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segunda-feira, 29 de abril de 2019

o menino do pijama listrado



“Quando as pessoas saem para 
marchar, eu nunca mais as vejo.”


Não sei por que demorei tanto tempo para ler “O menino do pijama listrado”, de John Boyne, lançado em 2007. Talvez por que teve uma época em que todos estavam falando dele? Ou por que achei que fosse deveras infantil? Enfim, nem a adaptação para o cinema eu tinha visto. E eis que, apesar de conhecer o enredo e o fim, me surpreendi muito com a leitura. O romance é narrado sob o ponto de vista de Bruno, um garoto alemão de oito anos. Tanto que parte da graça é a forma com que o texto é construído. As coisas e pessoas são nomeadas a partir do seu entendimento. De modo que temos o Fúria (Führer), Hasta-Vista (Auschwitz) e outras formas de chamar as coisas que só as crianças sabem fazer, mesmo sem entender o real significado: a irmã, Gretel, que era um ‘Caso Perdido’. O escritório do pai, onde era ‘proibido entrar em todos os momentos, sem exceção’. E por aí vai.

Contudo, essa inocência não o impede de sentir que está diante de algo muito ruim. Num belo dia, Bruno chega em sua casa, em Berlim, e vê que estão arrumando as malas. Contrariado, tenta conversar com a mãe sobre os motivos pelos quais não podem se mudar. Dentre eles, os seus três melhores amigos. Sem chance. Sem choro. A família parte para um lugar sombrio e estranho, que logo de cara choca o pequeno. Principalmente, quando vê adultos e crianças de pijama em um campo que dá de frente para seu quarto. Ou quando observa a fumaça preta que sai de uma grande chaminé ao longe.

“Bruno pôs o rosto junto ao vidro e olhou o que estava do lado de fora, e desta vez, quando seus olhos se arregalaram e a boca fez o formato de um O, as mãos ficaram bem juntas ao corpo, porque havia algo que o fez se sentir muito inseguro e com frio.”

Desapontado e sem ter muito o que fazer, parte para suas explorações. É quando encontra outro garotinho do outro lado de uma cerca, Shmuel. Surge uma linda amizade e ele passa a ver sentido no novo lar. São emocionantes os diálogos entre eles e realmente conseguimos ouvir as vozes de crianças. E um pensar sem maldade, algo bem distante do que de fato acontecia por ali. Perturbador e poético.

“Você fez alguma coisa ruim no trabalho? Eu sei que todos dizem que você é um homem importante e que o Fúria tem em mente grandes coisas reservadas a você, mas não acho que ele o enviaria para um lugar como este se você não tivesse feito alguma coisa pela qual ele quisesse castigá-lo.”