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domingo, 17 de outubro de 2021

o segredo do meu marido

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"Você podia se esforçar o quanto quisesse para tentar imaginar a tragédia de outra pessoa — afogar-se em águas congelantes, viver numa cidade dividida por um muro —, mas nada dói de verdade até acontecer com você. Pior ainda, com seu filho."


Nada tinha me preparado para o final de “O Segredo do meu marido”, da australiana Liane Moriarty.
O segredo do tal marido é apenas um dos pontos centrais do romance, recheado de meias verdades. A narrativa começa com Cecília a conjecturar sobre o quanto a queda do Muro de Berlim pode ter mudado sua vida. Até pensei que poderíamos adentrar, de algum modo, na Guerra Fria. No entanto, passou bem longe. Ela mora em Sidney, é extremamente metódica, organizada, consegue fazer seu tempo esticar à medida que assume cada vez mais responsabilidades. Sua rotina, porém, é colocada em cheque com uma descoberta. Ao procurar em seu sótão um suposto pedaço do muro de Berlim (daí seus pensamentos), lembrança de uma viagem, Cecília encontra uma carta do marido endereçada a ela: para abrir somente quando eu morrer, dizia o envelope lacrado. É óbvio que ela ficou extremamente curiosa. Ao mesmo tempo, não queria trair o companheiro. Pensamento vai, pensamento vem, ela acaba comentando com ele sobre a carta. O comportamento totalmente desproporcional do cara a deixa ainda mais intrigada. Pronto. Ela abre e daí tudo muda. O segredo do título realmente é algo horroroso e inaceitável. 

Enquanto isso, temos Tess, que mora em Melbourne e está levando o fora do marido. O pior é que o motivo é sua prima e melhor amiga. Os dois estavam apaixonados. Ela pega o filhinho de seis anos, larga os trabalhos da empresa que os três têm juntos (sim, além de tudo, sócios) e parte para a casa da mãe, em Sidney. Nessa cidade, há ainda Rachel, que está lidando com a iminente separação do seu neto. A nora foi convidada a trabalhar em Nova York, levando junto o filho e o netinho de dois anos, sua companhia e motivo das poucas alegrias. Ela teve, no passado, uma perda muito grande que jamais será superada. Apesar de estarmos numa cidade com mais de cinco milhões de habitantes, eu me senti lendo uma história que se passa em um vilarejo aonde todos se conhecem e se conectam. Na verdade, o que vai unir todas as personagens é o bairro em que mora e, especificamente, a escola em que estudaram e na qual Rachel, hoje, trabalha. De um jeito ou de outro, as vidas das três se entrelaçam, de tal modo que a ação de uma impacta nas outras. Leitura rápida e interessante. O posfácio traz a consequência de nossas escolhas e como elas podem mudar tudo ao redor. Ignorar uma criança te chamando é uma delas. Não precisava, Liane.

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