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sábado, 10 de setembro de 2022

o palácio de papel



"A espera começa cedo, acho. As mentiras começam cedo. Mas também os sonhos e as esperanças e as histórias."


"Olhamos o futuro e o passado,

E ansiamos pelo que não

existe:

No nosso riso mais

impensado

Certa dor persiste;

Nossas canções mais doces

falam

do pensamento mais triste."


Percy Bysshe Shelley (To a Skylark)


Sim, sou daquelas que compram livros pela capa. Neste caso, me chamou a atenção durante um passeio pela livraria com minha amiga. Nós duas nos interessamos por este livro, que se destacou dentre outros que aleatoriamente pegávamos nas prateleiras.

Concordo que não se trata da capa mais bonita que eu já vi, mas o título, aliado à sinopse, foi suficiente para que começássemos a leitura. E, de fato, "O palácio de papel", romance de estreia da norte-americana Miranda Cowley Heller e diretora da HBO, começou muito bem. Acompanhamos 24 horas na vida de Elle Bishop, que reflete sobre o que fez na noite anterior, quando transou, pela primeira vez, com o melhor amigo após o jantar entre as duas famílias. Casada com o inglês Peter, tem 50 anos e três filhos.

O amigo é Jonas, com quem compartilha importantes passagens da vida. Eles se conheceram ainda crianças em Cape Cod, litoral dos Estados Unidos, onde passavam os verões. Fiquei com muita vontade de visitar o cenário apresentado. "Esta é minha hora favorita em Back Woods. O amanhecer na lagoa, sem mais ninguém acordado." (também adoro esses momentos.)

O título faz alusão à casa da família de Elle, que há anos é seu refúgio. O nome foi dado pelo avô, que, sem muitos recursos, a construiu usando papelão prensado. E é justamente nesta casa que estamos, o local que pode dar as respostas que Elle precisa: ficar com o marido, que, sim, ama, ou com Jonas, sua eterna paixão. A narrativa, embora linear no momento presente, volta ao passado para mostrar sua infância e adolescência. Retoma ainda passagens da mãe e avó. As três carregando mentiras e muito, muito silêncio diante das violências sexuais e domésticas que sofreram. Inclusive, é neste dia que ela começa a entender sua mãe, com quem tem difícil relacionamento. Adianto que todas comeram o pão que o diabo amassou.

O livro é bom, todavia, com altos e baixos. Apesar de tanta desgraça, há certo alívio cômico nas frases da protagonista, como "odeio pegar pessoas no aeroporto. É um gesto que quase sempre dá errado." (super concordo) E é bonito acompanhar o amor de Jonas e Elle. Paixão que foi destruída por causa de uma tragédia, precedida por abusos e vergonha. Anos mais tarde eles têm a oportunidade de se aproximar, mas isso não acontece. Elle se casa com Peter e segue sua vida, mas Jonas se mantém presente como amigo. Até as férias em que tudo ruiu. Ou não, a depender do ponto de vista. "Desapego significa perder tudo o que você tem ou significa ganhar tudo o que você nunca teve?"

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