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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A biblioteca mágica de bibbi bokken

"Quem mantém os dois pés
no chão não sai do lugar."

Vou estabelecer uma meta pessoal: ler todos os livros que tenho antes de adquirir outros. Mas quem gosta de livros, sabe o quanto isso é difícil. Logo vemos um título e já o queremos. Não levamos em consideração que há uma pilha em casa nos esperando. E assim nossa biblioteca cresce. Talvez nem tanto quanto "A biblioteca mágica de Bibbi Bokken", romance infanto-juvenil dos noruegueses Jostein Gaarder e Klaus Hagerup.

Gaarder é o autor de "O mundo de Sofia", um dos meus livros favoritos e que marcou minha adolescência. Já esse romance escrito em dupla não me agradou tanto, mesmo tratando de um assunto que me fascina. Uma pena, faz anos que eu o tinha, e estava guardado para ser lido às vésperas do fim de ano. Por algum motivo, acreditei que poderia combinar com o espírito natalino.

A história gira em torno das aventuras e devaneios de dois adolescentes: Nils e sua prima Berit. Após passarem as férias juntos na cidade de Berit, Fjærland, eles decidem trocar correspondências de forma diferente, por meio de um caderno de cartas, espécie de diário que vai e volta pelos correios. A ideia para esse diálogo, mesmo já existindo internet na época em que foi lançado (2003), é bem interessante e a narrativa, pelo menos na primeira parte, acompanha o ritmo, intercalando as cartas dos dois. É Nils quem compra o diário em Oslo, onde vive. Na hora de efetuar o pagamento, é surpreendido por uma mulher, com cara de doida e que parece babar em cima dos livros, que se oferece para ajudar com alguns trocados. A partir de daí começam as aventuras, que envolvem concursos de redação, viagens, sonhos malucos, bolinhos e muitas conjeturas. As pistas que seguem mostram que a mulher, Bibbi Bokken, está trabalhando em uma biblioteca mágica, escondida em algum lugar da Noruega. 

O que mais me incomodou foi a expectativa frustrada de chegar ao fim e descobrir que não houve surpresa ou reviravolta. As coisas aconteceram exatamente de acordo com o que parecia ser, ao contrário de "O mundo de Sofia". Talvez a comparação entre os dois romances, mais até que o fato de eu já ter passado há tempos da adolescência, tenha prejudicado a leitura, que poderia ter sido divertida em outras circunstâncias. No mais, não me empolguei com nenhum dos personagens, diálogos ou situações apresentadas. Pior, não fiquei com vontade de visitar a tal biblioteca. Acredito que cada um dos autores tenha escrito por um dos personagens, já que a narrativa é sempre em primeira pessoa. Por razões outras, porém, já coloquei mais um nome nos destinos que quero conhecer: Fjærland, na Noruega, e seus belíssimos fiordes. Toda leitura tem sua utilidade :-)

"Passeio pelas estantes da biblioteca. Os livros me dão as costas. Não para me rejeitar, como as pessoas: são convidativos, querendo apresentar-se a mim. Metros e mais metros de livros que nunca poderei ler. E sei: o que aqui se oferece é a vida, são complementos à minha própria vida que esperam ser postos em uso. Mas os dias passam rápido e deixam para trás as possibilidades. Um único desses livros talvez bastasse para mudar completamente a minha vida. Quem sou eu agora? Quem eu seria, então."



A versão que eu li


domingo, 20 de dezembro de 2015

fama. um romance em nove histórias

"Quem escuta realmente o outro, quem é que se concentra na conversa do próximo? Todos estão sempre com a cabeça em outro lugar."

Eu comprei este livro por acaso em uma promoção. E na minha estante ele ficou por meses. Mas quando resolvi lê-lo, bastaram algumas horas. A leitura de “Fama”, do alemão Daniel Kehlmann é rápida e dinâmica. São noves histórias interligadas, com narrativas e linguagens distintas. Particularmente, sou fã de livros e filmes apresentados dessa forma, nos quais as decisões de determinados personagens vão interferindo na vida de outros, o que faz com que os protagonistas se revezem na trama. A fama do título pode ser momentânea, pode ser aspiracional. Pode enlouquecer ou salvar.


A primeira história é de um homem que apesar de trabalhar com computadores é contra a tecnologia para uso próprio, tanto que somente depois de muita insistência da família e amigos resolve ter um aparelho de celular. Eis que por uma falha sistêmica, ele passa a receber ligações de um tal de Ralf (o celular está presente a todo momento, tanto que o livro começa e termina com uma ligação). No começo fica irritado e tenta insistentemente falar com o SAC da operadora para corrigir o erro. Como nem na ficção alemã ele funciona (rá!), nada é consertado e as ligações prosseguem. Até que o cara resolve fingir que é mesmo o Ralf. Logo depois, em outro texto, descobrimos que trata-se de um popstar. Na sua própria história, ele se confunde com um fã. Muito interessante a forma com que o autor mostra os conflitos entre realidade e sonho. 

Temos ainda um escritor famoso, metódico e chato, que viaja com a namorada. Ela, por sua vez, é uma médica sem fronteiras (é o que sugere) que receia aparecer em uma das obras do namorado. Por outro lado, um nerd, que participa exaustivamente de fóruns de discussão, deseja ser personagem de tal escritor. Rende momentos ridículos e o texto em que aparece é todo escrito naquela linguagem ‘tipo assim, meio freak’. Também temos a visão de seu chefe, que se mete em uma tremenda confusão ao arrumar uma amante. Há a escritora que viaja para os confins da Ásia. Tudo dá errado e ela se perde do mundo. Detalhe: ela está substituindo o escritor já citado. A idosa que decide morrer na Suíça após descobrir que está doente e outro escritor famoso, de autoajuda, que mora numa luxuosa cobertura no Rio de Janeiro, bem perto das favelas. Seus livros são venerados por quase todos os outros personagens, mas tratados com desdém por Kehlmann (quem será que o inspirou?). O conto que fecha o livro deixa tudo ainda mais confuso, numa forte mistura entre criadores e suas criações. Leitura perfeita para uma viagem. E que viagem!

"Descobri que as pessoas não conseguem trabalhar juntas sem odiar uma às outras e que não se pode mandar em ninguém sem ser detestado."

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

a lista de brett

Comprei pela capa. Olhem o cachorrinho

Sem querer, li dois livros recentemente que são perfeitos para o fim de ano. Combinam muito com o sentimentalismo que envolve o Natal e com as resoluções que fazemos no Réveillon.

O primeiro foi “A estrela mais brilhante do céu”, de Marian Keyes. O outro é o delicioso “A lista de Brett”, de Lori Nelson Spielman. Apesar de ter seus momentos piegas, é uma leitura que me levou a revisitar os sonhos de quando eu era adolescente. Muitos ficaram perdidos no tempo. Outros a vida mostrou que não eram viáveis. Mas o que me deixou feliz foi ver que consegui realizar a grande maioria. Ainda faltam alguns dos quais não desisti, como conhecer o Everest e saber mais sobre arqueologia (esse eu adaptei, pois o que eu queria mesmo era ser arqueóloga). Lembrei de um bonito trecho do divertido "Alta fidelidade", de Nick Hornby, que nos faz refletir sobre a infância e se a criança que um dia fomos teria orgulho do que nos tornamos.

E o livro de Spielman fala sobre isso. Brett tem 34 anos, é rica, mora em Chicago, tem um cargo importante na empresa da família e quando a mãe morre, se vê diante dos sonhos de quando tinha catorze anos. Para receber sua herança ela tem que riscar, em um ano, todos os itens da lista que fez naquela época, e que foi encontrada amassada no lixo pela mãe. Desejos que parecem distantes de seu estilo de vida atual. Mas o pedido da mãe deve ser cumprido. A relação inclui apaixonar-se, ter filho, dar aulas, ter um cachorro, um cavalo, entre outros. Brett fica desolada com esta imposição, mas aos poucos começa a ver sentido nessa corrida. Claro que a partir daí muita coisa é bem forçada, como o fato de tudo acontecer de forma sincronizada e os sonhos antigos serem, mesmo que sem querer, realizados. O que não tira o encanto da leitura. Afinal, contos de fada não têm muita explicação, não é? ;-)