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quarta-feira, 10 de abril de 2013

o torreão

“O Torreão” foi definido pela própria autora, Jeniffer Egan, como romance gótico. Temos duas histórias que se misturam e que, aos poucos, vão se cruzando. Realidade e fantasia também se entrelaçam por meio de personagens enigmáticos e muito, muito esquisitos. Todos com suas manias e neuroses.

Danny surge como o mais excêntrico deles. Está sempre com os lábios pintados de preto e há dezesseis anos usa a mesma bota, seu amuleto da sorte. Mas tudo o que faz parece dar errado. E após outro grande fracasso, que não fica muito evidente, aceita sem pensar o convite feito pelo primo, Howard. Seu trabalho é ajudá-lo a transformar um castelo com mais de 900 anos em hotel para pessoas que queiram fugir do entretenimento fácil e, assim, aguçar a criatividade. O destino é algum ponto entre a Alemanha e a República Tcheca. Viciado em apetrechos eletrônicos, logo se vê em crise de abstinência por estar sem sinal de telefone ou internet.

Seus passos reais no castelo se confundem com seus sonhos. Lá ele é seduzido pelo torreão, ponto inacessível do castelo e que ainda abriga a antiga moradora do local, a baronesa. Mulher que aparece como espectro e que somente Danny conseguirá alcançar. E é neste local que acontece outra queda em sua vida. Após cair, literalmente, do torreão e arrebentar a cabeça, passa a acreditar que tudo não passa do plano de vingança do primo. Na adolescência, Danny largou Howard dentro de uma caverna, trauma permanente para ambos. 

No outro plano, Ray participa de aulas de redação no presídio no qual cumpre pena. Seu crime não é desvendado pelos leitores. A atividade o envolve a ponto que começa a se confundir com os personagens que cria. Enquanto isso, seu colega de cela diz ter criado um aparelho que se conecta com os mortos. Poderia esse ser o plano de fuga de ambos? Holly, a professora, também tem seus próprios delitos e assombros. Logo, todos eles se encontrarão. 

Jeniffer usa a crítica que repetiu no seu romance seguinte, A visita cruel do tempo: os efeitos da tecnologia e como ela nos rouba o tempo e a imaginação, afinal tudo nos chega pronto e imposto. Leitura rápida, intrigante e que passa como flashes. E para quem acha que o livro, com seus fantasmas, castelos e salas de tortura, beira o sobrenatural, fica a pergunta: será que tudo não é realmente só coisa da nossa cabeça?

"A menção a telefones, ou à falta de telefones, o fez lembrar que estava fora de contato por tempo demais, talvez uma hora, àquela altura, e o fato de tanto tempo já ter passado tornava fácil imaginar quanto tempo mais ainda podia passar, e depois mais tempo ainda. E Danny sabia por experiência própria que quando alguém saía da roda era só uma questão de dias até parecer que nunca tinha existido."


2 comentários:

  1. Parece interessante. Vou acrescentá-lo a minha lista, pois comecei a ler Carne trêmula de Ruth Rendell e virou filme de Almodóvar. Vc conhece?

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