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quarta-feira, 22 de julho de 2015

o que a vida me ensinou


Credibilidade Não Se Ganha. Conquista-se

Washington Olivetto dispensa apresentações. Publicitário famoso, entrou para a profissão precocemente. Suas campanhas são bem conhecidas e algumas tornaram-se ícones da publicidade. Quem não conhece o filme do primeiro sutiã da Valisère ou o garoto Bombril? Assim, com certeza, é sempre muito bom ouvir o que ele tem a dizer.

Em “O Que A Vida Me Ensinou - Credibilidade Não Se Ganha. Conquista-se” (adoro a segunda parte do título), ele bate um papo conosco. A narrativa, que não é linear, é marcada por episódios. Fala sobre o trabalho, sua dedicação a tudo o que faz, as amizades. Alerta que este lance de que a ideia ‘surge’ é balela. Na verdade, mais que talento, é preciso disciplina para tocar um projeto. Além de repertório e conhecimentos armazenados durante suas experiências. Ao jovem empreendedor, ele diria para compreender o sentido do trabalho em equipe e ficar atento a tudo o que acontece no mundo. Mais informação e menos preconceito para ouvir/ler/ver o que não gosta, enfim.

Aproveita ainda para falar sobre as lições que aprendeu sendo torcedor do Corinthians. Entre elas, que a democracia é possível em trabalhos de grupo, sempre que houver interesse comum, tolerância e respeito. A outra: “quem souber se comunicar com a massa corintiana vai saber se comunicar com o Brasil.” Concordo.

A importância da família é destacada: sua inspiração vem do pai, que foi um vendedor no qual todos confiavam. E da mãe, que ainda hoje acompanha sua trajetória profissional e comemora seu sucesso. “Mães devotadas ainda são fornecedoras de boa gente para o mundo.”

Termina o livro falando sobre os bons momentos da vida. Chega a refletir sobre o que é felicidade. Para ele, é passageira. O verdadeiro prazer e a diversão passam rápido. Por isso, a dica: “o negócio é mesmo curtir os curtos bons momentos, e tentar multiplicá-los, sempre. Se há um conselho que realmente posso dar é este: tente fazer com que sejam muitos os seus curtos momentos de felicidade. Para atingir esse objetivo, é preciso ter algum planejamento, controle de tempo e disposição para inovar. Esse é talvez um dos grandes segredos do viver bem: surpreender-se com as coisas já conhecidas. Para quem vê o mundo sem as lentes escuras da preguiça e do comodismo, há sempre algo de novo naquilo que já foi apresentado.” 

É isso aí. Anotei alguns trechos que eu mesma gostaria de ter dito, mas sei que essas palavras ganham muito mais força vindas dele. Aproveitem :-)



“Quando você faz malfeito é muito frustrante. E tem um detalhe: médio também é malfeito e frustrante, pelo menos segundo os meus critérios de avaliação.”


“O sucesso sempre depende de disciplina, dedicação e algum talento.”

“Confesso que a vaidade profissional me impede de ceder à tristeza, à depressão e à preguiça. Tenho duas características que não considero méritos, mas que fazem parte do meu jeito de ser e de agir. 1) Dificilmente falo dos meus problemas, com quem quer que seja. Não tenho humildade para pedir ajuda, conselho e consolo. Além disso, no momento em que revelo um problema, parece que ele adquire materialidade, passa a existir de verdade. 2) Para evitar essas situações de desgaste e fragilidade, procuro nunca me render ao baixo-astral.”

“Por vezes me perguntam que dicas eu daria para um jovem empreendedor da área. Eu lhe diria para compreender o sentido do trabalho em equipe. E lembraria que a visão de futuro é fundamental e mandatória. Ele precisa exercitar-se para construir um esboço do que vai acontecer no mundo dos negócios e da cultura. Precisa também sacar o que está mudando no universo do comportamento, levando em consideração as peculiaridades de cada lugar, de cada estrato econômico, de cada agrupamento humano.”

“Um dos problemas do ignorante é imaginar que algo novo é novo somente porque ele não sabe que já foi feito. Ele vê ineditismo onde não existe.”

“Esse profissional, o grande publicitário, é complexo. Não basta saber atender, planejar, criar e lidar com mídia. Dentro de tudo isso, um pouco de talento sempre é necessário. Mas também é fundamental que esse cara tenha disciplina. Conheço gente ótima, excelente, talentosíssima, com ideias maravilhosas, mas que não tem disciplina, não respeita regras, prazos e limites. Muitos dos talentosos acham que por conta de suas qualidades estão dispensados de seguir uma disciplina.”

“Muita gente perde oportunidades na vida porque não desiste das opiniões prontas criadas acerca de outras pessoas. É uma pena. Nesse caso, falta humildade para buscar o verdadeiro outro e, eventualmente, fazer uma mea culpa pelo julgamento precipitado.”


terça-feira, 21 de julho de 2015

as sete irmãs

Acabei de ler mais um livro de Lucinda Riley. Eu tinha prometido parar por conta do cenário do seu último lançamento: Rio de Janeiro. Não que eu não goste da cidade maravilhosa, mas sempre me encantei por seus livros por trazerem paisagens frias. Achei que Rio 40 graus não iria combinar. Mas ganhei o exemplar de “As sete irmãs” e na mesma hora comecei a leitura. Eis que estava enganada. Rio de Janeiro caiu muito bem nas histórias de época da autora. O livro faz parte de uma super saga que remete à Constelação das Plêiades, que por sua vez homenageia as sete filhas de Pleione e Atlas na mitologia grega. Ao todo serão sete volumes, um para cada irmã do título. 

Maia D'Apliése viaja, por meio de cartas e diálogos, para as terras fluminenses do início do século passado, precisamente na época em que o projeto do Cristo Redentor ganhava força e forma, ao mesmo tempo em que a riqueza do café se evaporava. Misturando personagens fictícios com personalidades reais, como o brasileiro Heitor da Silva Costa e o francês Paulo Landowski, cujos herdeiros ainda disputam a autoria do Cristo, inclui todos os elementos já conhecidos: amor impossível, morte, choro e hora de recomeçar.

Acompanhamos um pouco o processo criativo das primeiras esculturas que levaram ao monumento e os conflitos da sociedade carioca daquela época. Paris também faz uma ponta. Parece, na verdade, uma novela das seis. Bem bonitinho.

Tudo começa, ou termina como é o caso dos livros dela, na Suíça dos dias atuais. Maia e suas cinco irmãs foram adotadas por Pa Salt. Ninguém sabe ao certo em que circunstâncias. Assim como também não sabem por que a sétima ainda não chegou. Mas daí ele morre e deixa pistas para todas sobre suas origens. E cada um dos livros abordará uma delas. Pelo que ouvi, vai demorar uns dez anos até que todos os livros sejam concluídos. No Rio, Maia fica hospedada no mesmo hotel que fiquei há algum tempo. A descrição da autora é perfeita. Foi como reviver um fim de semana passado lá. Enfim, bom para relaxar. Previsível. Mesmo assim, sigo lendo e aguardando o livro 2 ;-)

domingo, 12 de julho de 2015

canoas e marolas


Ai, que preguiça falar do livro que acabei de ler. Fala de um tal de João das Águas que vai parar não sei como em uma ilha sei lá onde. Ele vai atrás da filha que nem sabia que existia. Descobriu do nada que é pai de uma estudante de Medicina, que trabalha com doentes terminais, e foi ao seu encontro. Chega a duvidar que é sua mesmo apenas para ter uma desculpa para recuar. No caminho cruza com um índio que acredita ser surdo e mudo e que passa a lhe fazer silenciosa companhia. A narrativa é em primeira pessoa. João pensa no que fez, ou melhor, no que nunca fez por pura... preguiça. Quer ver a filha, mas não quer. Quer mudar, mas não tem ânimo. Quer isso e aquilo e nada. E é este lenga-lenga até o fim. Chato. Deu até raiva do autor. Prosa poética já não me agrada. Aqui menos ainda. 

"Canoas e Marolas", de João Gilberto Noll, fala sobre a preguiça. Faz parte da coleção Plenos Pecados da editora Objetiva. São sete livro que trazem os vícios capitais: inveja, luxúria, avareza, preguiça, ira, soberba e gula. Dela, eu havia lido apenas o divertidíssimo "A Casa dos Budas Ditosos" (luxúria), de João Ubaldo Ribeiro.

Quando recebi a indicação do livro, fiquei animada. A preguiça é, na minha opinião, a grande destruidora de sonhos. As pessoas deixam de fazer o que gostariam porque é difícil agir. Cansa. Elas têm que persistir, suar. Com o marasmo em alta, resta dizer que são vítimas da sociedade. Que, infelizmente, não tiveram oportunidades. Papo-furado. Preguiça. Preguiça. Preguiça.

Com um tema tão bacana, por que João Gilberto Noll foi escrever algo tão ruim? Adoraria ler algo que instigasse, cutucasse, que eu pudesse citar. 

"O que eu queria mesmo era saber contar uma história limpa para contar. Fico aqui resmungando e resmundando e ninguém me ouve e ninguém me acorre", diz João em seus últimos momentos. Pois é. Desse jeito fica complicado mesmo. Ou teria sido justamente esta a intenção do autor? Se sim, uma pena.

"Aliás, naquele momento já não sabia mais se iria mesmo ao encontro dela ou ficaria enfim por ali com o garoto à beira do rio, tentando alguns expedientes para nosso sustento, pequenos furtos talvez; por enquanto não, por enquanto ainda tinha algum dinheiro, e esse seria usado entre aquelas matilhas de vira-latas que viviam por ali; jogaria um osso ou outro às vezes e eles me protegeriam quando fosse necessário me proteger; então eu gritaria pega esfola fere mata come até!"

quarta-feira, 1 de julho de 2015

alta fidelidade

Um vazio. Foi o que senti quando terminei de ler a última linha de “Alta Fidelidade”, do britânico Nick Hornby. Lançado em 1995, traduz perfeitamente o universo pop dessa década. Fiquei perdida diante de tanta referência musical. Dele conhecia apenas “Um grande garoto”, mas pela versão cinematográfica, que traz a melhor trilha sonora que conheci.

Rob Fleming está com 35 anos e acaba de levar outro fora. Para entender qual o seu problema e por que sempre é abandonado pelas mulheres, resgata os relacionamentos mais marcantes, aqueles que tiveram rupturas que mais o machucaram, o Top Five do Pé na Bunda. Reencontra amores da infância, adolescência e outros já da fase adulta. Tudo para mostrar que o último rompimento não é nem de longe o mais memorável. Balela, claro. O cara não se conforma por ter perdido a Laura. Sua vida gira em torno da música e de ‘os cinco melhores’ que cria com os seus dois funcionários e amigos, Barry e Dick. Os três passam o dia em sua loja de discos, a Championship Vinyl, fazendo listas, como: os cinco melhores discos para se ouvir numa manhã chuvosa de segunda-feira, cinco mais na categoria ‘discos para não sentir nada’, cinco bandas que ‘terão que ir para o paredão quando chegar o dia da revolução musical’ e por aí vai. Esnobes, não aturam pessoas com gosto musical limitado. Para eles, e aqui eu concordo, o repertório musical realmente importa e diz muito sobre a pessoa. Também é o principal motivo de tantos corações partidos.

"As pessoas mais infelizes que conheço, em termos românticos, são as que mais curtem música pop; e não sei se foi a música pop que causou o sofrimento, mas o certo é que essas pessoas já escutam canções tristes há mais tempo do que vivem suas vidas infelizes."

O livro me trouxe várias lembranças. Eu sempre gostei muito de música. Colecionava discos de vinil, fitas e CD. Fazia minhas próprias trilhas sonoras. Entendo quando Rob fala sobre a importância de se fazer uma fita. Passava horas tentando encontrar a gravação perfeita. Hoje está tudo mais fácil, basta criar uma playlist no Spotify e adicionar a música que quiser. Não há preocupação se o som vai ficar alto, baixo, se o espaço entre uma canção e outra é o mesmo em todas as faixas. Coisas que ficaram para trás. Contudo, a nostalgia veio mesmo pelo fato de eu não mais ter mais a música tão presente na minha vida. Antes eu conhecia todas as bandas do momento (dentro dos ritmos que aprecio). Via todos os videoclipes. Sabia todas as letras e praticava muito inglês acompanhando-as. Hoje, se a música for nova, dificilmente vou identificar quem está tocando, o que é triste.

Quase no fim do livro, Rob é convidado a listar seus cinco álbuns preferidos. Ele sempre sonhou com este momento e na hora H, ficou sem saber o que dizer. Embora eu tenha minhas preferências, também não consegui, naquele momento da leitura, lembrar dos meus favoritos. Mas fiquei com vontade de fazer isso agora. Aqui estão, não necessariamente na ordem. Claro que todos carregam referências dos momentos em que mais foram ouvidos. Ouvindo-os volto no tempo e revivo o que de melhor passei.

Use Your Illusion 1 e 2 – Guns n´Roses
Jagged Little Pill – Alanis Morrisette
Year Of The Cat – Al Stewart
Come Away With – Norah Jones
All That You Can´t Leave Behind – U2 

Para fechar, vi o filme baseado no livro. Se resistirem, não o vejam. Fiquem apenas com o livro. Ele se basta. E tem sotaque britânico ;-)

Trecho que atesta o clima cômico-deprê de Rob:

“Vocês já olharam alguma vez para uma foto de quando eram crianças? Ou fotos de famosos quando eram crianças? Me parece que esse tipo de fotografia é capaz de deixar a gente feliz ou triste. Tem uma foto adorável do Paul McCartney ainda molequinho, e da primeira vez que a vi me fez sentir bem: todo aquele talento, todo aquele dinheiro, todos aqueles anos de um vida doméstica abençoada, um casamento sólido que nem rocha e filhos lindos, e ele ainda não sabia de nada. Mas aí tem outras – JFK e todos os fodidos e desaparecidos do rock, gente que ficou louca, gente que perdeu o rumo, gente que se tornou assassina, que sofreu ou causou sofrimento de inúmeras maneiras – e a vontade é dizer: parem por aí mesmo! Melhor do que isso não fica! Nos últimos anos, minhas fotos de criança, aquelas que eu nunca queria que as antigas namoradas vissem... bom, essas fotografias passaram a provocar certo sentimento – não de infelicidade, exatamente, mas uma espécie de arrependimento profundo e silencioso. Tem uma em que estou de caubói, com um revólver apontado pra câmera, tentando parecer um caubói e não conseguindo, e hoje em dia mal posso olhar pra ela. A Laura achava um doçura (ela usou essa palavra! Doçura, contrário de azedo!) e pregou a foto na cozinha, mas coloquei de volta em alguma gaveta. Fico querendo me desculpar com o molequinho: 'Desculpa, te decepcionei. Era eu a pessoa que devia ter cuidado de você, mas fiz besteira: tomei decisões erradas nas horas erradas, e você se transformou em mim.'”