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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

charlotte street

Primeiro, não confundam o autor e comediante britânico Danny Wallace com outro autor de nome parecido, como fez a moça que estava ao meu lado na livraria. “Olhe, vamos levar livros do mesmo escritor”, disse ao olhar “Charlotte Street” em minhas mãos e ao apontar o seu livro, que virou filme, “Peixe Grande - uma fábula de amor entre pai e filho”, do norte-americano Daniel Wallace. Outro ponto em comum entre os dois: Danny também já teve livro adaptado para o cinema, seu “Yes Man” ganhou as telas com Jim Carrey.

E por falar em semelhanças, o protagonista de “Charlotte Street” é Jason Priestley, homônimo do ator de Barrados no Baile, série dos anos noventa. A coincidência sempre lhe rende situações cômicas e várias explicações. Assim como o local em que mora: ao lado de um lugar que parece bordel, mas não é.

O livro tem sabor de seriado. Poderia muito bem ser desmembrado em vários episódios com locações na bela Londres. Jason é professor, mas desiste dessa profissão após o surto de um aluno. Investe na carreira de jornalista free-lancer e passa a escrever críticas num jornal gratuito, sempre positivas. Inclusive de lugares que nunca frequentou. Ao mesmo tempo, sofre com o rompimento da relação de quatro anos. Observamos sua obsessão em acompanhar a vida da ex-namorada pelo Facebook e a angústia quando ela muda o status do relacionamento para “noiva”. 

E é no meio desses choques que encontra “a garota”. Num ato de cortesia, ajuda uma desconhecida a segurar suas sacolas enquanto entra no taxi. Mas na pressa de seguir viagem, ela esquece algo nas mãos de Jason: uma máquina fotográfica descartável. 
Deixa ainda um olhar que mexe com o coração do moço. A partir daí, vai em busca da misteriosa figura. Sempre com a ajuda do seu melhor amigo, Dev, indiano fissurado por vídeo game e com quem divide o apartamento. Chegam até a relevar as fotos. Invasão de privacidade? Bem, para eles apenas uma aventura que vai dar mais sentido ao cotidiano e permitir novos encontros. Apesar de personagens com dilemas clichês, como realizar sonhos, descobrir o propósito de vida etc., o livro é indicado para quem quer leitura descontraída, rápida e de baixo impacto. Nota para o tradutor: não precisava ter convertido libras para reais no texto em português. Afinal, não dá para pagar uma bebida em Londres com R$.

"Às vezes a vida não é mágica, você entende. Às vezes, a vida é comum. É uma passada em um chaveiro na hora corrida do almoço. É o estrondo luminoso e alto de um filamento rompido de uma lâmpada. É o seu vizinho vindo avisá-lo que você esqueceu as luzes do carro acesas. Raramente é algo diferente. Talvez o olhar de uma garota na Charlotte Street, por exemplo. Quanto tempo para um olhar terminar? Por quanto tempo você pode se apoiar em um olhar?"


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

fonchito e a lua

Depois de ler o empolgante “Travessuras da menina má”, de Mario Vargas Llosa, livro que fala da paixão desenfreada de Ricardo Somocurcio por uma mulher de vários nomes, deparei-me com outra história de amor do autor. Mas desta vez voltado ao público infantil: “Fonchito e a Lua”, primeiro título do escritor peruano para as crianças.

Fonchito é um garoto que mora em Lima. Seu sonho é dar um beijo na menina mais bonita da escola, a Nereida. Timidamente, ele toma coragem e faz o pedido. Ela fica vermelha e aceita, mas com a condição de que ele lhe traga a Lua de presente. E aí? Será que essa foi a forma que Nereida, delicadamente, encontrou para dizer “não”? Na varanda de sua casa, Fonchito contempla o satélite terrestre. Até que tem uma brilhante ideia. O amor sempre tem um jeito criativo para tudo.

“... a partir desse dia começou a fazer uma coisa que nunca fazia antes, ficava um tempão, na varanda ou no terraço de sua casa, contemplando a Lua, deslumbrado. Quer dizer, quando a Lua aparecia, coisa que raramente acontece na cidade de Lima, cujo céu costuma ficar nublado durante meses a fio."


sábado, 10 de novembro de 2012

travessuras da menina má

Ricardo Somocurcio é orfão e mora com a tia num bairro bacana. A rotina o agrada e sua única ambição é morar em Paris com emprego estável, tempo para suas leituras e sossego. De certa forma alcança tudo isso. Mas com esporádicas pitadas das pimentas mais picantes.

Estamos em Lima no início da década de cinquenta. Num verão marcante de sua adolescência, ele conhece e se apaixona pela 'chilenita' Lily. Mas a jovem, que é 'peruanita', é desmascarada numa festa e some. Anos mais tarde, reaparece para Ricardito em Paris como companheira Arlette, integrante do grupo que tenta uma revolução socialista no Peru. Esse é apenas um dos reencontros do casal e mais um dos nomes da menina má, apelido que ganha por suas mentiras, fugas e por fazer sofrer o coração cheio de "breguices" do tradutor e futuro intérprete peruano.

Em "Travessuras da menina má", dinâmico romance de Mario Vargas Llosa, acompanhamos com a mesma obssessão que o protagonista os passos de Madame Robert Arnoux, Mrs. Richardson, Kuriko ou outra graça que possa surgir. Difícil explicar como nosso herói sempre a perdoa e aceita seus casamentos por interesse e fantasias. Contudo, é em sua companhia que tem os momentos mais alegres. Por outro lado, nós ganhamos uma brilhante viagem literária por Paris, Londres, Tóquio e pelo litoral peruano, além de contagiante aula de história sobre as revoluções da América Latina, França e movimento hippie. Fatos contados por meio das sinceras amizades de Ricardo, que se intercalam com as várias aparições e sumiços da menina má em mais de trinta anos. Leitura para ser feita sem intervalos e julgamentos.

"Foi só vê-la para reconhecer que, mesmo sabendo que qualquer relação com a menina má estava condenada ao fracasso, a única coisa que eu realmente desejava na vida, com a mesma paixão que outros dedicam a perseguir a fortuna, a glória, o sucesso ou o poder, era ela, com todas as suas mentiras suas confusões, seu egoísmo e seus desaparecimentos."