dos primos, que têm idades próximas à sua. Logo, é enviada para um orfanato. Apesar da rigidez do local, lá consegue se estabelecer e, de certa forma, se expressar. O local, contudo, torna-se pequeno para seus sonhos quando chega aos dezoito anos. Ela anseia por conhecer novos lugares e viver outras experiências. Esse desejo a leva para uma grande propriedade no interior inglês, onde vai dar aulas para uma menina, protegida do dono da casa, Edward Fairfax Rochester. Claro que ela se apaixona por ele e vice-versa. Contudo, nada são flores. Na sequência, temos segredos, dilemas e muito sofrimento, alguns exagerados pela autora, como a passagem em que Jane foge e passa fome. Há ainda momentos de reflexão sobre a fé e a entrega para Deus, crítica aos missionários.
O livro, assim como a maioria dos que foram escrito nessa época, traz de forma bem forte a divisão entre rico e pobre, homem e mulher, desgraça e sorte, calor e frio, belo e feio. Jane e Edward são feios e isso é reforçado em toda narrativa. Por isso, foram 'feitos um para o outro'. É como se fosse um conto de fadas às avessas, inclusive o primeiro encontro se dá com o 'príncipe' caindo, literalmente, do cavalo. É uma leitura bem gostosa, texto direto, mas que nos remete exatamente à paisagem do interior inglês e à época em que foi escrita. Gostei de ver o companheirismo do cachorro bem destacado. Vale cada página.
Charlotte, Emily e Anne Brontë, conhecidas como as irmãs Brontë, adotaram pseudônimos masculinos para seus livros, na tentativa de evitar o preconceito em relação aos seus textos. A primeira publicação de “Jane Eyre” saiu como sendo de Currer Bell (sobrenome de marido de Charlotte). Emily e Anne adotoram o mesmo mesmo sobrenome, sendo Ellis e Acton, respectivamente. O único livro de Emily Brontë, “O Morro dos Ventos Uivantes” é um dos meus favoritos da vida, e traz os mesmos elementos de “Jane Eyre”. Todas morreram jovens.
Frases
“É infinitamente melhor aguentar um com paciência um castigo que só atinge você, do que cometer uma ação impensada cujas consequências atingiriam todas as pessoas de sua família.”
“Se as pessoas fossem sempre boas e obedientes com aqueles que são cruéis e injustos, os maus teriam tudo a seu modo. Nunca sentiriam medo e assim nunca mudariam, mas se tornariam cada dia piores.”
“É inútil dizer que os seres humanos devem contentar-se com a tranquilidade. Eles precisam de ação. E tem que buscá-la, se ela não vier ao seu encontro. Milhões são condenados a uma vida mais pacata que a minha, e milhões se revoltam em silêncio contra a sorte.”
“Se eu deixar que uma rajada de vento ou alguns pingos de chuva me afastem dessas tarefas tão simples, como poderei me preparar para o futuro a que aspiro.”
“Temia uma resposta que me atirasse ao desespero. Prolongar a dúvida era prolongar a esperança.”
Imagem da adaptação para o cinema de 2011 |
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