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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

on the road

Motivada pelo lançamento do filme de Walter Salles, “Na estrada”, finalmente li o livro que o inspirou: “On the Road”, de Jack Kerouac, publicado em 1957. Queria terminá-lo antes da estreia nos cinemas, mas não deu. Os inúmeros “Iuuupi! Vamos lá!”, “Sim! Sim!”, “Claro! Claro! Claro!” de Dean Moriarty, o garoto-rebelde-cheio-de-problemas-aventureiro, travavam a todo instante minha leitura. Pode ser que eu o tenha lido tarde demais. Mas o fato é que tanta agitação da geração beat me cansou um pouco, apesar de o ritmo da escrita ser contagiante. 

Parece que estou, de fato, ouvindo Sal Paradise (ou Kerouac, já que o livro traz suas experiências) a narrar a história com a pegada do jazz. Admiro o espírito aventureiro dos garotos norte-americanos da década de quarenta, mas vejo certa tristeza e melancolia na voz de todos os personagens. Suas peripécias são tentativas, muitas vezes frustradas, de fugir da realidade que não condiz com os sonhos. No caso de Sal, reflete ainda a dor causada pela morte do pai, o que somente a versão completa da obra, publicada anos mais tarde, apresenta. E o refúgio passa a ser a admiração por Dean, o cara desprendido que tudo pode e tudo faz. 

Rodar os Estados Unidos de carona em carona, roubar cigarros, carros, esconder-se nas drogas, ter sempre uma pessoa a quem recorrer quando precisa de mais dinheiro e uma cama. É assim que Dean leva a vida. E é da mesma forma que as pessoas com quem cruza colocam, também, o pé na estrada no seu rastro. 

Lá pelas tantas, a mulher de um amigo – cansada de tantas andanças – o define muito bem: “Você não tem a menor consideração por ninguém, a não ser por você mesmo e por suas malditas diversões. Só pensa no que tem pendurado entre as pernas e em quanto dinheiro poderá arrancar das pessoas que te cercam antes de simplesmente largá-las na mão. E não é só, o pior é que você nem mesmo se importa com isso. Nunca passa pela sua cabeça que a vida é coisa séria e que existem pessoas tentando fazer algo decente em vez de apenas ficar agindo feito estúpidos o tempo todo.” 

Sim! Sim!”, diria Dear Moriarty, sem captar uma palavra sequer, o que me deixa entediada. Não sei se quero ver o filme na sequência. Depois de tantas viagens repetitivas, vou dar um descanso para os “beats”. Pelo menos por ora. 

Recomendo a leitura do texto de Ignácio de Loyola Brandão em sua coluna no Estadão. Lá ele fala sobre o “mítico rolo em que Jack Kerouac escreveu 'On The Road'”.


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