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domingo, 20 de dezembro de 2015

fama. um romance em nove histórias

"Quem escuta realmente o outro, quem é que se concentra na conversa do próximo? Todos estão sempre com a cabeça em outro lugar."

Eu comprei este livro por acaso em uma promoção. E na minha estante ele ficou por meses. Mas quando resolvi lê-lo, bastaram algumas horas. A leitura de “Fama”, do alemão Daniel Kehlmann é rápida e dinâmica. São noves histórias interligadas, com narrativas e linguagens distintas. Particularmente, sou fã de livros e filmes apresentados dessa forma, nos quais as decisões de determinados personagens vão interferindo na vida de outros, o que faz com que os protagonistas se revezem na trama. A fama do título pode ser momentânea, pode ser aspiracional. Pode enlouquecer ou salvar.


A primeira história é de um homem que apesar de trabalhar com computadores é contra a tecnologia para uso próprio, tanto que somente depois de muita insistência da família e amigos resolve ter um aparelho de celular. Eis que por uma falha sistêmica, ele passa a receber ligações de um tal de Ralf (o celular está presente a todo momento, tanto que o livro começa e termina com uma ligação). No começo fica irritado e tenta insistentemente falar com o SAC da operadora para corrigir o erro. Como nem na ficção alemã ele funciona (rá!), nada é consertado e as ligações prosseguem. Até que o cara resolve fingir que é mesmo o Ralf. Logo depois, em outro texto, descobrimos que trata-se de um popstar. Na sua própria história, ele se confunde com um fã. Muito interessante a forma com que o autor mostra os conflitos entre realidade e sonho. 

Temos ainda um escritor famoso, metódico e chato, que viaja com a namorada. Ela, por sua vez, é uma médica sem fronteiras (é o que sugere) que receia aparecer em uma das obras do namorado. Por outro lado, um nerd, que participa exaustivamente de fóruns de discussão, deseja ser personagem de tal escritor. Rende momentos ridículos e o texto em que aparece é todo escrito naquela linguagem ‘tipo assim, meio freak’. Também temos a visão de seu chefe, que se mete em uma tremenda confusão ao arrumar uma amante. Há a escritora que viaja para os confins da Ásia. Tudo dá errado e ela se perde do mundo. Detalhe: ela está substituindo o escritor já citado. A idosa que decide morrer na Suíça após descobrir que está doente e outro escritor famoso, de autoajuda, que mora numa luxuosa cobertura no Rio de Janeiro, bem perto das favelas. Seus livros são venerados por quase todos os outros personagens, mas tratados com desdém por Kehlmann (quem será que o inspirou?). O conto que fecha o livro deixa tudo ainda mais confuso, numa forte mistura entre criadores e suas criações. Leitura perfeita para uma viagem. E que viagem!

"Descobri que as pessoas não conseguem trabalhar juntas sem odiar uma às outras e que não se pode mandar em ninguém sem ser detestado."

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