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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

can you keep a secret?


E quando você vai procurar um livro na estante e descobre que o emprestou e a pessoa nunca mais o devolveu. O que fazer? Pois este foi o destino do meu chick-lit querido ‘Can you keep a secret?’, de Sophie Kinsella. Lembrei dele hoje quando me pediram sugestões de livros engraçados.

Se tiverem interesse, é uma historinha boba, mas que vale a pena e que ajuda a preencher o tempo que gastaríamos pensando em problemas que merecem ser esquecidos. Fala de uma garota que morre de medo de avião, mas tem que driblar o pânico para uma viagem de negócios. Eis que ocorre uma turbulência e ela está convencida que vai morrer, por isso, resolve contar todos os seus segredos ao homem que está ao seu lado. Fala tudo sem pensar: suas frustrações profissionais, problemas que tem no trabalho, como burla algumas regras por lá, como finge ser a executiva de Marketing que não é, como não tem nem ideia do que fez na reunião que participou. Despeja ainda alguns segredos mais pessoais, como a dúvida se tem ou não o tal ponto G, que gosta de usar calcinha fio-dental para não marcar – apesar de ser super desconfortável – e  como lê as últimas páginas dos livros para dizer que os leu.

Tudo não teria importância se o avião tivesse caído. Ou se, pelo menos, eles tivessem se despedido com um simples olhar envergonhado e um “até nunca mais” bem explícito. Mas não. O cara é simplesmente o chefão da empresa em que trabalha. Rá! Como encarar isso? Acho que o enredo é mais ou menos por aí. Faz quase dez anos que o li. Recordo que foi numa tacada só, enquanto esperava a tinta no meu cabelo fazer efeito. No Brasil chegou com o fraco título “O segredo de Emma Corrigan”. Talvez eu deva recomprar minha edição, esta que ilustra o post ;-)

domingo, 29 de setembro de 2013

90 livros clássicos para apressadinhos

Este livro praticamente caiu em minhas mãos na livraria. Ele estava na seção errada. Provavelmente esquecido ou deixado por alguém, para minha sorte. O sueco Henrik Lange, que tem a ajuda de Thomas Wengelewski nos textos, resumiu 90 livros da literatura mundial. Cada um em apenas quatro quadrinhos. O resultado é hilário. E já adianto: spoiler, spoiler, spoiler. Não veja os quadrinhos se ainda pretende ler um dos livros 'resenhados' sem saber o fim. 

Dentre eles, '1984', 'Coração das trevas', 'Crime e Castigo', 'Drácula', 'Um apanhador no campo de centeio', 'Admirável mundo novo', 'Romeu e Julieta' e até 'O alquimista', de Paulo Coelho. Bem eclético, o ilustrador mostra que entende de literatura e ainda nos premia, de forma para lá de sucinta, com sua crítica. Sensacional. Abaixo, um pouquinho do que vocês vão encontrar. A capa traz o gato Behemoth de 'O mestre e margarida', do russo Mikhail Bulgakov. E para quem quiser arriscar, Lange e seu amigo também escreveram e ilustraram '99 filmes clássicos para apressadinhos'. Divirtam-se.


O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde.
 O livro é maravilhoso


Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez.
Há anos na minha lista, mas com todos esses nomes iguais,
 não consigo passar da metade


A vida de Pi, de Yann Martel. O filme é lindo :-)

O chato On the road, de Jack Kerouac.
Eu deveria ter visto este resumo antes de ler o livro ;-)

sábado, 28 de setembro de 2013

a vingança veste prada

Eu não li “O diabo veste prada”. Fui direto ao filme (2006) que, aliás, é muito bom. Por isso, quando vi que chegava ao Brasil “A vingança veste prada” não tive dúvida e comprei ainda no pré-lançamento a continuação da história escrita por Lauren Weisberger.

Impossível não ler o livro sem associar as personagens às atrizes que as interpretaram no cinema. Sobretudo a editora chefe da Runway, Miranda Priestly, muito bem representada por Meryl Streep. Mas desta vez ela não aparece muito. O livro foca na amizade que surge entre suas duas ex-assistentes, Ahn-dre-ah (Andy) e Emily. Antes arqui-inimigas, elas se reaproximam e criam a lucrativa revista The Plunge (da expressão take the plunge, que significa finalmente ir para o altar). A publicação é especializada em casamentos de celebridades. Desde o conceito até o papel utilizado, tudo é requintado e tem como objetivo inspirar as mortais que sonham com a grande data. 

Da antiga vida de Andy, ou melhor do primeiro livro, praticamente não sobra nada. Ela conseguiu se livrar da ex-chefe e de suas terríveis exigências com um palavrão, mas também perdeu o namorado que tanto amava (snif). Parece que deixou para trás também seus ideais e o que considerava um mundo mais justo. Passam-se oito anos e agora está noiva de Max, cobiçado solteiro de Nova York. Minutos antes de dizer o “sim”, ela encontra uma carta da mãe do rapaz pedindo que ele reconsidere o casamento e o sentimento que ainda nutre pela ex. Será que Andy vai dar meia volta e comprometer a capa da próxima edição de sua revista, que trará sua própria festa? 

A primeira metade do livro é arrastada. Traz várias passagens que poderiam ter sido suprimidas sem comprometer o enredo, principalmente descrições de lugares e excessivos detalhes de como Alex terminou com Andy, do quanto ela sofreu. De como ela voltou a falar com Emily. De como conheceu Max. De como a sogra é chata. Outro exagero é o medo exagerado que a protagonista sente só de ouvir o nome da antiga chefe. Até parece Harry Potter com “aquele-que-não-deve-ser-nomeado”. Mas a segunda parte é acelerada e até nos anima a ver o desfecho e a tal (diria ausente) vingança de grife. Não vou falar mais, pois o pouco que eu disser vai ser spoiler e estragar as raras surpresas da trama. 

Aconselho a quem não leu ou viu "O diabo veste prada" a não se aventurar nessa leitura. Até porque só faz sentindo para quem conhece o histórico das personagens. Não torço pela versão cinematográfica com Miranda Meryl Priestly Streep. Mas se vier, que seja melhor que o livro, o que não será difícil.

Capa da edição britânica
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domingo, 15 de setembro de 2013

não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo

Quer algumas dicas para segurar seu marido ou namorado? Então, consulte Myrna, mulher experiente e que sabe saciar as dúvidas de outras companheiras de gênero. 
                                                         
Esse foi o segundo pseudônimo feminino de Nelson Rodrigues. Antes, já havia incorporado Suzana Flag. 'Myrna escreve' nasceu em 1949 no Diário da Noite (RJ). Era uma espécie de consultório sentimental que respondia cartas de leitoras de todo o país. Teve vida curta, pouco menos de um ano, mas intensa, como podemos conferir em 'Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo', seleção de Caco Coelho reeditada recentemente pela Nova Fronteira. Os títulos dos 44 textos escolhidos nos dão a pista dos temas discutidos, como o que vai na capa do livro, 'Conquiste todos os dias o seu marido', 'É preciso merecer a fidelidade', 'A mulher feia deve ser quase inconquistável', 'É uma delícia o ciúme sem motivos', 'Elogio da solteirona', 'Tão difícil ser mãe!', 'A verdadeira lua de mel não acaba'. Myrna também escreveu o romance em folhetim 'A mulher que amou demais'.

Ainda não sei se as cartas eram verdadeiras ou inventadas pelo dramaturgo, jornalista e romancista conhecido por seus textos ácidos e por retratar 'a vida como ela é'. Aliás, nome de outra coluna que teve em jornal. 

As frases de Myrna são bem diretas. Não há delonga nem eufemismo na hora de apontar as falhas das mulheres no campo sentimental. Alguns homens também a procuravam na tentativa de entender suas amadas. Dentre seus principais conselhos está o cuidado diário que a mulher deve ter com sua aparência física, sobretudo diante do marido. Muitas e muitos podem considerar suas opiniões machistas. Ela se defende dizendo que o destino da mulher é sofrer, e isso é culpa exclusivamente da natureza.

O texto que mais gostei foi  'O amor que não morreu, nem morrerá', que aborda o amor insubstituível, mesmo depois da morte. Myrna comove quando diz que "o mundo conhece centenas de amores que não se realizaram e ainda assim foram imortais. É possível, assim, um amor que se aprofunde na solidão, um amor que se baste a si mesmo, que se nutra da própria força." Recente adaptação teatral, 'Myrna sou eu', deu cara à conselheira. Ainda em cartaz.

Myrna escreve:

"Uma mulher que, tendo dinheiro, vive com uma única combinação - ou duas - está se acondenando a uma triste sorte amorosa."

"Pobre menina! Acredita que uma esposa possa se conservar irredutível diante do gosto e dos pedidos ou exigências do marido. Não, não pode, Antonieta."

"A personalidade é luxo da mulher que não gosta, que não tem nenhum homem, nenhum sentimento na sua vida. Chegado o amor, tudo muda."

"Eu sei que existem mulheres irredutíveis, que jamais abdicaram. Mas essas não passam de frustradas. Tiveram um grande sentimento e fracassaram."

"Maria das Dores faz a seguinte pergunta: 'devo andar bem-vestida dentro de casa, para meu marido? Ou não precisa?' Preliminarmente, devo observar o seguinte: 'nenhuma mulher tem o direito de formular semelhante pergunta.' "

"Lembre-se: na rua, você só encontrará meros e distraídos transeuntes, ou amigas, conhecidas ou desconhecidas, que nada influem na sua felicidade. Mas, na sua copa, na sua sala, ou em qualquer dependência de sua casa, está o homem que você amou, entre milhões." É aí que Myrna pergunta para quem devemos nos arrumar, afinal.

"O fato de você ter filhos, de cozinhar e de lavar as camisas do marido não a obriga a ser desinteressante, física e espiritualmente desinteressante."

"Ora, o pior de todos os infernos - se é que existem vários infernos - é o tédio."

"A maioria absoluta das mulheres pensa que é bonita. E vive, envelhece, morre nesta ilusão."

"Os amorosos que têm confiança não são amorosos. Quem ama desconfia, sempre."

"O amor de uma mulher, quase sempre, faz mal à outra, sobretudo se esta não teve ou não tem um sentimento parecido. A coisa mais fácil e comum no mundo é uma amiga sugerir que acabemos com os nossos romances. Uma amiga é intransigente, feroz, agressiva. Opina: 'Eu não aturaria isso!' Aturaria, sim. Aturaria isso e coisas piores."

Capa da primeira edição da coletânea



domingo, 8 de setembro de 2013

maldito karma


Quer dar umas boas risadas? Então leia 'Maldito Karma', do alemão David Safier. Em seu país, o escritor também é criador de séries para a televisão. Inclusive, ganhou o German TV Awards, prêmio citado no livro. Aliás, é com esta condecoração que tudo começa.

Estamos na Alemanha e a apresentadora Kim Lange está se preparando para sua grande noite. Ela é uma das indicadas para o tal 'oscar'. Para tanto, abre mão de participar da festa de aniversário da filha de cinco anos. O remorso aparece vez ou outra, mas nada parece ser mais especial do que seu estrelato. Nem o casamento com Alex, que vai ficando para segundo plano a cada sorriso de Daniel Kohn, seu adversário de palco, por quem nutre fantasias eróticas.


O romance tem o tom das chick-lits, mesmo tendo sido escrito por um homem. Apresenta situações bem engraçadas e pensamentos esdrúxulos tendo o budismo como pano de fundo. Após passar pela maior vergonha da vida na premiação, Kim morre. O fragmento de uma estação espacial russa, em vez de se desintegrar na atmosfera, cai na sua cabeça. E como ela era uma pessoa que não hesitava em passar por cima das outras para conseguir o que queria, não acumulou bons carmas. Resultado: ao morrer, vê a luz que todos comentam, faz a retrospectiva da vida, sente-se protegida pelo universo e reencarna. Como formiga. Depois como porquinho-da-índia. Minhoca. Escaravelho-da-batata. E outros tantos bichos. Nesta jornada rumo à evolução e ao nirvana, conhece Giácomo Casanova, o mulherengo da Veneza do século XVIII, que vai ser seu comparsa na arte de reunir bons carmas e espionar sua família.

Os trechos em que conversa com Buda são hilários, como aquele em que o mestre explica que "a vida está organizada de maneira diferenciada. As almas dos fiéis cristãos são administradas por Jesus, as dos fiéis islâmicos por Maomé etc." Com Buda ficam as almas que acreditam no budismo e as que não acreditam em nada, como é o caso de Kim. Os rodapés com as divagações de Casanova também são bem divertidos. Pena que no fim o autor tenha diminuído o deboche e, com isso, nossa diversão. Ficou chato ao querer ele próprio atingir seu nirvana.

"O que era mais difícil de aceitar? Que alguém já não o ama mais? Ou que esse alguém morreu, mas sua alma está feliz no nirvana?"

Capa da edição portuguesa

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