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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

perdão, leonard peacock

Leonard Peacock está completando 18 anos. Filho de estilista e de ex-astro do rock, está prestes a se suicidar. Antes, porém, precisa entregar alguns presentes e matar seu ex-melhor amigo. As razões que o levam a tal ato de desespero são descritas ao longo do texto, que é rápido e acompanha os pensamentos alucinantes do rapaz. Os presentes a serem entregues são cuidadosamente embrulhados e colocados em sua mochila, junto com a arma que pertenceu a um soldado nazista morto por seu avô durante a Segunda Guerra Mundial. O primeiro a receber a lembrança é o vizinho, velho com quem assiste a filmes de Humphrey Bogart. O diálogo entre os dois é todo por meio das falas dos personagens das películas, forma que, sem querer, encontraram de abordar a realidade sem encará-la completamente. O segundo embrulho é para o colega mulçumano, exímio violinista. O terceiro vai para o professor que admira, principalmente por suas aulas sobre o Holocausto. O quarto é para a garota que conheceu na estação de metrô, e que tenta fazer com que ele aceite Jesus. Na geladeira, deixa o presente da mãe, com quem tem relação perturbada – e que parece ter esquecido seu aniversário. Com exceção de algumas cartas que aparecem no meio da trama, escritas por Leonard para seu ‘eu’ no futuro, a leitura é instigante.

Adolescentes do ensino médio que atiram nos colegas e se matam já protagonizaram várias tragédias nos Estados Unidos e, inclusive, por aqui.  Narrado em primeira pessoa, “Perdão, Leonard Peacock”, de Mattew Quick, traz o ponto de vista do atirador, o que passa em sua cabeça e como arquiteta o plano de execução. Leonard não parece ter exatamente o perfil assassino/suicida. Claramente, só está querendo chamar a atenção. Tanto que a todo momento olha o celular na esperança de ver alguma mensagem da mãe. Mais que isso, ele busca a salvação, que pode estar nas palavras e ações daqueles que ele elegeu para dizer adeus. É dessas pessoas, que são as únicas a notarem sua presença, que espera ouvir, numa linguagem clichê, que viver é bom ou, apenas 'feliz aniversário'. Só isso já pode impedi-lo de apertar o gatilho. Mas ninguém se dá conta da data e, aos poucos, o nerd -  que cita Hamlet com propriedade – vai descartando qualquer tentativa de resgate. As hora vão passando e sua determinação aumentando. Resta saber se a arma antiga vai funcionar. Leiam sem pretensão.

Humphrey Bogart e Ingrid Bergman 
em Casablanca



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