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segunda-feira, 9 de abril de 2012

as consolações da filosofia

Alain de Botton sabe muito bem como escrever livros que tratam de temas universais e que trazem à tona nossas preocupações e angústias, como relacionamento, religião e carreira profissional. Já falei sobre dois de seus livros: “Movimento Romântico” e “Ensaio de Amor”, indicados para aqueles que sofrem por amor.

Suíço radicado na Inglaterra, Botton é pesquisador e professor de filosofia na Universidade de Londres. Seus livros misturam romance e ensaio. Ele geralmente conta uma história, que é interrompida para a abordagem filosófica do dilema apresentado. Outro ponto constante em suas obras, e que as tornam agradáveis, é a ironia. E é exatamente isso que faz com que “As Consolações da Filosofia” tenha um gostinho de quero mais. Ela nada mais é do que um guia prático para resolver problemas por meio de alguns pensadores. Leitura fácil, rápida e descontraída. Nada profunda, porém. Pode até ser que alguém afirme que a filosofia seja banalizada em seus livros. Mas pode ser, também, que eles sejam o convite que faltava para aqueles que já ouviram algo sobre Sócrates, Sêneca ou Nietzsche e nunca tiveram a coragem de encará-los.

Tópicos de “Consolações da Filosofia” e a forma com que o autor aborda os filósofos:

Consolação para a impopularidade e Sócrates, que foi condenado à morte pelo povo de Atenas por, além de não venerar os deuses da cidade, ainda introduzir novas formas de pensamento religioso.

“Mas o filósofo não havia se curvado perante a impopularidade e a condenação do Estado. Não se retratou ou abriu mão de suas ideias por ter sido alvo de reclamações. Além do mais, sua confiança havia se originado de uma fonte mais profunda do que a impetuosidade ou bravura leonina. Ela havia sido fundada na filosofia.”

Consolação para quando não se tem dinheiro e Epicuro, apreciador dos prazeres da carne.

“Na realidade, ele nada mais fez do que, depois de uma análise racional, chegar a conclusões surpreendentes sobre o que de fato tornava a vida agradável – e, felizmente para os que não dispunham de uma boa renda, parecia que os ingredientes essenciais do prazer, por mais impalpáveis que fossem, não eram muito dispendiosos.”

Consolação para a frustração e Sêneca, que foi preceptor de Nero por cinco anos, e por ele condenado à morte. Ao ver seus amigos e esposa inconsoláveis, disse:

“Onde está sua filosofia e o que foi feito da decisão de jamais se deixarem abater diante da iminência de qualquer desgraça que, durante tantos anos, todos vêm incentivando uns aos outros a manter? Certamente ninguém ignorava que Nero era cruel. Depois de matar a mãe e o irmão, só lhe restava matar seu conselheiro e preceptor.”

Consolação para a inadequação e Montaigne, que nos compara aos animais, segundo ele, dotados de instinto muito mais apurado (e inteligente) que o nosso.

“Com suas tabuletas pintadas, Montaigne já havia delineado um tipo de filosofia que reconhecia o quanto todos nós estávamos muito longe de sermos as criaturas racionais e serenas que a grande maioria dos pensadores da Antiguidade acreditara que fôssemos. Éramos quase sempre histéricos e dementados, inquietos e vulgares; comparados conosco os animais eram, em muitos aspectos, modelos de sanidade e virtude – uma triste realidade sobre a qual a filosofia via-se obrigada a refletir, apesar de raramente o fazer.”

Consolação para um coração partido e Schopenhauer, um dos maiores pessimistas da história. Seu dilema: “o único erro inato é pensar que viemos ao mundo para sermos felizes. Enquanto insistimos neste engano, o mundo nos parece cheio de contradições.”

“Por que ele? Por que ela? Constitui um dos mistérios mais profundos do amor.”

Schopenhauer não vida nada de enigmático nesta questão. Não dispomos da liberdade de nos apaixonar por todos porque não podemos gerar filhos saudáveis com todos. Nossa vontade de viver nos leva a procurar as pessoas que irão aumentar nossas chances de gerar uma prole inteligente e bonita e nos afasta daqueles que possam diminuir estas mesmas chances. O amor nada mais é do que a manifestação consciente da descoberta do pai ou da mãe ideal apontada pela vontade de viver.”
 
Consolação para as dificuldades e Nietzsche, um dos poucos filósofos a tratar do infortúnio e do pessimismo.

“Toda a vida é difícil; o que torna algumas vidas satisfatórias é a maneira de encarar o sofrimento. Todo o infortúnio é um indício vago de algo vai mal. Reverter ou não este prognóstico depende do grau de sagacidade e de determinação daquele que sofre.”

“Eliminar toda e qualquer raiz negativa significaria simultaneamente sufocar os elementos positivos que podem brotar desta mesma raiz e florescer em galho mais alto da planta.”


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