De Milan Kundera, eu li “A insustentável leveza do ser”, livro que foi para a tela dos cinemas numa linda adaptação com Juliette Binoche no papel principal. Por aqui, houve certo furor em torno do seu novo romance, já que o autor tcheco, que agora escreve em francês, ficou mais de dez anos sem lançar nada. “A festa da insignificância” é como um bate-papo entre amigos num fim de tarde. Tem o frescor da primavera. Recomendo que seja apreciado com um vinho branco gelado. Ou talvez com um armanhaque, tal e qual o adquirido por Rámon, um dos amigos que protagonizam a história.
Tudo começa com Alain caminhando pelas ruas parisienses refletindo sobre o umbigo exposto das moças. Ele não consegue entender o porquê desta parte ter se tornado objeto de desejo, lugar que já foi dos seios, das coxa e da bunda. Sua conclusão é que a massificação imperou definitivamente, já que todos os umbigos são iguais, ao contrário das demais partes citadas. É o fim da individualidade. Esta é uma entre tantas metáforas para tratar da insignificância da vida e de muitas coisas na quais acreditamos e pelas quais brigamos. Enquanto divaga sobre as formas de sedução feminina, no mesmo instante e nas proximidades do Jardim de Luxemburgo, Ramón tenta em vão assistir à exposição do artista expressionista russo Marc Chagall. Mas desanima-se com a fila. Nisso encontra um velho conhecido que acaba de receber o resultado de seu exame: não está com câncer. Algum motivo, contudo, o impele a dizer que, sim, está doente. Daí temos o convite para sua festa de aniversário e o encontro com os outros dois amigos, Charles e Calibã. Com eles vamos refletir sobre os motivos que nos levam a viver, a fingir, a querer e a morrer. "As pessoas não podem se atirar umas sobre as outras sempre que se encontram. Em vez disso, tentam jogar no outro o constrangimento da culpabilidade. Ganhará aquele que conseguir tornar o outro culpado", pensa um deles enquanto tenta entender seus próprios dilemas. Observadores, não deixam escapar nada, nem mesmo os que se escondem. "O silêncio chama a atenção. Pode impressionar. Te tornar enigmático. Ou suspeito."
Um dos pontos altos do livro são as conversas imaginárias com a mãe desaparecida de um deles e do ditador russo Stálin com seus subalternos. Só me fez querer mais deste autor. Só me fez querer caminhar sem compromisso, com pensamentos soltos, pelas ruas e parques de capital francesa.
Mais que um parque
"Lá, a atmosfera estava mais agradável; o gênero humano parecia menos numerosos e mais livre: havia os que corriam, não porque estivessem apressados, mas porque gostavam de correr; havia os que passeavam e tomavam sorvete; havia no gramado discípulos de uma escola asiática que faziam movimentos bizarros e lentos; mais adiante, no imenso círculo, havia grandes estátuas brancas de rainhas e de outras nobres damas da França, e, ainda mais adiante, no gramado entre as árvores, em todas as direções do parque, esculturas de poetas, de pintores, de sábios."
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Jardim de Luxemburgo, cenário do livro |
Olá, Kátia.
ResponderExcluirPergunta pra ti: você sabe quais são as regras sobre publicar trechos de livros em blogs? Não estou questionando. Na verdade meu objetivo é copiar essa sua prática (rs). Você saberia me dizer se há um número x de palavras que podem ser copiadas, ou condições específicas que devemos cuidar?
Abraço.
Oi, Renan! Não sei como responder precisamente sua questão. Mas a citação é permitida, desde que a fonte apareça. De qualquer forma, encontrei algo que possa ajudá-lo: http://nbb.com.br/pub/audiovisual02.pdf :-)
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ResponderExcluirMuito obrigado!
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