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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

a memória do mar



Leitura de cinco minutos. Mas que nos diz muito sobre as pessoas que precisam deixar seus países por conta de guerras e como ninguém parece entender essa urgência. Pelo contrário, fecham as portas. Livro baseado na história de Alan Kurdi, menino sírio de apenas três anos que se afogou no Mediterrâneo em setembro de 2015. Sua foto, ao ser encontrado morto na praia da Turquia, chocou o mundo. O garoto fugia da Síria com a família rumo à Europa, mas o barco em que estava naufragou, matando 12 pessoas. Seu irmão de cinco anos e sua mãe também não sobreviveram. Restou ao pai retornar à terra natal para enterrar a família. Mas apesar de todo o alvoroço que a imagem causou, milhares de pessoas ainda passam pela mesma tragédia todos os dias.

A memória do mar”, do afegão Khaled Hosseini, é inspirado nesta triste história. De forma poética, um pai conta ao filho lembranças dos dias em que podiam andar calmamente pelas ruas, em que podiam admirar os campos de flores, em que muçulmanos e cristãos viviam em paz. Lembra ainda algumas passagens de sua própria infância, aqueles momentos simples, mas que são os que mais sentimos falta.

"a gente acordava de manhã cedo
com o farfalhar da brisa nas oliveiras,
os berros da cabra de sua avó,
o tilintar das suas panelas,
o ar fresco e sol,
um risco pálido cor de caqui ao leste."
Lamenta profundamente o fato de o filho não ter as mesmas recordações por ser muito pequeno quando tudo isso ainda era possível. Vieram, então, os protestos, as bombas, a fome, o sangue, os enterros. Essa, sim, a realidade que a criança conhecia. E muito bem.
"Mas aquela vida,
aquela época,
parece um sonho
agora,
até para mim,
um murmúrio
que há muito tempo se dissipou."
Na sequência, vieram a fuga, a praia fria, o idioma estranho e a hostilidade. Onde quer que tentassem construir um novo lar.
"Ouvi dizer que somos indesejados.
Que não somos bem-vindos.
Que deveríamos levar nosso infortúnio à outra parte."
Todo ilustrado, o livro termina com a angústia e o peso de quem havia prometido que tudo daria certo, que sempre protegeria o filho. Mas que não conseguiu cumprir com a palavra no cenário inóspito em que foram colocados.
"Eu disse
a você:
Segure minha mão.
Nada de mal vai acontecer."
"Tudo o que posso fazer é rezar.
Rezar para que Deus bem conduza o barco, quando a costa se perder de vista e nós formos só um cisco nas altas águas, rodando e afundando, facilmente engolidos.
Porque você, você é uma carga preciosa, Marwan, a mais preciosa que já existiu.
Rezo para que o mar saiba disso.
Oxalá."
Toda a renda com a venda do livro será destinada à Fundação Khaled Hosseini, que ajuda refugiados.

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