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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

liberdade

Lançado em 2011, "Liberdade", de Jonathan Franzen, é ideal para as férias, quando será possível lê-lo de uma só vez, sem pausas. O livro nos apresenta três protagonistas, tão reais quanto próximos de nós.

Temos a Patty, que vem de uma relação conturbada com os pais devido a sua baixa autoestima e percepção de que não tem os mesmos privilégios dos irmãos. Tal sentimento de inferioridade faz com que ela se isole e transfira sua energia para o basquete. Quer provar que pode ser boa em algo. Torna-se estrela do time universitário e quase entra para a seleção nacional. Foi impedida por um acidente e pela obsessão da melhor amiga, que quer controlar seus passos.  

Há o Walter, que foi o arrimo de uma família problemática. Advogado com muitas boas ideias, mas com extrema dificuldade para colocar seus pensamentos em prática. Entusiasta da causa verde, entra para um grupo que luta pela preservação da mariquita azul. Todos sabem que é apenas uma jogada para dar mais liberdade aos extratores de carvão. Ocorre que Walter não quer enxergar esse lado do negócio. 

Por fim, o Richard, metido a rebelde e, também, carente da proteção familiar. Ele joga suas angústias na música. Vive altos e baixos com suas bandas de rock. Nos altos, está sempre cercado de mulheres, cervejas e drogas. Nos baixos, dedica-se à construção de deques. Evita envolver-se seriamente com as mulheres. Até entender que é difícil excluir certas pessoas de sua vida.

Walter é o melhor amigo de Richard. Sentem grande admiração mútua. A tal ponto que, mesmo inconscientemente, se veem numa eterna competição. Entre Patty e Richard prevalece o encanto carnal. Entre Patty e Walter, o conforto que só a rotina pode proporcionar. Patty casa-se com Walter, marido aparentemente ideal: fiel, carinhoso, sempre disposto a fazer as vontades da esposa. Apesar de tudo, não consegue despertar nela um desejo mais intenso. Para isso, ela conta, secretamente, com Richard. E acaba escondendo-se sob a máscara de boa esposa e mãe perfeita.

Outros personagens aparecem no decorrer da história, que percorre mais de vinte anos. Joey e Jessica, filhos de Patty e Walter, que vão repetir as insurgências dos pais; Lalitha, a jovem indiana que faz Walter lamentar sua passividade; Connie, eterna e dependente namorada de Joey; Jenna, estereótipo das mulheres levianas, entre outros coadjuvantes.  

Em comum, eles tentam depositar suas expectativas e frustrações no Outro. Sempre vai haver alguém por trás dos fracassos, da falta de iniciativa e do medo de tentar mais uma vez. Livrar-se do confronto e da opinião dos que os rodeiam talvez seja a liberdade tão almejada. Quer saber como tudo isso vai acabar? Somente o tempo e as sucessivas desilusões irão dizer.


"Existe uma tristeza ocasional nos primeiros sons do trabalho alheio pela manhã; é como se o silêncio experimentasse uma certa dor ao ser quebrado."

"De onde vinha a pena de si mesma? E daquele tamanho descomunal? Segundo praticamente qualquer padrão, ela tinha uma vida muito boa. Todo dia, tinha o dia inteiro para encontrar algum modo decente e satisfatório de viver, mas ainda assim tudo que parecia conseguir com todas suas escolhas e toda a sua liberdade era mais sofrimento."

"Ele nem imaginava. Mas sentia que, por terem chegado tão perto do limiar e depois recuado tão atabalhoadamente, ambos tinham se vacinado contra o perigo de tornarem a se aproximar a esse ponto. O que agora lhe convinha à perfeição. Era assim que ele sabia viver: com a disciplina e a renúncia."



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