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sexta-feira, 23 de abril de 2021

a caderneta de endereços vermelha



"Nada é tão perfeito quanto um amor perdido."


“A caderneta de endereços vermelha”, da sueca Sofia Lundberg nos faz sentir saudades de tempos que não passamos e também repensar nossas escolhas. O romance fala sobre Doris, uma mulher que está chegando aos cem anos, mora sozinha em Estocolmo, tem a saúde bem frágil e depende da atenção de cuidadoras, muitas frias e distantes, que não se preocupam com o que ela sente. A exceção é a mais recente, que parece ler os pensamentos de idosa e cujo apoio vai além das necessidades físicas. Sua empatia será essencial para o momento atual de nossa protagonista. Aliás, desejo que todos que dependam de cuidadores possam ter um como Sara.

Enfim, seu momento de descontração é quando conversa, por vídeo chamada, com a sobrinha-neta, que vive nos Estados Unidos. A agitação e o barulho da família de Jenny, que tem três filhos, é tudo o que ela também gostaria de ter.

“Jenny manda beijos com as duas mãos, faz um gesto de despedida e desliga a câmera. A tela, até recentemente tão cheia de vida e amor, fica escura. Como o silêncio pode ser tão avassalador?”

E assim seguem seus dias. Até que sofre uma queda ao tentar alcançar uma caixa de chocolates. Estamos diante de uma pessoa que passou por muitas perdas e desencontros, mas que também viveu grandes aventuras. Quando criança, ganhou do pai uma caderneta vermelha, na qual foi anotando o nome de todas as pessoas que passaram por sua vida. Afetos e desafetos. Ao olhar os nomes, se recorda do que a levou a colocá-los ali e essas histórias serão compartilhadas conosco. Aos poucos, vamos conhecendo sua trajetória, que teve passagens na França e nos Estados Unidos, além de ter ficado no meio da segunda guerra mundial.

Ela foi tirada bruscamente da infância com a morte do pai em um acidente de trabalho. Sua mãe não conseguiu sustentar as duas filhas pequenas e mandou Doris, que tinha apenas dez anos, mas era a mais velha, para trabalhar com uma família rica. A partir daí, ela conhece o mundo da moda, faz amigos, agarra-se às oportunidades que surgem, conhece e perde o amor. A catástrofe parece que sempre vai acompanhá-la e junto o sentimento de incompletude. Ao saber do acidente, Jenny corre para a Suécia. Lá, decide dar uma última chance de felicidade à tia-avó. Será que vai conseguir? Este é daqueles livros que dá uma aquecida no coração. O final me lembrou muito "A adorável loja de chocolate de Paris", de Jenny Colgan. Leiam :-)

Dizem que loucura e criatividade andam de mãos dadas. Que os mais criativos entre nós são os que chegam mais perto da melancolia, da tristeza e das neuroses obsessivas.


"Eu desejo tudo de bom para você — murmurou no meu ouvido. — Muito sol para iluminar os seus dias, com chuva suficiente para poder apreciar o sol. Muita alegria para expandir a sua alma, dores suficientes para conseguir apreciar os pequenos momentos de felicidade da vida. E muitos amigos para dizer adeus de tempos em tempos."

"Comecei pelos mais finos e segui adiante, um romance atrás do outro. Livros fantásticos que me ensinaram muito sobre a vida e o mundo. Estava tudo lá, reunido naquelas prateleiras de madeira. Europa, África, Ásia, América. Os países, os aromas, os ambientes, as culturas. E os povos. Vivendo em mundos tão diferentes, e ainda assim tão parecidos. Cheios de ansiedade, dúvidas, ódio e amor. Como todos nós."

"Essa pode ser uma das coisas mais degradantes a que se pode submeter alguém, não se importar com o que a pessoa pensa."

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