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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

do que eu falo quando eu falo de corrida

Acabei de ler 'Do que eu falo quando eu falo de corrida', do badalado escritor e maratonista japonês Haruki Murakami, que conheci por meio de sua mais recente obra, '1Q84', super recomendado.

O livro traz as memórias de Murakami sobre seus próprios esforços para vencer as metas que estabelece para suas corridas. Logo de cara ele avisa que nunca incentivou as pessoas a correrem. Se alguém tiver interesse que o faça por sua própria vontade. Afinal, ser maratonista não é para qualquer um.

Apesar de que não querer dar conselhos, é difícil não se inspirar no estilo do escritor. Tanto na função de romancista como na de corredor, percebemos que sua marca está na obstinação. Ele segue exatamente o ritual que estabelece. Sem preguiça, corre quando tem que correr e escreve quando deve. E não quando quer. Aliás, fica a dica: ele diz que sempre pensa duas vezes antes de calçar o tênis. A desculpa aparece, o importante é não dar bola para ela, ou você será eternamente seu refém.

Assim Haruki nos detalha sua rotina de treinos, como os dez quilômetros diários, seis vezes por semana, na preparação para a maratona de Nova York. Aproveita os intervalos para contar como se tornou escritor, meio que por acaso enquanto assistia a uma partida de beisebol. Saiu do estádio, comprou cadernos, canetas e pôs-se a escrever. Inscreveu o manuscrito de 'Ouça o vento cantar' num prêmio literário e continuou com suas tarefas. Na época, tinha um bar de jazz em Tóquio. Ao vencer o tal concurso, passou a dedicar-se exclusivamente ao novo ofício.

Ficar a maior parte do tempo sentado lhe deu quilos extras e barriga. Sem contar as centenas de cigarro que fumava. "Isso não pode estar me fazendo nada bem", pois para ser bom escritor ele precisava estar com o corpo e a mente saudáveis. Como nunca curtiu esportes de equipe ou aqueles que pedem vários utensílios, como o tênis, a corrida foi consequência. Principalmente para quem sempre apreciou ficar um tempo sozinho: ouvindo suas músicas preferidas, pensando em tudo e em nada - aliás, a melhor parte da corrida. Feito o trajeto inaugural, não parou mais.

"Correr tem muitas vantagens. Em primeiro lugar, você não precisa de ninguém mais para fazer isso, e não precisa de nenhum equipamento especial. Não precisa ir a nenhum lugar especial para fazê-lo. Contanto que disponha de um par de tênis de corrida e uma boa pista ou rua, pode continuar correndo enquanto sentir vontade."

Desde a primeira corrida de rua que participou, de cinco quilômetros, seu objetivo é o mesmo: nunca andar. O que não foi possível evitar uma única vez por causa das fortes cãibras. Nós estendemos, ele não. Seu rigor não permite falhas. Estreou nas maratonas fazendo o percurso inverso que deu origem à prova: Atenas até Maratona, cidade que fica a pouco menos de 42 quilômetros da capital grega. Participa de pelo menos uma por ano. Em 2005, quando começou a escrever o livro, registrava 24. Seu currículo inclui ainda uma ultramaratona no Japão: 100 quilômetros numa tacada só.

O que vale nas corridas de longa distância não é chegar em primeiro lugar. Quem corre entende perfeitamente quando ele diz que ao cruzar a linha de chegada a sensação é de dever cumprido. "Um sentimento pessoal de felicidade e alívio." Por ter aceitado e superado o desafio. Sem andar, é claro.

Trechos

"Quando comecei a correr, eu era incapaz de fazer longas distâncias. Tudo que eu conseguia era correr por cerca de vinte ou trinta minutos... Mas conforme continuei a correr, meu corpo passou a aceitar o fato de eu estava correndo, e pude gradualmente aumentar a distância."

"Meu tempo vai ser uma porcaria, de qualquer  jeito, pensei, então por que não jogar logo a toalha de uma vez? Mas abandonar a corrida era a última coisa que eu queria fazer. Eu podia me aviltar a ponto de rastejar, mas cruzaria a linha de chegada com meu próprio esforço."

"Os corredores mais comuns são motivados por um objetivo individual, mais do que qualquer outra coisa: a saber, um tempo que desejam bater. Assim que consegue bater esse tempo, um corredor vai sentir ter atingido o objetivo a que se propôs, e se não conseguir, sentirá que não o fez."

"O mesmo pode ser dito a respeito de minha profissão. Na ocupação de romancista, até onde sei, não existe isso de vencer ou perder. Talvez o número de exemplares vendidos, prêmios recebidos e elogios ds crítica sirvam como parâmetros externos para a realização literária, mas nenhum deles importa de fato. O crucial é que o que você escreve atinja os padrões que estabeleceu para si mesmo."





Minha primeira 'grande corrida':
15 km da São Silvestre 

2 comentários:

  1. Parabéns minha amiga, belo relato! Em breve sua grande corrida será sua primeira Meia Maratona e você já vai estrear muito bem, pois será a Meia Internacional de São Paulo, corrida que não pode faltar no currículo de nós, corredores.

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    1. Isso!!! E muito obrigada, Roberta, por ter me levado naquela primeira corrida. Foi assim e viciou :-)

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