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domingo, 18 de junho de 2017

a redoma de vidro




“Você nunca se decepciona quando não espera nada de alguém.”

O livro é narrado pela protagonista, Esther Greenwood. Ela tem dezenove anos e sofre de depressão. Só que ainda não sabe. Apesar de estudar em uma boa universidade e estar em Nova York para um estágio em uma famosa revista de moda, ela não vê sentido em praticamente nada. Tudo e todos a aborrece. Ao mesmo tempo ela é extremamente exigente com o trabalho e com os estudos. Ela teme o fracasso. Mas tanta cobrança a consome até que sucumbe. 


Na última semana em Nova York já dá fortes sinais de que não está bem. Após ser quase violentada durante uma das inúmeras festas que tem que ir, ela vai até o terraço do hotel em que está hospedada e joga pelos ares tudo o que tem, incluindo os vários presentes que ganhou da revista. Volta para casa apenas com uma sacola cheia de abacates.

Em casa, ela se tranca em sua redoma de vidro. A doença avança e ela é levada a um psiquiatra. Entre uma consulta e outra, ela vaga sem rumo por sua pequena cidade. Ela só quer dormir e nunca mais acordar. É fácil nos identificarmos com a protagonista. A narrativa é tão precisa que nos transporta para dentro de Esther. É como se nós estivéssemos passando pelas mesmas angústias. E a forma com que a doença se desenvolve é tão sutil que só nos damos conta quando o suicídio começa a ser a única solução. Antes disso, ela é apenas uma garota que não se conforma com as máscaras da sociedade. Alguém que não se encaixa ao modismo e que acredita que as pessoas são tolas e superficiais. Há algo, porém, que faz com que essa percepção, digamos não errada do mundo, seja insuportável a ponto de ela não conseguir lidar com mais ninguém.

Esse é o único romance de Sylvia Plath e é considerado autobiográfico. A poeta suicidou-se aos trinta anos, poucos meses após concluí-lo. Com certeza, deixou várias pistas que não foram interpretadas.
 

Trechos

“Resolvi tomar um banho quente de banheira. Deve haver um bocado de coisas que um banho quente não cura, mas não conheço muitas delas. Sempre que fico triste pensando se um dia eu vou morrer, ou perco o sono de tão nervosa, ou estou apaixonada por alguém que não verei por uma semana, me deixo sofrer até certo ponto e então digo: ‘vou tomar um banho quente.’”

“La estava eu outra vez, construindo a fantasia glamourosa de um homem que se apaixonaria por mim no instante em que me visse, tudo isso baseada em praticamente nada.”

“Eu poderia ter chamado o serviço de quarto, mas aí teria que dar gorjeta ao funcionário, e eu nunca sabia quanto dar. Eu tivera experiência bastante desagradável tentando dar gorjeta a pessoas em Nova York.”

“Odeio dar dinheiro para as pessoas fazerem o que eu poderia estar fazendo com facilidade. Me deixa nervosa.”

“Comecei a enumerar as coisas que eu não sabia fazer.”

“O problema é que eu sempre fora inadequada, só não tinha pensado nisso ainda.”

“Era o dia seguinte de Natal e um céu cinza debruçava-se sobre nós, abarrotado de neve. Eu me sentia estufada, apática e desiludida, como sempre me sinto depois do Natal.”

“A mãe do bebê sorria sem parar, segurando aquele bebê nos braços como se fosse a primeira maravilha do mundo. Fiquei encarando a mãe e o bebê em busca de uma pista que explicasse sua satisfação mútua, mas, antes de ter chegado a alguma conclusão, o médico me mandou entrar.”

“Odeio falar para grupos de pessoas. Normalmente escolho uma pessoa e me foco nela, mas aí fico achando que os outros estão me encarando e se sentindo excluídos. Também odeio gente que pergunta como você está e, mesmo sabendo que você está na pior, espera que você responda ‘tudo bem’”.

“Não teria feito a menor diferença se ela tivesse me dado uma passagem para a Europa ou um cruzeiro ao redor do mundo, porque onde quer que eu estivesse – fosse o convés de um navio, um café parisiense ou Bangcoc -, estaria sempre sob a mesma redoma de vidro, sendo lentamente cozida em meu próprio ar viciado.”

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