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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

a cultura da participação


Conclui “A cultura da participação – Criatividade e Generosidade no mundo conectado”, de Clay Shirky, com a sensação de quero mais. E de que posso mais. No livro, o autor expõe as vantagens de estarmos conectados. Começa mostrando o que as pessoas fazem no tempo livre, que ficou maior depois da revolução industrial. Na Inglaterra, antes, bebiam gim. Depois, veio a TV e começamos a passar horas de nossas vidas diante da tela. Segundo ele, tempo perdido e não produtivo, já que a comunicação é de uma só via. Hoje, a rede social é a bola da vez. Conta que o ‘compartilhamento’ permite avanços sociais, tecnológicos, científicos, dentre outros. “Algo que torna a era atual notável é que podemos agora tratar o tempo livre como um bem social geral que pode ser aplicado a grandes projetos criados coletivamente, em vez de um conjunto de minutos individuais a serem aproveitados por uma pessoa de cada vez.”

Também derruba conceitos sobre as gerações baby boom, x, y, z etc. Na verdade, é tudo balela. A diferença está na ferramenta e não nos anseios ou comportamento dos jovens.

Isso me fez rever a opinião que tenho sobre o exibicionismo exacerbado nas redes sociais. “Quando eu era adolescente, não fazia isso”, penso. E o que Shirky comentaria? “Era, sim, só não tinha as ferramentas para tal.” Bem, lembrei do 'Caderno de Recordação' que toda menina tinha e que passava de mãos em mãos solicitando um depoimento a nosso respeito. Idem para a 'Enquete', caderno que trazia em suas páginas questões a serem respondidas pelos amigos. Não eram on-line, mas compartilhavam. No fundo, queríamos que outros lessem as boas impressões a nosso respeito.

E a internet surge como o grande avanço para atiçar ainda mais o desejo de trocar informações, sempre por meio de interesses comuns. É a lógica do ‘publicar’. Se antes precisávamos de alguém que ‘autorizasse’ o envio de uma mensagem nossa para a grande massa, hoje isso não é mais necessário. Vejam o cyberativismo e suas decorrentes manifestações nas ruas. Isso porque, e o autor é bem enfático neste ponto, pessoas com os mesmos objetivos se unem e, juntas, elas conseguem encontrar as soluções para seus problemas. O que não aconteceria se agissem sozinhas. Isso vale desde uma reinvindicação no seu condomínio, discussões sobre doenças raras, fãs querendo chamar a atenção do ídolo ou denúncias de agressões aos direitos humanos. Passa ainda pelo aperfeiçoamento da própria tecnologia, como no caso do Linux. O código-fonte do sistema é aberto a todos que querem melhorá-lo. A própria Wikipedia permite edições em seu conteúdo. E sem a necessidade de se 'logar'. Sem cadastro, fica muito mais fácil a participação. 

Enfim, ele dá vários exemplos de como podemos aproveitar a ferramenta da qual dispomos. O livro termina com um episódio bem bacana: uma garota de quatro anos está assistindo a um programa de TV. Em determinado momento ela corre para trás da tela. Todos pensam que ela queria ver o que estava ali, se era lá o local das personagens. Mas não. Ela procurava o mouse. Para interagir. E quem sabe mudar alguma coisa. “Procurando o mouse” é o capítulo final. Uma deixa para vermos que a mudança pode estar, sim, em nossas mãos.

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