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segunda-feira, 29 de julho de 2013

os enamoramentos

Eu comprei este livro pela capa. E também pelo título. Olhem que lindo: 'os enamoramentos'. Irresistível. Ele conta um capítulo da vida de María. Funcionária de uma editora de livros em Madri, costuma estender seu café da manhã apenas para observar o casal que costuma fazer o desjejum na mesma cafeteria que ela. Aparentemente apaixonados, os dois nem desconfiam da fã que têm. "Numa hora em que ninguém quer saber de nada, ainda menos de festas e risadas, falavam sem parar, se divertiam, se estimulavam, como se tivessem acabado de se encontrar ou até de se conhecer." Assim, María divagava e se inspirava para mais um dia de trabalho. Até que o homem, Desvern ou Desverne (a menção é desta forma), é morto por um mendigo. Luisa, a esposa, fica inconsolável. E María também, por perder seu conforto diário. 

Toda a primeira metade do livro é com belas digressões sobre a perda, a morte e a separação. Mas de um jeito que consola. Interessante ainda a narrativa. Tudo é contado por María. Por sua voz somos levados, inclusive, aos supostos pensamentos dos outros personagens. Já a segunda metade vai na linha do "Sim, é tão fácil introduzir a dúvida em alguém." Neste ponto, conhecemos Javier, amigo do casal, e a protagonista é envolvida em algo que logo vai querer esquecer. Não posso dizer mais nada. O livro está cheio boas frases, além de referências literárias que vão justificar alguns atos, como a novela 'O Coronel Chabert' de Balzac, apresentada praticamente na íntegra. Vale conhecer o autor, o espanhol Javier Marías. Reparem que os personagens levam seu nome ;-)

Frases do livro (são muitas, mas não resisti)

"Há gente que nos faz rir mesmo sem se propor, consegue fazê-lo principalmente porque sua presença nos deixa contentes e assim para soltar o riso basta muito pouco."

"Imagino que as pessoas fofoqueiras e venenosas sempre encontram um jeito de descobrir o que querem, principalmente se for negativo."


"Tendemos a desejar que ninguém morra e que nada termine, nada do que nos acompanha e é nosso querido costume.


"Vamos aprendendo que o que nos pareceu gravíssimo chegará um dia que nos parecerá neutro, apenas um fato, apenas um dado. Que a pessoa sem a qual não podíamos viver e por causa da qual não dormíamos, sem a qual não concebíamos nossa existência, de cujas palavras e de cuja presença dependíamos dia após dia, chegará um momento em que não ocupará nem sequer um pensamento nosso, e quando ocupar, de tarde em tarde, será para um alçar de ombros, e o máximo a que esse pensamento chegará será se perguntar um segundo: 'o que terá sido feito dela?', sem nenhuma preocupação, sem nem mesmo curiosidade."


"E sempre tem alguma coisa que desagrada em quem está presente, a nosso lado ou na nossa frente ou atrás ou adiante."


"Na realidade, qualquer um pode nos aniquilar, da mesma maneira que qualquer um pode nos conquistar, e essa é a nossa fragilidade essencial."


"A nenhum de nós deve ofender que alguém se conforme conosco, na falta de quem foi melhor."


"Amanhã mesmo iniciarei a tarefa de fazê-lo deixar de ser uma criatura e se transformar numa lembrança, mesmo que seja por algum tempo, uma lembrança devoradora. Paciência, porque vai chegar um dia em que não será."

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