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sexta-feira, 3 de maio de 2019

a costureira de dachau


"Algo tinha acontecido. Ela podia sentir o gosto de metal na boca, o estômago apertado. Suas mãos e axilas começaram a suar. Estava sozinha. Eles tinham ido embora. Seu maxilar começou a tremer e os dentes, a bater. Seu corpo todo tremia. Eles podiam voltar. Ela ia chorar de novo. Seus nervos se agitaram e as lágrimas surgiram, envoltas em uma valsa macabra."


Terminei de ler este livro com uma terrível dor de cabeça. Custou-me a aceitar o desfecho da história. Não que tenha sido ruim, do ponto de vista literário, mas inesperado, tamanho o realismo aplicado. Fiquei revoltada mesmo. “A costureira de Dachau”, da britânica Mary Chamberlain, passa-se durante a segunda guerra mundial. Ada Vaughan é uma jovem inglesa de 18 anos. Ambiciosa, sonha em ter sua própria casa de costura. Para tanto, não hesita em buscar formação. Dedicada, logo aprende as principais técnicas do ofício, destacando-se nos empregos que consegue.

Mas, infelizmente, acaba se deixando levar pelas promessas de um homem que se diz encantado por ela. Resultado: antes totalmente devota ao trabalho, acaba tirando uns dias de folga para passear em Paris, mesmo com o anúncio da guerra que pode começar a qualquer momento. É claro que ela se dá mal. De Paris, acaba fugindo às pressas com o moço para a Bélgica. Lá, ele simplesmente a abandona durante os bombardeios na cidade de Namur. Desamparada, consegue abrigo em um convento. Ao invadirem o país, os soldados alemães aprisionam todos os ingleses, seus inimigos, e isso inclui as freiras. Como Ada usava este disfarce, é também levada para Munique, na Alemanha. Em seguida, para Dachau, considerado o primeiro campo de concentração criado pelos nazistas.

Mas ela não ficava no campo propriamente dito, e sim na casa onde morava o comandante responsável por aquela área, bem como sua respectiva família. Escravizada, come o pão que o diabo amassou. Seu único consolo, entre surras, humilhações e violações sexuais, é poder costurar, mesmo que seja para embelezar seus algozes. Isso não é tudo, porém. Ela ainda terá que lidar com a dor de ver seu filho sendo arrancado de seus braços. Sim, ela engravida, mas isso não é spoiler. Há muito mais surpresas neste livro, que é dividido em três partes. Super recomendo, sobretudo para entender o preconceito da época, e que fez muitas mulheres, que como Ada tinham sonhos e corriam atrás deles, padecerem. 
O começo e algumas partes remetem a outro romance com nome parecido: "Tempo entre costuras", da espanhola Maria Dueñas.

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