Filho de um nobre inglês e de uma socialite norte-americana, Sir Winston Leonard Spencer Churchill, sempre que necessário, soube aproveitar os privilégios oferecidos pela influência dos pais. Assim como também não desperdiçou os ensinamentos que teve com sua ama, Mrs. Everest, pela qual nutria extrema afeição.
Seu maior prazer era a guerra. Durante a juventude foi a Cuba, serviu na Índia, esteve na campanha do Sudão, atuou na Guerra dos Bôeres e foi correspondente do Morning Post. Todas essas atribuições estão detalhadas em “Minha Mocidade”. Autobiográfico e mostrando sua infância e juventude, o livro data de 1930, quando Churchill já estava com 56 anos.
Pelo tom do texto, traduzido pelo jornalista Carlos Lacerda, percebemos que as batalhas eram naturais e dispensavam explicações, tanto que não explica o porquê desses conflitos. Da mesma forma, não tinha dúvidas do quanto a Inglaterra era importante para suas colônias, em especial a Índia. Dizia que os indianos, ainda que agradáveis, eram primitivos e precisavam ser governados pelos ingleses. Para o próprio bem da nação.
Aventureiro e ambicioso, encontrou a emoção que tanto ansiava na Guerra dos Bôeres: lutas decorrentes dos avanços do Reino Unido no sul da África, o que não agradou os descendentes de outros colonos, em especial os holandeses. Lá, foi feito prisioneiro e sua fuga teve grande repercussão. Pulou de trem, escondeu-se num poço, dormiu com ratos e chegou até a receber ajuda da parte neutra dos inimigos.
Independente das batalhas e de concordamos ou não com suas atitudes, nós aprendemos muito com ele e com sua apaixonante narrativa.
Conhecimento
Churchill, na infância, lia livros considerados acima de sua idade pelos professores. No entanto, era sempre o último da sala. Motivo: só se dedicava, de fato, ao que gostava ou queria. “Onde minha imaginação ou minha curiosidade não estavam engajadas, não queria ou não conseguia estudar”, afirma.
Tinha uma coleção de soldados em casa e, enquanto estava na escola, só conseguia pensar na linha de combate que poderia formar com eles. Estudou nos melhores colégios, mas nenhum parecia satisfazê-lo. Somente mais tarde, sentiria falta de professores capacitados.
E é na Índia que percebe que sua escolha pela carreira militar o colocava em desvantagem diante dos intelectuais. Por isso, dedicou o tempo livre que tinha entre os treinamentos de cavalaria pela manhã e as partidas noturnas de pólo – afinal, o clima na Índia era insuportavelmente quente para que se fizesse algo do meio-dia até o fim da tarde – para estudar e ler tudo sobre filosofia, história, economia, política. Lia de quatro a cinco horas por dia.
Da Inglaterra lhe eram enviados, pela mãe, livros e mais livros. Para quem se interessar, alguns deles:
- Declínio e Queda do Império Romano, de Edward Gibbon
- Cantos da Roma Antiga, de Macaulay
- República, de Platão
- A Origem das Espécies, de Charles Darwin
- O Martírio do Homem, de Winwood Reade
- Citações Familiares, de John Bartlett
Percorreu, ainda, Sócrates, Schopenhauer, Malthus, entre outros. Sobre sua educação, dizia: “eu a abordava com o espírito vazio e faminto; com um par de sólidas mandíbulas mastigava tudo o que caía ao meu alcance.”
Pontualidade britânica
Apesar de ser um bom inglês, tinha certa dificuldade em cumprir os horários. Fragilidade corrigida no palácio real. “No seu regimento não lhe ensinaram a ser pontual, Winston?”, chegou a ouvir do Príncipe de Gales. No livro, enfatiza que considera a falta de pontualidade um grave delito. Para isso, basta “suprimir um ou dois encontros para reajustar as horas marcadas.” Comportamento que, segundo ele, poucas pessoas estão dispostas a ter.
Há males que vêm para o bem
A infelicidade pode ser boa, pois é possível que esconda uma desgraça ainda maior. Parece clichê, mas é o que o futuro primeiro-ministro britânico nos diz ao comentar a relação da sorte com o azar.
Foi assim com a luxação no ombro que o acompanhou durante toda a vida. O incidente aconteceu no desembarque em Bombaim, em sua primeira visita à Índia. Num movimento brusco, agarrou-se numa argola para evitar a queda dentro do barco e deslocou ombro. Isso o impediu de praticar o pólo, seu esporte preferido, com a destreza que sempre o fez. Contudo, “nunca se sabe se o azar se transforma em sorte”, enfatiza ao comentar que, por causa das dores, teve que utilizar mais tarde, durante um combate, uma arma moderna no lugar de uma esperada espada, o que lhe salvou a vida durante embate com o inimigo.
Oratória não é dom, mas treino
Churchill é conhecido por discursos históricos. No entanto, sua primeira tentativa foi frustrada. Preparou uma longa e meticulosa exposição e quando chegou ao local combinado para que fosse proferida, encontrou apenas um ouvinte. Dobrou o papel e voltou para casa.
No entanto, não desanimou e dá algumas dicas:
- Não ultrapasse o tempo que lhe foi dado.
- Ensaie. Ensaie. Ensaie.
- Não se apresse.
- Não se perturbe.
- Não explore as fraquezas do auditório.
- Ensaie mais um pouco com alguns ouvintes cobaias.
“À medida que se desenrolavam as frases e as passagens que tão bem conhecia, tive a impressão de que a coisa ia naturalmente.”
Escritor
Além de político, militar e jornalista também foi um exímio escritor. Escreveu 43 livros, que podem ser conferidos no site do The Churchill Centre and Museum.
Algumas lições da época em que estava escrevendo “The River War”, sobre a Batalha de Omdurman, no Sudão:
- Leia tudo o que puder sobre o assunto que redige.
- Conheça vários outros estilos antes de definir o seu. “Eu adotara uma combinação dos estilos de Macaulay e de Gibbon: as bruscas antíteses do primeiro e as torneadas frases do segundo, acrescentando, de quando em vez, por minha conta, alguns trechos de meu próprio estilo.”
- Preste atenção nos parágrafos. Cada um deve abranger um episódio e não pode deixar de se comunicar com os demais.
- Já os capítulos devem ter o mesmo valor e tamanho. E cada um deles deve formar um todo.
- Evite começar uma história com “quatro mil anos antes do Dilúvio”.
- O “bom senso é a base para escrever bem.”
No mais, cuide bem do seu texto, pois ele pode ser seu companheiro a qualquer hora e para sempre. Não foi por acaso que ele recebeu, em 1953, o Prêmio Nobel de Literatura pela sua obra “A Segunda Guerra Mundial”.
Seja único
Em 1898 chegou aos seus ouvidos que havia outro escritor com o nome Winston Churchill. “Felizmente”, morava longe, nos EUA, mas gozava de grande prestígio. Para evitar confusões por conta do homônimo, partiu do nosso célebre autobiógrafo a iniciativa de contato e a informação que doravante adotaria o nome Winston Spencer Churchill para assinar suas publicações. Episódio narrado com bom-humor e que foi conduzido de modo extremamente perspicaz.
Reconhecimento
Muitos cavalos foram mortos nas batalhas das quais Churchill participou. Em uma delas, foi salvo por conta de uma carona no cavalo de um soldado batetor. Descreve que apesar de gravemente ferido, o cavalo continuava a se portar como um herói e rapidamente os tirou do alcance das balas que os rodeavam. Longe dos inimigos, o soldado - dono do cavalo - parecia inconsolável:
“- Meu cavalo, coitado do meu cavalo! Foi atingido por uma bala explosiva. Bandidos! Mas hão de pagar. Meu pobre cavalo!”
“- Não se preocupe por isso. Você me salvou a vida.”
“- Ah – lamentou ele – mas eu penso é no meu cavalo.”
Excelente personagem, grandes histórias.
ResponderExcluirObrigado por compartilhar.
Que bom que gostou :-)
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