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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

os catadores de conchas


"Foi tudo muito bom, em cada sentido da palavra. E, nesta vida, nada que seja bom é realmente perdido. Fica fazendo parte de uma pessoa, torna-se parte de sua personalidade."


"Os catadores de conchas", de Rosamunde Pilcher, entrou para a lista dos meus livros favoritos da vida. Não só pela narrativa, que é linda, tranquilizante. Mas por citar vários locais no Reino Unido: Gloucestershire, Carn Cottage, Cheltenham, Porthkerris, Cornualha, Londres. E, principalmente, pelos detalhes, que provam que a literatura sempre dá as respostas que precisamos. Eu acredito que a melhor leitura é quando o livro se ajusta perfeitamente ao momento em que estamos, aos nossos próprios questionamentos. Foi o que aconteceu com esse romance. Como diz a resenha do Sunday Express, esse livro é "um bálsamo muito bem-vindo para acalmar a mente agitada."   

Logo nas primeiras páginas entramos em outro mundo, o de Penelope Keeling. Universo cheio de jardins floridos, boa música, arte, casas no campo, no litoral e muita inspiração. A história se passa no início da década de 80, quando Penelope está com 64 anos. Lembranças nos levam à sua infância, juventude e ao período que cobre as duas guerras mundiais. Filha de um artista plástico, ela cresceu com conforto e liberdade. Mas com a segunda guerra, tudo mudou. Ainda assim, no meio dos conflitos, ela sempre soube encontrar motivos para seguir adiante. E é bem esse o espírito da personagem. "Mais tarde fará sol. Devo dizer isso a papai, pensou ela. Então, esse lhe pareceu um meio tão bom como qualquer outro de reiniciar o resto da vida que tinha pela frente." Mais que chorar por perdas, mortes e derrotas, o importante é acreditar que sempre é possível recomeçar. Não à toa, “O sol também se levanta”, título de Hemingway, é um dos livros citados e lidos pela protagonista. Aliás, o livro é cheio de referências literárias e musicais. Guardei algumas que vou atrás, como “Vidas Privadas”, de Noel Coward, e a poesia “Diário de outono”, de Louis MacNeice.

Há outro motivo que fez com que eu gostasse dela. Quando diz, que "jamais acalentara a ideia de usar uma peça confeccionada com uma pilha de animaizinhos mortos."

Além de sua trajetória, acompanhamos seus filhos Nancy, Olivia e Noel. A primeira é casada, tem dois filhos e almeja status social no condado em que mora. A segunda é a editora de uma famosa revista feminina, independente e totalmente despreocupada com relacionamentos amorosos. É a mais parecida com a mãe, de alguma forma. Já o caçula é ambicioso, gosta de estar com pessoas ricas e não se importa muito com a família. Bem parecido com o pai, que aparece pouco.

Há ainda o Richard, a grande paixão de Penepole. O trecho mais lindo do livro é quando ela conversa com uma amiga, a Doris, e diz que uma parte dele sempre ficou com ela. Já adianto que nenhum de seus filhos é dele, mas a delicadeza da percepção de nossa heroína nos faz refletir sobre tudo o que nos molda.

O título do livro vem do nome de um quadro de seu pai, Lawrence Stern. Depois de vários anos de sua morte, seus trabalhos, de uma hora para outra, passam a ser valorizados. Penelope tem três deles em sua casa, incluindo "O catador de conchas". Quando leilões envolvendo o nome de Stern surgem, Nancy e Noel entusiasmam-se, sem considerar que milhares de libras não compram o que as obras representam para a mãe.

Interessante também foi ler sobre autora, que escreveu esse livro quando tinha 60 anos após um desafio feito por seu editor. Ele pediu que Rosamunde escrevesse um romance para ser devorado e que explorasse as experiências de sua geração. Ela tinha três ideias iniciais: vida boêmia, herança e seu poder para desagregar e a época anterior à segunda guerra, que foram unidas após ela assistir ao documentário 'Pintando o calor do sol' na TV sobre os pintores de West Penwith, na Cornualha. Outras referências de sua vida também estão presentes, como Ibiza e o contato com artistas. Entender o processo criativo é sempre gratificante quando nos deparamos com algo que gostamos muito. Quando o livro tornou-se best seller, ela tomou uma dose de uísque com soda, 'solitária mas comemorativa’, e deu a notícia aos cachorros.' Nada mais Penelope.


Leitura com um clima bem inglês

7 comentários:

  1. A combinação de capas de livros e de fotos que tu coloca no blog fica tão boa. Às vezes eu entro blog não é nem pra ler, mas pra ficar correndo com a barra de rolagem para cima e para baixo, apreciando o arranjo.

    Muito bom!

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  2. Oi, Kátia. Veja só como vim parar aqui. Buscando críticas do meu livro favorito me encantei com este belo texto. Foi quando vi sua assinatura e tive a certeza de que se tratava de uma ótima reflexão escrita por uma sensível e competente leitora. Adorei ;)

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    1. Oiii, Juliana!! Que surpresa boa! Fico feliz que tenha gostado do texto. Até porque foi você que me indicou este livro maravilhoso. Muito obrigada! Beijos!! :-)

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  3. Oi, Kátia. Veja só como vim parar aqui. Buscando críticas do meu livro favorito me encantei com este belo texto. Foi quando vi sua assinatura e tive a certeza de que se tratava de uma ótima reflexão escrita por uma sensível e competente leitora. Adorei ;)

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  4. Oi uma cliente mim indicou esse livro hoje,com certeza vou comprar pra ler,amo ler e estou sempre procurando bons livros.

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  5. Olá, Kátia!
    Comprei esse livro recentemente, e estou encantada!
    Um bom livro é tudo de que precisamos em muitos momentos da vida.
    Seu texto é muito sensível. Adorei lê-lo!
    Abracos

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