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sexta-feira, 24 de junho de 2011

mil dias em veneza, mil dias na toscana

Dois mil dias na Itália

Tudo bem que o tema já é conhecido: mulheres que largam tudo para viver uma história diferente e depois escrevem um livro. Tudo bem que há a sensação de clichê quando nos deparamos com contos nos quais “o amor não tem idade”. Tudo bem que descrever lugares turísticos facilita a leitura. Tudo bem que sou vegetariana e não me envolvo com a maioria dos pratos descritos no livro. E tudo bem que as capas são chamativas e os dois livros são, praticamente, o mesmo.

Mas há algo cativante na leitura de Mil Dias em Veneza (2003) e Mil Dias na Toscana (2004). Ambos, que chegaram ao Brasil em 2010, retratam a vida conjugal de Marlena de Blasi e Fernando. O casal se conhece em Veneza durante uma visita de trabalho da mulher. Entre um jantar e outro, decidem se casar. Ela larga um café e uma casa recém-decorada nos Estados Unidos. Ele abre mão da individualidade e das coisasvelhasacumuladas para receber a noiva em seu pequeno apartamento, num bairro considerado anexo de Veneza.

Aos poucos vão aprendendo a lidar com manias, indecisões, estados de euforia e depressão. Mas nada que comprometa o amor e a cumplicidade existente na relação. Gosto muito de ler os passeios de Choe, como Marlena é conhecida, pela romântica cidade italiana. Ela se joga nas embarcações e nos mostra lojas, mercados e uma interessante visão da biblioteca que frequenta.

Entre piqueniques, fornadas de pães, taças de vinhos e muito alecrim, a dupla passa a amar uma vida na qual as informações mais importantes são: o tempo de colheita de cada especiaria, um eminente festival, e uma nova forma de assar a massa. As receitas culinárias no meio da leitura funcionam como anúncios publicitários que não comprometem o enredo e que podem atiçar o paladar (com restrições, no meu caso, aos pratos à base de carne).

Sugiro a leitura da forma que fiz. Comecem com Mil Dias na Toscana, que nas primeiras páginas traz a estrada que tirará o casal da rotina, já estabelecida em Veneza, rumo a um vilarejo calmo, com céu azul, um bar, moradores curiosos, fornos de lenha e muitos capuccinos. Lá pelas tantas, antes do inverno, quando o velho ranzinza e companheiro do casal, Barlozzo, resolve contar sua história, interrompam a leitura e peguem o outro livro.

A narrativa do velho “duque” funciona como pausa para reflexão do que foi o desenvolvimento da trama de Marlena e Fernando. Já em Mil Dias em Veneza, folheamos uma mulher de meia idade com dois filhos “criados”, que se deu bem na profissão e que, aparentemente, desistiu do amor. Do outro lado do restaurante, um veneziano que esperou por um ano até dar o primeiro passo rumo a mudança que o aguardava. Autobiográficos, eles podem ser iguais a outros livros do gênero, como “Comer, Rezar e Amar”, que veio depois. Mas, diferentemente desse, os dois mil dias na Itália trazem a paz e a certeza de que tudo pode ser resolvido com um bom prato à mesa. Sempre, e não apenas no começo de uma história.

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