Páginas

terça-feira, 9 de outubro de 2012

a visita cruel do tempo

Jeniffer Egan quebra a linha do tempo, mistura os personagens e entrelaça diversas histórias a partir de Bennie Salazar e Sasha. Ele é executivo do mundo da música, ela sua assistente. Suas fraquezas e doenças são reveladas nos dois primeiros capítulos. Enquanto Sasha tenta conter sua compulsão por roubar objetos que estão à sua vista, Bennie utiliza pó de ouro no café a fim de reencontrar sua libido, perdida durante o divórcio. Seus afetos e desafetos são apresentados nos capítulos seguintes, que são como contos conectados.

“A visita cruel do tempo” nos prende com seu estilo sem começo-meio-fim. Mas mesmo assim, sempre nos dá o desfecho dos personagens. Lá pelas tantas do texto encontramos resumidamente como eles estarão no futuro. Alguns bem, outros desiludidos, outros mortos ou extremamente doentes de corpo ou alma.

Nesse trajeto, que vai desde a década de 70 até 2000 e alguma coisa (não necessariamente nessa ordem), conhecemos Lou, famoso produtor musical que coleciona mulheres e filhos; Scotty, melhor amigo de Bennie na juventude que, fracassado, o procura anos depois com um peixe nas mãos; Alex, que se envolveu com Sasha no passado; Dolly, relações públicas que aceita trabalhar para um general homicida, entre outros com suas próprias questões e libertações do tempo.

No compasso das vidas que surgem, o estilo da narração vai mudando. Ora em primeira pessoa, ora em terceira, ora na forma de viagem psicodélica. E, inclusive, por meio de apresentação em Power Point.

Talvez seja Scotty quem melhor define a essência do livro, que ganhou o prêmio Pulitzer de 2011 e a adaptação para a TV pela HBO: “Assim como todos os experimentos fracassados, esse me ensinou algo que eu não esperava: um dos ingredientes-chave da chamada experiência é a fé ilusória de que esta é especial, e de que os que dela participam são privilegiados e os excluídos estão perdendo alguma coisa.”