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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

maratona animal

Sou entusiasta das causas voltadas aos direitos dos animais. Que eles pensam, sentem dor e se apaixonam são questões indiscutíveis para mim. Tampouco preciso de pesquisas científicas que me comprovem isso. Contudo, muitas vezes elas são necessárias para convencer os mais resistentes. Mas basta um rápido olhar para um dos meus cães para saber que a briga faz sentido. Até que todos os bichos do mundo voltem a sorrir J

Estimulada por uma lista que vi na Estante Virtual, resolvi fazer essa maratona literária. Vou ler vários livros que trazem os animais como tema principal. Afinal, como diz Antonio Candido, a literatura “manifesta emoções e a visão de mundo dos indivíduos e dos grupos; ela é uma forma de conhecimento, inclusive como incorporação difusa e inconsciente.”

E aí? Alguém se habilita a ir comigo nesta prova cheia de emoção?

A lista na Estante Virtual




terça-feira, 28 de outubro de 2014

o pintassilgo

Está aí um livro de 720 páginas que li praticamente ‘numa sentada’. Logo no início fui cativada pela história, que começa com um homem escondido em Amsterdam. Sem entender o que se passa, retrocedemos alguns anos, direto para um atentado no Metropolitan Museum of Art, em Nova York. O ponto zero.
 
Em “O pintassilgo” (The goldfinch), o protagonista é Theo Decker, de 13 anos. Após ter aprontado na aula, ele tem que ir junto com a mãe falar com o diretor da escola. Antes, porém, uma chuva faz com que eles se abriguem no museu, no meio do caminho. A mãe é apaixonada por arte e fica feliz em mostrar para o menino o seu quadro favorito, o Pintassilgo. Aliás, todo o romance da norte-americana Donna Tartt gira em torno dessa obra, pintada em 1654 pelo artista holandês Carel Frabitius, discípulo de Rembrandt, e hoje exposta no Royal Picture Gallery Mauritshuis, em Haia, na Holanda.
 
Mãe e filho passeiam pelas galerias e, num breve desencontro entre os dois, há a explosão e tudo vem abaixo. O garoto sobrevive e, ao sair dos escombros, leva com ele o quadro holandês. Como superar a morte da mãe e o que fazer com o objeto que furtou são questões que o atormentam. Sem saber a localização do pai, ele é levado para a casa de um amigo. Tempo depois, o pai reaparece e o leva para Las Vegas. No deserto, conhece o russo Boris, que tem mais ou menos sua idade. Os episódios vividos pela dupla me remeteram ao romance “On the road”, de Jack Kerouac, publicado em 1957. O russo lembra o rebelde Dean Moriarty, com seus inúmeros e chatos “Iuuupi! Vamos lá!”. Enquanto Théo é Sal Paradise, que segue a onda do amigo. Tanto lá quanto cá, fiquei entediada com as aventuras. Assim como fiquei nas últimas páginas com tantas divagações repetitivas. Mas nada que comprometa o enredo de Tartt, que felizmente, é muito mais interessante. Inclusive, com direito a um thriller policial lá pelas tantas. Além de pitadas de Dostoievski, Proust, Yeats. 

A autora traz ainda muitas referências da música, das artes plásticas e das antiguidades, já que Theo caminhará também por essas veredas. “Quando estamos tristes – pelo menos eu sou assim – pode ser reconfortante nos apegarmos a objetos familiares, às coisas que não mudam.” Atenção sobretudo aos diálogos dele com Hobie, amigo-pai-padrinho que ganha no decorrer da trama. Vendedor do Prêmio Pulitzer em 2014, vai virar filme em breve. Fica muito a dica.


Trechos:
 
“No inverno, pelo menos, você pode pôr um casaco a mais...”
 
“Não combina com nada que eu tenho, mas não acontece sempre de aquela coisa inapropriada, aquilo que não se encaixa de fato, ser curiosamente a mais querida?”
 
“Todos sempre querem conversar, mas gosto de ficar em silêncio.”
 
“A maioria das pessoas parecia satisfeita com o fino esmalte decorativo e a ardilosa iluminação de palco que, às vezes, fazia a atrocidade intrínseca de a desagradável situação humana parecer de certa forma mais misteriosa ou menos repugnante.”
 
“Mistura deliciosa de gengibre e figos, com chantili e raspas minúsculas e amargas de casca de laranja por cima.”
 
“É difícil concertar as coisas. Você nem sempre tem essa chance.”
 
“O objetivo das coisas – das coisas belas – não é te conectarem a uma beleza maior?”