Mas no universo infantil não é bem assim. "Por que isso ? Por que aquilo?" fazem parte dos diálogos de quem convive com os pequenos. E a literatura infantil incorpora isso muito bem em seus textos. Um exemplo é 'Marcelo, marmelo, martelo', de Ruth Rocha. Marcelo tem muitas dúvidas. Quer saber por que a chuva cai, por que o mar não derrama e por que o nome dele não é marmelo ou martelo. Aliás, ele passa a implicar com os nomes dos objetos, das pessoas. Para ele, cadeira tem que se chamar sentador. Travesseiro é cabeceiro. Casa é moradeira. Muito mais apropriado, claro. Essa mania deixa os pais malucos e o garoto triste por não ser compreendido.
"O pai de Marcelo resolveu conversar com ele:
— Marcelo, todas as coisas têm um nome. E todo mundo tem que chamar pelo mesmo nome, porque, senão, ninguém se entende...
— Não acho, papai. Por que é que eu não posso inventar o nome das coisas?"
Outro que quer saber sempre mais é Pedro, do contagiante 'Quem sou eu?', do italiano Gianni Rodari. O título do livro é a pergunta que o menino faz a todos que encontra pelo seu caminho: mãe, irmã, amigos, motorista do ônibus e até a revista em quadrinhos. O resultado é a soma dos substantivos que indicam o que ele é para cada um dos interlocutores: filho, irmão, amigo, passageiro, leitor. E muitas coisas mais. O gostoso é ler o livro para crianças, que entram na brincadeira e repetem, tentando não errar, o papel cumulativo de Pedro. Ao mesmo tempo em que pensam no que elas são e podem ainda ser.
Aproveite também para recordar os bons tempos em que o 'por quê?' estava com você.
"— Quem sou eu? - Pedro pergunta à professora.
— Você é um aluno - ela responde.
'Está vendo', pensa Pedro. Mais uma coisa. 'Filho, menino, irmão, neto, primo, aluno.'
Será que gostamos de saber quem somos?
ResponderExcluirPenso que sim. Mesmo que tenhamos que lançar mão da fantasia. O que somos senão um acúmulo de ideias, sensações e sentimentos? :-)
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