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sábado, 22 de dezembro de 2012

marcelo, marmelo, martelo - quem sou eu?

"O triste de tudo isto é que, à medida que crescemos, nos acostumamos não apenas com a lei da gravidade. Acostumamo-nos, ao mesmo tempo, com o mundo em si. Ao que tudo indica, ao longo da nossa infância nós perdemos a capacidade de nos admirarmos com as coisas do mundo." Esse é um trecho do livro 'O mundo de Sofia', de Jostein Gaarden. Lá é comentado o conformismo dos adultos. Aceitamos tudo ao nosso redor e paramos de indagar as coisas simples do dia a dia.

Mas no universo infantil não é bem assim. "Por que isso ? Por que aquilo?" fazem parte dos diálogos de quem convive com os pequenos. E a literatura infantil incorpora isso muito bem em seus textos. Um exemplo é 'Marcelo, marmelo, martelo', de Ruth Rocha. Marcelo tem muitas dúvidas. Quer saber por que a chuva cai, por que o mar não derrama e por que o nome dele não é marmelo ou martelo. Aliás, ele passa a implicar com os nomes dos objetos, das pessoas. Para ele, cadeira tem que se chamar sentador. Travesseiro é cabeceiro. Casa é moradeira. Muito mais apropriado, claro. Essa mania deixa os pais malucos e o garoto triste por não ser compreendido.


"O pai de Marcelo resolveu conversar com ele:
 Marcelo, todas as coisas têm um nome. E todo mundo tem que chamar pelo mesmo nome, porque, senão, ninguém se entende...
— Não acho, papai. Por que é que eu não posso inventar o nome das coisas?"

Outro que quer saber sempre mais é Pedro, do contagiante 'Quem sou eu?', do italiano Gianni Rodari. O título do livro é a pergunta que o menino faz a todos que encontra pelo seu caminho: mãe, irmã, amigos, motorista do ônibus e até a revista em quadrinhos. O resultado é a soma dos substantivos que indicam o que ele é para cada um dos interlocutores: filho, irmão, amigo, passageiro, leitor. E muitas coisas mais. O gostoso é ler o livro para crianças, que entram na brincadeira e repetem, tentando não errar, o papel cumulativo de Pedro. Ao mesmo tempo em que pensam no que elas são e podem ainda ser.


Aproveite também para recordar os bons tempos em que o 'por quê?' estava com você.


"— Quem sou eu? - Pedro pergunta à professora.
 Você é um aluno - ela responde.
'Está vendo', pensa Pedro. Mais uma coisa. 'Filho, menino, irmão, neto, primo, aluno.'
'E o que mais?' "

2 comentários:

  1. Será que gostamos de saber quem somos?

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    1. Penso que sim. Mesmo que tenhamos que lançar mão da fantasia. O que somos senão um acúmulo de ideias, sensações e sentimentos? :-)

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