"Sem ciência, indústria e técnica não há progresso possível, e sem música e arte não há alma."
Este é meu primeiro contato com a chilena Isabel Allende. E já quero mais. "Longa pétala de mar" é daqueles livros que não conseguimos largar. A narrativa começa durante a Guerra Civil Espanhola, confronto entre republicanos, ligados ao comunismo, e nacionalistas, alinhados com o fascismo e nazismo. Estima-se que tenha deixado mais de meio milhão de mortos entre 1936 e 1939, período em que os conflitos aconteceram.
É neste cenário que conhecemos o jovem médico do exército republicano Vitor Dalmau. Toda a sua dedicação à medicina começa quando salva um garoto que estava com o peito aberto e coração exposto. Com as próprias mãos consegue reanimar o órgão, devolvendo o rapaz à vida. Mas seu irmão, Guillen, não tem a mesma sorte e morre deixando a namorada, Roser Bruguera, grávida. Ela havia sido acolhida pelo pai deles, que viu na moça uma promissora pianista. E durante muito tempo cuidou de Guillen, quando ele retornou de uma das batalhas totalmente desenganado. Não demora e os dois se apaixonam. Mas Guillen volta ao combate e não resiste. Com o avanço dos inimigos e preocupado com a família, que já não tem mais o pai que também morreu, Vitor faz de tudo para tirar a mãe, Carme, e Rose da Espanha. Com a ajuda de um amigo, as duas seguem para França. Carme, porém, fica pelo caminho, pois não consegue deixar a terra natal e cheia de lembranças. Já Rose fica em um abrigo até reencontrar Vitor meses depois. É quando entra em cena o poeta chileno Pablo Neruda, que ajudou mais de dois mil espanhóis a buscarem exílio em seu país. Vitor vê no cargueiro Winnipeg a chance de sobreviver e salvar a cunhada e o sobrinho, que já nasceu. Porém, há algumas regras a serem obedecidas, e uma delas é que só quem é casado pode embarcar junto. Então, eles se casam e partem.
No Chile, ele prosperou na medicina e ela na música. Ele assume o filho do irmão, que o tem como seu pai. A relação de Vitor e Rose é baseada na amizade, o que deixa ambos livres para outros relacionamentos. Nessa, Vitor se envolve com a filha de uma tradicional família chilena, o que rende momentos dolorosos, principalmente para a moça. O livro está dividido em três momentos: guerra e êxodo, amores e desencontros, retornos e raízes. Lá pelas tantas, Vitor e Rose retornam à Espanha, mas apenas para descobrirem que o lugar deles está no Chile, a Pétala do Mar. Para escrever o romance, Allende se baseou em fatos e pessoas reais, como Vitor, um engenheiro que conheceu. O resgate feito por Neruda também aconteceu. Assim como o golpe de estado que derrubou o regime democrático em 1973 no Chile, assim como o presidente Salvador Allende, tio da escritora. E o fim? Quando parece que nada mais há de ser feito, surge algo que nos enche, novamente, de vida. Vale pelo romance. Vale pela aula de história.
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