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sexta-feira, 24 de junho de 2011

noites brancas

Por oito anos ele vagava pela cidade. Observava tudo e ao mesmo tempo não via nada. Sem nome, sem origem, sem destino. Apenas a imaginação o fazia viver. Criava para si histórias que alimentava diariamente. Lá, existiam problemas, conflitos, amor, reconciliação e a emoção que não fazia parte da sua vida real, reduzida a paredes verdes desbotadas.

Numa bela noite clara, acorda e percebe que todos estão fugindo. Ele não foi comunicado e parece não ser bem-vindo ao novo cenário. Sem entender o que acontece, encontra uma moça que chora. A aproximação é dolorida como todas as hesitações que nos atormentam. Cheia de devaneios, ela também mostra-se sonhadora. Mas o que diferencia Nástienka do personagem sem identidade são os momentos de objetividade. De um encontro quase casual, surge uma poética amizade que só tem lugar às 22 horas. Aos sonhadores, qualquer laço onírico dentro da realidade pode ser suficiente para perturbar e confundir.

Solidão e fantasia. Este é o mote da obra Noites Brancas de Dostoiévski, escrita em 1848. O título é uma referência às “noites” de verão em São Petersburgo, nas quais não há pôr do sol e o dia se mistura com a noite.

A leitura pede certa despretensão. E será facilmente compreendida por aqueles que insistem em fantasiar instantes que nunca foram vividos. Faz lembrar uma obra impressionista, onde quase vemos o que quase nos é apresentado.

“Sou um sonhador; a minha vida real tão reduzida que momentos como estes que agora vivo são para mim de tal modo preciosos que não poderei evitar de os reproduzir nos meus sonhos.”

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