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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

a eternidade por um fio




"Nossa geração vai ter que se arrepender não apenas das palavras de ódio e das ações dos maus, mas do silêncio devastador dos bons."


Durante o Carnaval, terminei a trilogia "O século", do britânico Ken Follett, que me acompanha desde 2017. Foram três anos para devorar as cerca de 2,8 mil páginas deste romance sensacional. Ainda estou de ressaca literária e só quem leu a obra vai me entender. A leitura foi sempre intercalada com buscas sobre os fatos reais narrados por Follett, que nos dá uma aula de história. Claro que tudo é romanceado e temos que ter discernimento sobre o que verdadeiramente aconteceu. Porém, não deixa de ser um estímulo para pesquisas mais detalhadas. Vale lembrar que a trilogia sempre foca em cinco famílias: alemã, inglesa, galesa, russa e norte-americana. Ao longo dos anos, elas acabam se misturando de forma muito bem construída, seja por casamento, amizade ou ideologias.

No último volume, "A eternidade por um fio", acompanhamos o desenrolar da Guerra Fria, a guerra da informação entre o capitalismo, liderado pelos Estados Unidos, e o comunismo soviético. Tanto um quanto o outro trazendo vítimas, censuras e muitas, muitas mortes.

Começamos o romance com Rebecca Hoffmann, do lado alemão. Nas primeiras páginas, estamos na década de 60 e Rebecca foi intimada a depor para a polícia secreta da Alemanha Oriental. Enquanto isso, seu irmão, Walli, inicia os primeiros passos de uma carreira musical, que certamente não terá lugar na sua terra natal. A família foi dissidente do nazismo e agora se confrontava com a censura soviética.

Nos Estados Unidos, George Jakes, filho de uma negra e de um russo, que ascendeu à política, sonha em criar os direitos civis, que podem mudar a forte segregação racial no País. Torna-se advogado e consegue um posto de confiança de Bob Kennedy. Ainda do lado norte-americano, temos os irmãos Cameron, que vai representar o pensamento de extrema direita, e Beep, sua irmã, cujo lema será a liberdade de expressão. 

Na União Soviética, os gêmeos Tanya e Dimka, cuja família é toda militar e ligada ao governo, trabalham em prol da reforma do comunismo em que vivem. Almejam os valores iniciais deste sistema, baseados no fim da luta entre classes e nos direitos igualitários. Enquanto ela utiliza seu posto de jornalista da TASS (agência russa de notícias) para colher e levar informações verdadeiras à população por meio de veículos alternativos, seu irmão é ligado à alta liderança política, e vai buscar de todos os modos aliados para mudar o regime.

Na Inglaterra, outros dois irmãos saem em busca de seus sonhos. Dave e Evie. Ele como músico e ela como atriz. Utilizam suas influências para contribuir com as mudanças que o mundo enfrenta.

Claro que há cenas clichês, exageros dramáticos, mas de modo geral, Follett nos leva a uma viagem por fatos históricos, com falas de personalidades como John F. Kennedy, Robert Kennedy, Martin Luther King, Richard Nixon, Walter Ulbricht, Nikita Sergueievitch Kruschev, Mikhail Gorbachev, entre outros tantos. Acompanhamos a Guerra do Vietnã, a construção do Muro de Berlin, a perseguição aos negros nos Estados Unidos, o célebre discurso de Martin Luther King e o nascimento da cultura Hippie. Tudo isso com passagens bem eletrizantes, como as fugas da Alemanha Oriental, a forma com que os dissidentes russos trocavam mensagens e a viagem de George ao sul do seu País, região que mais segregava os negros. O final é lindo e traz um momento bem recente da nossa história, mas que ainda está longe de ter aliviado a tensão e as injustiças do mundo. Vale cada página.

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Segregação racial nos EUA. Veja fonte da foto

Queda do Muro de Berlim. Veja fonte da foto

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