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domingo, 28 de janeiro de 2018

a sombra do vento


“Existimos enquanto alguém se lembra de nós.”


Pensei que gostaria mais de "A sombra do vento", do espanhol Carlos Ruiz Zafón. E olhe que tentei. Ele tem todos os elementos que gosto: paixão por livros, mistério, romance, frio, anos 50. Ainda assim, não me convenceu. 

Um pai, que é dono de uma livraria, leva o filho de onze anos para conhecer algo extraordinário e secreto. Ele não pode contar a ninguém o que verá, nem mesmo para a mãe, que morreu e com quem conversa em pensamento. O lugar é um “cemitério de livros esquecidos” (sebo?). Lá o garoto pode escolher qualquer livro. Acaba ficando com “A sombra do vento”, de Julian Carax, autor completamente desconhecido.

Daniel devora o romance em uma noite e fica encantado com a história. Até aí tudo bem.

Então conhece uma moça que é desesperada por este autor. O tio dela oferece valores altos para comprar o exemplar. Daniel se nega a vender, entretanto, acaba se aproximando da garota, que é cega e se propõe a ler o romance para ela. Surgem duas paixões. Por Clara e pela vida de Carax. Ele faz de tudo para desvendar o autor, vasculhando passado, seguindo passos, falando com pessoas. Acaba encontrando um comparsa, Firmín, que encontrou nas ruas e que o ajuda nas investigações. Isso não colou para mim. Por que tanta fascinação? Lá pelas tantas, uma personagem resume bem o meu pensamento: “você acha que porque tropeçou em um livro tem o direito de entrar na vida de pessoas que não conhece, remexer em coisas que não entende e que não lhe dizem respeito?”

Outra coisa que não colou foi outra paixão doentia. A do autor por uma tal de Penélope. Aos dezesseis, dezessete anos eles se apaixonam loucamente como se não existisse mais nada no mundo. A família é contra por um motivo bem forte, que o casal nunca vai ficar sabendo. Ah, quase esqueço de dizer que há uma figura sinistra que aparece aqui e ali com o intuito de destruir todos os livros (bem poucos volumes, aliás, já que o autor nunca vingou) de Carax. Por quê? Bem, o motivo de tanto ódio é revelado e a explicação só me deixou mais revoltada. Daniel lá pelas tantas encontra outro amor. Exagerado, claro. 

O que salvou foi o pano de fundo que mostra um pouco da Guerra Civil na Espanha e os resquícios que ela deixou. A segunda Guerra Mundial também é mencionada, mas como algo que parece distante dos espanhóis. Este é o primeiro de uma série de quatro. A não ser que aconteça algo que me faça ler os demais, vou parar por aqui.

Apesar de tudo, tem vários trechos que merecem ser destacados. Deixo aqui alguns :-)

“Cresci em meio a livros, fazendo amigos invisíveis em páginas que se desfaziam em pó e cujo cheiro ainda conservo nas mãos.”

“Eu, com aquela fé dos que ainda podem contar a idade nos dedos das mãos, achava que se fechasse os olhos e falasse com minha mãe ela me escutaria onde quer que estivesse.”

“Cada livro, cada volume que você vê, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram, que viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém passa os olhos pelas suas páginas, seu espírito se expande e a pessoa fortalece.”

“Quando a razão é capaz de entender o ocorrido, as feridas no coração já são profundas demais.”

“As pessoas que não têm vida sempre se metem na dos outros.”

“Dirigi-me para casa, onde tinha planos de pegar um bom livro e fugir do mundo.”

“As pessoas estão dispostas a acreditar em qualquer coisa antes de acreditar na verdade.”

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