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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

alice no país das maravilhas. alice através do espelho


"Sei quem eu era quando me levantei esta manhã, mas acho que já passei por várias mudanças desde então."

Sabe que nunca tinha lido “Alice no País das Maravilhas”, do inglês Lewis Carroll, na íntegra? Tinha lido versões infantis e visto o filme (lindo, lindo) da Disney. No fim do ano passado, comprei a edição que também traz “Alice através do espelho”. Por curiosidade, baixei o audio book no original (está disponível gratuitamente nas lojas). Vale a experiência e o sotaque britânico.

A história é bem conhecida. No primeiro romance, Alice, entediada com o calor (a-há!) e com seu livro sem figuras e diálogos segue um coelho e cai em sua toca. Lá, descobre um mundo encantado cheio de animais e objetos falantes. Todos, de alguma forma, lhe dando conselhos de forma maluca e divertida: gatos, lebres, lagartos, cartas de baralho. Tem ainda o chapeleiro cujo relógio parou e, por isso, a ‘hora do chá’ nunca termina. Tudo é um sonho e embarcamos nessa literatura nonsense que traz as dúvidas e os medos das crianças, assim como as pressões que elas sofrem, como, por exemplo, decorar um poema. É engraçado como Alice sempre endireita sua postura na hora de recitar um, e há vários nesses dois livros.


No segundo, Alice se põe a conversar com seus gatinhos e a pensar sobre o que tem atrás do espelho. Quando vê, já o atravessou e está diante de peças de xadrez. No meio de um jogo e casas que ela tem que pular até conseguir retornar para o outro lado. Enquanto isso, conversa com flores, animais, se divide entre a Rainha Vermelha e a Rainha Branca, que, aliás, foram muito exploradas em 2010 por Tim Burton no filme “Alice”, adaptação desses dois livros. Enquanto nos romances não há bem e mal, no filme o diretor optou por este caminho. Ficou bom, mas caiu num lugar-comum da luta dos bons contra os invejosos. E não apenas uma luta da pessoa contra suas próprias dúvidas e conjecturas, como é nas obras de Carroll.

A criança que está em nós identifica-se com os comentários de Alice, com sua percepção do mundo, com seus choros e também com a forma livre de preconceitos com que aprecia o que está ao seu redor. É estranho um animal falar, mas não é impossível. E já que ele está falando, por que não bater um papo? Ou entrar em uma casa sem ser convidada, sentar-se à mesa e exigir atenção. As coisas funcionam mais ou menos assim nesse universo onírico. 

Fiquei bem interessada em ler mais sobre o autor, e encontrei uma tese de doutorado que fala sobre psicanálise e educação utilizando "Alice": “O nonsense no País das Maravilhas: o que Alice ensina à educação”, de Juliana Radaelli. A autora traz alguns aspectos interessantes da personalidade de Lewis Carroll. Ele teve três irmãos e sete irmãs. Aos treze anos foi enviado a um colégio interno e o que mais o incomodou foi estar em um ambiente sem meninas. Ele parecia odiar os meninos. Tanto que há um menino no primeiro livro que é transformado em um porco (e mais uma vez isso não soa bizarro para a Alice). Há vários estudos sobre seu desejo pelas meninas, que vão desde o inocente olhar para a criança até desvios de desenvolvimento sexual. Para alguns, isso poderia ser explicado pela indecisão em relação à sua própria sexualidade. A história de Alice foi escrita para um menina em especial, Alice Liddell, filha de um chefe do colégio de cardeais. Enfim, recomendo a leitura da tese e, sobretudo, dos romances.

Frases de Alice

"Quem é você?" perguntou a Lagarta. Não era um começo de conversa muito animador. Alice respondeu, meio encabulada: "Eu... eu mal sei, Sir, neste exato momento... pelo menos sei quem eu era quando me levantei esta manhã, mas acho que já passei por várias mudanças desde então."

"Como gostaria que as criaturas não se ofendessem tão facilmente."

"Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?"
"Depende bastante de para onde quer ir", respondeu o Gato.
"Não me importa muito para onde", disse Alice
"Então não importa que caminho tome.", disse o Gato.

"Oh, é o amor, é o amor que faz o mundo girar. Alguém disse que ele gira quando cada um trata do que é da sua conta."

"Acho que entenderia isso melhor", disse Alice, muito polidamente, "se visse por escrito; assim ouvindo, não consigo acompanhar muito bem."

"Não, não! Primeiro as aventuras!" impacientou-se o Grifo. "Explicações tomam um tempo medonho."

"Está ouvindo a neve contra as vidraças, Kitty? Soa tão agradável e suave! Como se alguém estivesse beijando a janela toda do lado de fora. Será que a neve ama as árvores e os campos que beija tão docemente? Depois ela os agasalha, sabe, como um manto branco."

"Pois aqui, como vê, você tem de correr o mais que pode para continuar no mesmo lugar. Se quiser ir a alguma outra parte, tem de correr no mínimo duas vezes mais rápido."

"Ela está naquele estado de espírito", disse a Rainha Branca, "em que quer negar alguma coisa... só que não sabe o quê!"

"É tarde demais para corrigir", disse a Rainha Vermelha; "depois que se diz uma coisa, ela está dita, e você tem que arcar com as consequências."

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