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quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

a queda de gigantes



“A classe operária é mais numerosa do que a classe dominante, e mais forte. Eles dependem de nós para tudo. Produzimos a comida que eles comem, construímos as casas em que eles moram e fabricamos as roupas que eles vestem. Sem nós, eles morrem. Não podem fazer nada a menos que a gente deixe. Nunca se esqueça disso.”

Que livro sensacional. Sempre fui fã de histórias que retratam as grandes guerras. E “A queda de gigantes”, do escritor galês Ken Follett, não deixou a desejar. Acompanhamos aqui várias tramas simultâneas, datadas de 1911 até 1924, e sempre ligadas aos fatos da primeira guerra mundial.

Temos o núcleo de galeses, liderados pelos irmãos Ethel e Billy Williams. Os ingleses, comandados pelo Conde Fitz e por sua irmã, Lady Maud. Os alemães, com Walter von Ulrich. Os norte-americanos, com Gus Dewar. E os russos, e mais empolgantes, com os irmãos Grigori e Lev Peshkov. Todas as histórias, de certa forma, interligadas. Personagens reais se misturam com os fictícios, como o rei Jorge V, Winston Churchill, Woodrow Wilson, Kaiser Guilherme, Lênin e Trótski. Romance de tirar o folego. Não conseguia parar de ler. Este é o primeiro volume da trilogia “O século”, que retrata a evolução desses personagens, e seus descendentes, durante todo o século XX. 

Começamos com os trabalhadores das minas de carvão no País de Gales reivindicando melhores condições. Cansados da exploração dos patrões, se rebelam. Do outro lado, a aristocracia não sabe lidar com essas mudanças de pensamento e atitude. O líder é Billy Williams, que começou a trabalhar nas minas assim que completou 13 anos. Aos 16 foi responsável pelo resgate de colegas durante uma explosão. Sua irmã, Ethel, é governanta na casa dos ricos Fitzherberts. Enquanto Conde Fitz vive os luxos que seu título e riqueza proporcionam, sua irmã vai ser uma das embaixadoras dos direitos das mulheres com Ethel, que acaba entrando para a política após a gravidez. E é na casa dos Fitzherberts que jovens influentes em seus respectivos países se reúnem com o rei Jorge V para debater os indícios da iminente guerra. 

Na Rússia os dois irmãos tomam rumos bem diferentes. Eles tiveram uma infância bem complicada. Presenciaram o assassinato dos pais por tropas do czar e vivem em condições precárias tanto no trabalho quanto em casa. Mas enquanto Grigori esforça-se para juntar dinheiro e ir para os Estados Unidos, Lev vive se metendo em encrencas. E em uma dessas acaba roubando o sonho do irmão mais velho e embarca para a América em seu lugar. Para Grigori sobram as trincheiras e um lugar de destaque na Revolução Russa.

Enquanto isso, Walter von Ulrich apaixona-se por Lady Maud justamente quando Inglaterra e Alemanha estão em lados opostos. O namoro proibido dá o tom romântico ao texto. 

Nos Estados Unidos, o jovem assessor do presidente Gus Dewar também vive algumas desilusões amorosas. Mas trava interessantes debates políticos com uma amiga jornalista e com o presidente Wilson.

Com exceção do Conde Fitz e Lev, os demais personagens são propensos a lutar por boas causas. Interessante ver que há consenso em relação à guerra. Em determinado momento todos se perguntam o que estão fazendo ali, lutando contra inimigos que desconhecem e por causas que não são tão relevantes. “Já não conseguia se lembrar dos motivos, antes tão claros para ele, que haviam levado a Grã-Bretanha a entrar em guerra”, pensa Conde Fitz.

“O homem era o único animal que matava seus semelhantes aos milhões e que transformava a natureza em um deserto de crateras de arame”, traz outra reflexão, desta vez de Walter.

Aliás, os trechos que descrevem as batalhas nas trincheiras são bem tensos e muito bem escritos. Conseguimos ter uma boa visão do que era estar ali e das decisões rápidas que precisavam ser tomadas. Além das mortes e de como a pessoa se tornava apenas mais um corpo estirado no chão, já que o batalhão precisava seguir adiante. “Depois da experiência do campo de batalha, seria difícil levar a sério algumas das preocupações que as pessoas tinham em tempos de paz”. E é isso que fica após a leitura, super recomendada e que mostra como basta a insensatez de alguns e a conivência de outros para derrubar potências
e gigantes.

Como se não bastasse tantas mortes, os homens também envolveram os cães e
outros animais na guerra. Na foto, um cão mensageiro saltando por uma
 trincheira alemã. Fonte: Incrível História

Trechos

“O partido trabalhista não clama pela revolução. Nós já vimos a revolução na prática em outros países, e ela não funciona. Mas nós clamamos por mudança. Uma mudança séria, profunda, radical.”

“Os homens gostavam de inventar um conto de fadas no qual havia uma divisão de trabalho na família: enquanto o homem saía para ganhar dinheiro, a mulher cuidava da casa e das crianças. A realidade não era bem assim. A maioria das mulheres que Ethel conhecia trabalhava 12 horas por dia, além de cuidar da casa e das crianças. Malnutridas, sobrecarregadas, morando em barracos e vestindo trapos, elas ainda assim entoavam canções, riam e amavam seus filhos. Para Ethel, uma única mulher dessas tinha mais direito de votar do que 10 homens juntos.”

“Para Lênin, relaxar significava passar uma ou duas horas debruçado sobre um dicionário de língua estrangeira.”

“Era famoso por suas reuniões em que ninguém podia se sentar: segundo ele, as pessoas decidem mais rápido assim.”

 “Ele decidiu que era melhor relatar a situação a um superior e transferir o problema para outra pessoa.”

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

a irmã da pérola




“Sonhava com as noites frias e enevoadas de casa.”

E lá fui eu de mais um livro de Lucinda Riley. Foi o que menos gostei. O que aprecio em seu texto é justamente o ambiente frio e acolhedor. A névoa das paisagens que ela descreve e o friozinho que me faz sentir, mesmo que em pensamento. O que foi impossível com “A irmã da pérola”, quarto volume da série “As sete irmãs”. Nele, temos a história de Ceci. Já a achava meio sem graça antes. Conhecer seu ponto de vista só aumentou minha aversão pela personagem. Para piorar, ela vai para o lugar mais quente da Austrália. Até agora estou sentindo calor.

Essa série fala de seis irmãs suíças que são adotadas por Pa Salt, homem misterioso até mesmo para elas. Embora tenha sido próximo das filhas, ninguém sabe o que faz e como conquistou sua fortuna. Quando morre, deixa uma pista para cada uma delas dizendo de onde vieram. A primeira foi adotada no Rio de Janeiro (outro lugar quente, mas parte dos fatos acontecem na França). A segunda veio da Noruega. A terceira, do interior inglês. Em posse de suas coordenadas, todas partem para descobrir suas origens. A sétima é uma incógnita. Não faz (ainda) parte do time. Vale comentar que todas levam nome de estrelas da Constelação das Plêiades.

Ceci, a quarta irmã, vai para os recantos australianos. Lá descobre que tem sangue aborígene e nos seus ancestrais descobre o amor pela a arte, o que justifica suas próprias aptidões. Não me convenci nem um pouco. Ceci era grudada em Estrela, a terceira irmã. Quando esta parte para a Inglaterra em busca de seu passado, fica completamente desorientada. Proximidade que fazia mal a ambas. A separação permite que Ceci entre em contato com outras pessoas e que encontre outro motivo para viver. Antes de partir para a Austrália, faz uma parada na Indonésia e acaba se envolvendo com um fugitivo. Caso totalmente desnecessário no contexto. Ai, Lucinda! Andou pisando na bola. Na Austrália, ela se depara com relatos sobre seus antepassados: Kitty McBride e os gêmeos Drummond e Andrew. Ela veio da fria Escócia, e a todo momento parece sentir falta do frescor de seu país.
“Enquanto escrevia uma carta para a família, quase podia sentir o ar nebuloso e gelado, e visualizar a enorme árvore de Natal na Princess Street, enfeitada com minúsculas luzes que balançavam e dançavam com a brisa”. Eles vieram da Alemanha. Todos em busca de oportunidades no novo mundo. Kitty veio como dama de companhia da tia dos irmãos, já muito bem estabelecidos e donos de vários negócios, dentre eles o de pérolas. Até que foi gostoso acompanhar a história deles. Mas isso não chegou a salvar o livro. Com exceção de um trecho ou outro, fiquei bem decepcionada. Uma pena.

Trechos


“Kitty voltou ao convés, fascinada com o gado que ainda estava sendo desembarcado. Os animais pareciam magros e desnorteados enquanto desciam aos tropeços pela prancha. – Tão longe dos campos verdes e frescos de casa – sussurrou para si mesma.”

“Tudo está planejado antes mesmo de respirarmos pela primeira vez.”

“Então pensei que não era nunca dos grandes momentos que eu me lembrava; eram sempre as pequenas coisas, escolhidas aleatoriamente por alguma alquimia estranha, que ficavam no meu álbum de fotografias mental.”